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Teobaldo
Data de Publicação: 15 de junho de 2021 21:24:00 RELAÇÂO DE AMOR - Um cachorro inteligente e apaixonado por seu dono, o Rovilson, um sujeito um tanto quanto atrasado, mas também louco por ele.
Se alguém te faz sorrir, vale a pena ficar perto e aproveitar desse sorriso.
- As pessoas são loucas Teobaldo, disse o velho Rovilson para o seu cachorro.
Teobaldo olhou-o com curiosidade.
Não parecia compreender a frase.
Muitas que Rovilson dizia ele não entendia e olha que Teobaldo era muito inteligente.
Todo mundo dizia:
- Você tem um cachorro que é mais inteligente que muito letrado por aí.
A fama veio depois que Teobaldo salvou o dono de um afogamento no Rio das Emas.
O ribeirão era o principal manancial de abastecimento da cidadezinha de Timbíras, no norte do Paraná, onde os dois moravam desde que haviam se conhecido, embora antes disso nunca tivessem estado próximos.
Eles se encontraram quando Rovilson, moleque ainda caiu em um buraco. Teobaldo era filhote também, não tinha quatro meses ainda, mas foi quem o salvou.
Foi a primeira vez de muitas.
No dia do afogamento, Teobaldo mordeu o braço de Rovilson, segurou firme e o arrastou para fora da água em segurança.
Depois foi chamar ajuda.
As pessoas diziam:
- Se fosse o contrário, Teobaldo morria.
Rovilson sempre foi um bom tanto atrasado.
Demorou a nascer. A mãe contava que ele teve de ser retirado a fórceps. O ferro marcou a sua testa. A família achava que foi isso.
Tinha ação retardada em tudo.
Já homem feito conseguiu se formar no colégio. Os outros alunos eram pivetes perto dele. Era vítima de bullying por isso.
Pelo menos, se formou.
Os dois moravam juntos e sós na beira do Rio das Emas havia uns 12 anos.
Essa era a idade de Teobaldo.
Rovilson já passava dos 60. Cabelos brancos, fala empolada. Olhos miúdos. Ele era o tipo do homem que nasceu para viver só.
Teobaldo foi o lucro que a vida lhe deu.
Sorria com ele.
Rovilson dizia que, se alguém te faz sorrir, vale a pena ficar perto e aproveitar desse sorriso.
- Sorrir é tão difícil que a gente não pode desprezar a oportunidade, dizia.
Por isso, tinha Teobaldo como seu melhor amigo e o melhor companheiro.
Eles viviam da pesca.
Rovilson pegava uns peixes graúdos.
Vendia no mercado.
Teobaldo ajudava pegando no dente os que pulavam e tentavam voltar para o rio depois de terem sido retirados do anzol e colocados em uma cesta para o transporte.
Outra vez que Teobaldo salvou o dono foi quando Rovilson foi bulir com maribondo.
Eles vieram atrás dele em bando.
Teobaldo deu fuga ao dono e sofreu o ataque todo. Quase morreu para salvar Rovilson.
Todos esses salvamentos e a amizade que eles tinham, não permitia que Rovilson sequer pensasse em perder o amigo, mas um homem tinha dado queixa na Delegacia de Polícia de Timbíras dizendo que era dono do cachorro.
- Como pode depois de 12 anos que você vive aqui, Teobaldo, vir um cara dizer que é seu dono? O que ele fez até agora sem você? Se eu fosse dono de um cachorro inteligente como você é, eu nunca que ia sossegar enquanto não te encontrasse e te trouxesse pra perto.
Se era estranho o tempo sem procurar pelo cachorro, era mais estranho ainda o tipo do homem que procurava: era alto, forte, olhos grandes, cara assustada, usava roupa social, chique mesmo, dizia que trabalhava no Fórum.
Não era o que teria um cachorro.
E não tinha mesmo, porque Teobaldo nem o cheirava. Cachorro conhece o dono. Sabe quem o trata bem. Se tiver um dono que o trate assim até os seis meses, a memória desse dono ficará para sempre na vida do cachorro.
Só que Teobaldo só tinha Rovilson na memória. O estranho, chamado Agenor, era um estranho e só. Mas tinha documento de posse do cachorro e queria o bicho de volta.
Daí a frase desconsolada de Rovilson:
- As pessoas são loucas Teobaldo.
Ele não acreditava que aquilo fosse normal.
Seis meses depois de pedir e não receber o cachorro, a Justiça deu ganho de causa para o tal do Agenor e Teobaldo teve de ir embora.
Foi uma choradeira só.
Até Teobaldo ficou emocionado.
Quando um vizinho veio contar ao Rovilson o porquê de o tal do Agenor ter pedido o cachorro de volta, uma herança deixada para quem tivesse a posse do cachorro, ele não acreditou:
- As pessoas são loucas Teobaldo, ele disse outra vez se lembrando do amigo.
Mas era verdade.
Antes de morrer, um rico e solitário empresário de uma cidade vizinha a Timbíras havia pegado Teobaldo ainda petititico para criar e se afeiçoou tanto ao cachorro que deixou a herança para ele e ela seria gerida por quem tomasse conta do animal de papel passado.
O tal Agenor, que trabalhava na casa do empresário rico, se aproveitou disso e garantiu a posse do cachorro, mas Teobaldo nunca gostou dele e quando o novo dono foi assaltado, Teobaldo o deixou para trás com os bandidos.
Não quis salvá-lo como fazia antes.
Os bandidos mataram o tal do Agenor.
A fuga salvou Rovilson.
Teobaldo foi direto para a casa na beira do Rio das Emas e encontrou o dono de braços abertos.
O dinheiro da herança foi transferido para Rovilson, mas ele não acreditava naquilo tudo:
- As pessoas são loucas Teobaldo.
Informação complementar
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