SEM TEMPO? ENTÃO VEJA O RESUMO

Veja como preparamos um vereador que pretendia se candidatar a prefeito. O ponto crucial foi mexer na imagem que ele tinha de projetar, que era diferente da que o havia tornado popular. Construção de narrativa.

A frase que dá título a este texto é o que eu disse ao então vereador Hélio Godoy (PTB) quando ele me disse que queria ser candidato a prefeito de Sorocaba. “Se quer concorrer a esse cargo, precisa se mostrar como alguém que conhece os principais problemas da cidade e que tem soluções para eles”, reforcei.

A dificuldade é que o vereador vinha trabalhando desde a sua primeira eleição em 2004  para construir um conjunto de leis que garantissem aos inúmeros moradores de áreas irregulares o direito a um diploma legal de propriedade e foi só o que fez ao longo do tempo, recebendo inclusive o título de “pai da regularização”.

A imagem que ele projetava para os eleitores era de alguém extremamente confiável, mas para resolver esse tipo de problema, que era grave, só que apenas mais um da cidade. Ele havia se tornado mesmo um expert no assunto: recebia visitas de comitivas de outras cidades e dava palestras para explicar a jornada.

É claro que um vereador não consegue atuar em todas as principais áreas onde há problemas do município, até porque não é executor de obras. O máximo que poderia fazer é apresentar pedidos de providências e trabalhar junto ao prefeito para conseguir que elas ocorressem no tempo e na medida certa.

A tarefa de conseguir convencer o chefe do Executivo a trabalhar na mesma direção não é fácil nunca. É preciso jogo de cintura e flexibilidade do vereador para estar bem com os dois lados. Afinal, recebe pressão da população que deseja o benefício e também do prefeito, que tem de atender a maioria dos vereadores.

Até para consolidar a sua imagem como articulador do conjunto de leis que garantiram ao longo do tempo a regularização de moradias, o próprio Hélio deixou o PSDB após brigar com o prefeito do mesmo partido, Vitor Lippi, em uma sessão histórica na qual chorou emocionado da tribuna durante todo o seu discurso.

A partir da decisão dele de construir uma imagem que o cacifasse para ser candidato a prefeito, começamos a trabalhar a postura em 2011. A primeira mudança foi passar a entrar em debates que envolviam os grandes temas e isto não só em plenário, mas fazendo também audiências públicas e visitas aos locais.

Depois passei a oferecer o depoimento do vereador para a imprensa como fonte para aqueles temas mais rumorosos. Ele também iniciou a elaboração de requerimentos, indicações, ofícios e outros mecanismos para cobrar providências em todas as principais áreas. Ainda passou a apresentar projetos para elas.

Hélio Godoy se envolveu em temas como o reaproveitamento da ferrovia, cuja circulação pela cidade se limitava a dois trens diários, mas os trilhos ainda cortavam o centro. Ele trouxe representantes da empresa que operava o serviço até a Câmara para discutir como resolver aquele impasse e isto lhe deu uma mídia muito positiva.

Também se envolveu em questões de saúde, de segurança, de emprego, de educação. Mas a cereja do bolo foi quando a concessionária responsável havia errado na sinalização e até construção das marginais da Rodovia Raposo Tavares. Disse a ele: é a sua chance de ganhar repercussão até pela televisão.

A tevê não dava muita atenção à atuação dos vereadores fora das sessões ou das atividades legislativas, como comissões ou audiências, e, mesmo assim, o fazia quando o assunto era muito polêmico ou por envolver uma reclamação grande. Do contrário, se limitava às sessões ordinárias e às votações em si.

Hélio assumiu a luta pela correção das marginais, levantou os erros, os riscos a que os motoristas se colocavam, quais eram as soluções possíveis e como o Estado e a Prefeitura poderiam trabalhar conjuntamente. Eu convoquei uma coletiva em um dos pontos onde havia o erro mais grave das marginais.

Toda a imprensa foi acompanhar, inclusive a tevê. O vereador expôs todo o problema, levou mapas e mostrou com propriedade tudo o que precisava ser feito. Em paralelo, já havíamos acionado o Estado com ofícios, marcação de reuniões e apresentação de um dossiê. A Prefeitura também foi cobrada no mesmo nível.

Como tudo isso aconteceu muito perto da eleição, ele não pode ser candidato a prefeito ainda, mas acabou sendo o mais votado da cidade na reeleição para o terceiro mandato e foi convidado para ser o secretário de Habitação do novo governo, cargo que deu continuidade à estratégia para a disputa do próximo pleito.

Em 2016, Hélio Godoy concorreu à Prefeitura de Sorocaba finalmente, agora pelo PRB. Eu já não estava mais na sua consultoria. Tinha sido convidado para trabalhar na coordenação da campanha do candidato que venceu aquela eleição: José Crespo (DEM). Mas o secretário não foi para o segundo turno por pouco.

Não existe mágica: imagem se constrói com uma narrativa e com ações calculadas dentro de um planejamento estratégico. Se o candidato for inteligente, articulador e dedicado como era Hélio Godoy, as coisas ficam mais fáceis. Só que não dá para fugir da preparação de comunicação e de marketing a que o submetemos.

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