A escada

4 de fevereiro de 2021

A escada

Data de Publicação: 4 de fevereiro de 2021 19:07:00 SOBRENATURAL - Um sonho perturbador com uma escada, repetido várias vezes, levou Gualberto a se intrigar e a se prender com o mistério.

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Gualberto ficou intrigado com uma imagem que insistia em aparecer nos seus sonhos. O que ela queria dizer? Até ver que ela levava a um amigo muito querido do passado. Uma história de ligação emocional.

 

 

Havia uma escada comprida que dava para um andar superior. No alto dela apenas um vulto.

Uma longa túnica azul.

Gualberto transpirava.

Era como se sentisse as têmporas queimarem. Mas não fazia calor. O que produzia nele aquela sensação vinha de dentro.

Assemelhava-se a uma febre.

Em determinados momentos, era como uma hemorragia. O sangue ameaçava explodir o corpo.

Ele estava aos pés da escada.

O vulto o chamava para cima.

O gesto das mãos era tudo o que via.

Só que o vulto tinha uma força enorme, que o atraia. As pernas sem comando se autodirigiam.

Os olhos sem destino se fixavam no alto cada vez mais. O homem se transformara. Perdera o controle dos fatos de uma forma inesperada.

Gualberto já estava na metade da escada quando teve o primeiro surto de retorno.

Como se acordasse de volta ao mundo real.

O vulto se desfez como um pó.

 

- Acorda querido. Já está na hora de se levantar.

A voz de Eugênia era ouvida havia alguns minutos. Fora ela que o despertara do transe. Só agora Gualberto percebia a companheira.

- Sonhava com uma coisa estranha, disse.

- Que coisa?

- Tinha uma escada comprida...

 

A mulher não via significado prático ao sonho.

- Acho que você deveria procurar informações. Saber o que quer dizer. É uma maneira de ficar em paz. A gente precisa saber quando acontece isso.

- Já passou. Acho que não será preciso.

 

Mas quando anoiteceu, o sonho voltou.

Gualberto procurava descobrir agora uma explicação para aquilo. Já estava familiarizado com a cena. Tentava ver além dela.

O vulto apareceu com um rosto desta vez. Tinha formas conhecidas. Era um amigo dele talvez.

- Américo, gritou o rapaz.

O rosto sorriu compreensivo.

Gualberto subiu mais depressa a escada tentando alcançar o vulto para conversar.

Queria saber o que queria aquele amigo de tantos anos que desaparecera havia dois ou três meses e ninguém mais falava dele.

Talvez aquele sonho fosse uma forma de se comunicar com ele com quem era ligado.

Quando atingia mais da metade da longa escada, teve outro surto de retorno à realidade.

 

- Querido, está na hora. Você não vai se levantar? O relógio já despertou.

- Eugênia, por que fez isto?

- Fez o quê?

- Por que me acordou? Estava quase chegando ao meu amigo. Era um amigo de longa data, entende? Eu precisava saber o que ele ia dizer.

- A escada de novo?

- Sim.

- Que amigo era esse?

- Pois é isso o que estou te dizendo. Você me acordou na hora. Eu estava perto...

 

Ao anoitecer no outro dia, Gualberto procurava o sonho e ele não aparecia novamente.

Naquela noite nada aconteceu.

Ele dormiu como se nunca tivesse sonhado na vida. Acordou diversas vezes, mas pela preocupação em sonhar. Não conseguia sonhar.

- O que você tem Gualberto?

- Falta de sonho.

- Como assim?

- Você não entende. Queria saber o que aquele amigo queria. Você me acordou bem na hora.

 

Passaram-se vários dias com o mesmo resultado.

Ao final de um mês, Gualberto deitou-se esquecido do sonho. Dormia finalmente em paz. Era um sono profundo, relaxante.

Foi então que tudo aconteceu de novo.

O amigo no alto da escada chegou a estender as mãos para o rapaz intrigado.

Sorria muito. Os olhos brilhavam. Ele queria que Gualberto lhe desse as mãos.

O objetivo era que atingissem um orifício acima da cabeça do amigo, que não se definiu bem.

Gualberto subia inebriado.

O amigo sempre lhe fora simpático.

Finalmente Gualberto estendeu as mãos. Pouco antes de encostá-las nas do amigo, a escada se partiu. Gualberto despencou para o chão.

O amigo se desfez outra vez como pó.

Gualberto acordou no chão do quarto.

Havia caído da cama.

Eugênia não estava ao seu lado.

Ao levantar-se, ele viu a mulher sobre a cama do casal, que ainda dormia serenamente.

Ele, Gualberto, dormia ao lado da mulher.

O rapaz não entendeu nada.

 

Mais tarde, se deparou com uma foto do amigo no jornal. Ele sorria como fizera na escada durante o sonho. Estava profundamente em paz.

A notícia anunciava a morte de Américo.

 

 

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Imagem da Galeria Uma escada misteriosa perturbando os sonhos de Gualberto
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