Nos braços do povo

21 de novembro de 2020

Nos braços do povo

Data de Publicação: 21 de novembro de 2020 08:44:00 Quando se aplica corretamente o marketing político, é possível obter resultados positivos mais abrangentes e mais rápidos.

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SEM TEMPO? ENTÃO VEJA O RESUMO

O que mais se faz em administração pública é utilizar o marketing político para melhorar a imagem do eleito. Esse trabalho exige uma avaliação profunda da situação e o cumprimento à risca da autoridade.

 

 

- Podem escrever aí: eu vou terminar o meu governo nos braços do povo.

Com essa frase, o então prefeito de Sorocaba, José Crespo, se defendeu para a imprensa da queda da sua popularidade no início de 2018.

O que parece uma bravata política, sobretudo porque fora usada logo após ele voltar de uma cassação, que o tirou de ação por 43 dias, não o seria se ele nos tivesse ouvido no marketing.

Como secretário de Comunicação e Eventos do governo, meu papel era criar projetos para a reconstrução da sua imagem.

Mais do que isso, era colocar em evidência o que o governo tinha de bom, de modo que a população esquecesse o que havia de ruim.

Ações de marketing político visam dar visibilidade a projetos que melhorem a popularidade, já que a população muda muito de opinião sobre os atos do governante.

Diante da frase-bravata do prefeito e da necessidade real de melhoria da imagem dele, criei o projeto “Recupera Sorocaba”.

A ideia era envolver a população na recuperação da imagem, mas mostrando ao cidadão a preocupação com a cidade e não propriamente com o prefeito.

Isto faz parte da construção da narrativa. Você não pode trazer a solução e entregá-la à população como uma criação sua, governo.

Ela tem de surgir como a compreensão da necessidade da população, inspirada nas condições do governo e com prazo predefinido.

Tomem como exemplo uma ação de marketing político, que eu reputo como muito bem construída, que foi o programa “Minha Casa Minha Vida” do governo Lula (PT).

Havia uma necessidade de se construir mais casas, não havia dinheiro para tudo e havia o egoísmo do cidadão na linha: “Se o feijão é pouco, meu pirão primeiro” e o governo aproveitou-se dessa situação.

O marketing do ex-presidente criou um nome fantástico, que envolve o sonho e o desejo de cada um e definiu um prazo de entrega das unidades conforme a disponibilidade de caixa.

Observem que o projeto tornou a população uma parceira da proposta. Quem conseguia a casa, virava defensor do projeto. Quem não conseguia, sonhava com ele.

Ninguém ficou questionando se o governo tinha obrigação ou não de construir casa para todo mundo. Afinal, o déficit é gigantesco. A regra se tornou: “Todo mundo precisa, mas eu preciso mais. Então vou lutar para o governo me escolher primeiro e me beneficiar primeiro”.

O projeto é tão forte que resistiu até hoje e Jair Bolsonaro (sem partido) tenta pegar carona nele mudando-o de nome, mas está aí um grande patrimônio do marketing político.

Em Sorocaba, criamos o “Recupera Sorocaba”, que nada mais era do que concentrar todos os serviços de manutenção da Prefeitura em uma região só e por um período predeterminado para acostumar a população.

Dizíamos que não havia dinheiro para recuperar tudo de uma vez só. Então resolvemos fazer isso por etapas. Nossa meta era atingir a cidade toda ao longo do mandato.

Outro detalhe é que apontávamos para a correção de um problema comum: com setores independentes, a manutenção arrumava uma coisa e deixava outra, porque o setor que tapava o buraco não trocava a lâmpada queimada.

Dessa forma, criávamos o conceito de que só o “Recupera” era a solução, o que gerava ansiedade da população por recebê-lo e a certeza de que com ele seria feita uma ação melhor que esperar pelo processo tradicional.

A região atendida ficava ótima e a população assistida achava que estava sendo atendida melhor que as demais, mas as outras não achavam isso ruim: elas queriam ser próximas.

Ninguém questionava se o governo tinha de atender todos os bairros, porque era sua obrigação. O questionamento era quando e qual bairro ou região seria a próxima beneficiada.

A entrega de cada região atendida era sempre feita com festa política, com direito a discursos e a reunião de líderes políticos do local, o que dava mais força ainda para a proposta.

O resultado da ação foi um salto na popularidade do prefeito de 5,1% para 13,4% durante a realização do projeto. O “Recupera” ficou tão famoso que recebíamos visitas de cidades da região para conhecê-lo.

Se o tivéssemos continuado, a frase do prefeito não teria sido uma bravata. O problema foi que José Crespo se perdeu com uma suposta voluntária e acabou cassado de novo.  Bisonhice de quem não se preparou para o poder.

Marketing político funciona e funciona muito, mas requer firmeza de propósitos do político.

Senão, é como o remédio perfeito receitado que o doente não toma: quem salva não é só o remédio certo, mas efetivamente tomá-lo.

 

 

Fique sabendo

Todos os sábados tem um case novo neste espaço.

Imagem da Galeria Discurso na entrega de uma das edições do projeto 'Recupera Sorocaba'
Imagem da Galeria Planto uma árvore em uma das edições do projeto de marketing
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