Relação com bancos não será mais a mesma

22 de outubro de 2020

Relação com bancos não será mais a mesma

Data de Publicação: 22 de outubro de 2020 17:54:00 ARTIGO - Grandes mudanças vão ocorrer a partir de 16 de novembro com a implantação do PIX, um sistema de pagamentos instantâneos.

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SEM TEMPO? ENTÃO VEJA O RESUMO

Sistema permitirá pagamentos de compras e transferências em tempo real. Também atuará 24 horas por dia em todos os dias do ano, inclusive sábados, domingos e feriados. E será de graça para pessoas físicas.

 

 

Quando fui pagar o caldo de cana para o dono de uma velha Kombi estacionada na porta do Detran em Salto, onde moro, percebi que não tinha dinheiro: nem um tostão que fosse. Bateu um desespero, afinal de contas não havia como pagar um produto tão comum e barato e vendido por quem só aceita dinheiro.

Ao me ver angustiado, fuçando os bolsos e os compartimentos da carteira, o dono da Kombi me perguntou se estava sem dinheiro para pagar o caldo de cana. Eu disse que sim, todo envergonhado. Contei que achava que tinha uma nota de dez reais na carteira, mas não tinha ou, se tinha, ela havia desaparecido.

Ele sorriu com os poucos dentes que possuía ainda e me tranquilizou, dizendo que eu poderia pagar de outra forma, como todos fazem: com cartão. Oi, como assim? De repente, parecia que eu tinha vindo de Marte hoje e que o mundo se transformou completamente na minha ausência. Então se aceita cartão?

Ai o rapaz me explicou que fora obrigado a se atualizar para se manter no mercado, embora o seu negócio lide com um produto de pouco custo e cujas taxas dos cartões não eram convidativas. Segundo ele, onde faz ponto hoje, nas imediações do Detran, o órgão aceita muitos pagamentos por meio de cartões.

Se não aceitasse cartões, perderia clientes, porque eles vêm resolver problemas aqui no Detran e se animam a tomar um caldo de cana, mas nem sempre têm dinheiro, disse ele. Como o senhor, acrescentou rindo. Eu estava de boca aberta, pois nunca imaginei que um vendedor de caldo de cana chegasse a esse estágio.

E ele me explicou que optou por maquinhas que não cobram tarifas tão altas para poder driblar os custos, mostrando-me pelo menos quatro bandeiras nessas condições. É claro que a evolução dos meios digitais é crescente, cada vez mais abrangente e, claro, do meu conhecimento, mas o que me surpreendeu foi o local.

Se isto foi impactante para mim, imaginem como será para todos nós a implantação do PIX, sistema de pagamentos instantâneos que o Banco Central coloca em funcionamento no dia 16 de novembro e que os principais bancos tradicionais, fintechs e empresas de meios de pagamento já estão cadastrando?

O PIX promete ser uma revolução em tudo o que se sabe sobre meios de pagamento, a começar por não cobrar tarifas de pessoas físicas, funcionar ininterruptamente em todos os dias do ano e nas 24 horas de cada dia, por ser instantâneo (máximo de 10 segundos para cair na conta) e por dispensar os dados bancários.

O usuário do sistema bancário não é obrigado a entrar no PIX e poderá continuar utilizando TEDs e DOCs para transferências, mas ficará de fora de um serviço gratuito e que será cada vez mais usado, ou seja, o usuário pode recusar o PIX agora: só que será empurrado para ele rapidamente com a evolução.

Além das facilidades acima, o PIX deverá afastar os cartões e as empresas que vendem maquininhas de cartão, já que o usuário indicará o recebedor por meio de uma chave, um endereço dessa pessoa ou empresa, mas longe dos dados bancários: serão e-mail, telefone, CPF ou CNPJ ou um número aleatório gerado pelo BC.

As pessoas físicas e as jurídicas poderão gerar o QR Code para os pagamentos. Esse QR Code pode ser estático ou dinâmico. O estático terá um valor fixo e poderá ser preenchido na hora ou ficar exposto no ponto de venda. Já o dinâmico funcionará como um boleto exclusivo para um só pagamento em data específica.

Quer dizer, a chave será o endereço bancário para quem será emitido o pagamento por uma compra ou uma transferência e o QR Code o boleto ou fatura de cobrança. O sistema é totalmente seguro como são as transações bancárias hoje, havendo o sigilo dos dados como é garantido atualmente no sistema bancário.

A revolução dos meios de pagamento vai mexer principalmente com os bancos tradicionais, que detém hoje em apenas quatro deles 85% de todos os ativos financeiros do país. E já começou pela adesão ao PIX, que vem sendo liderada pelas fintechs. De acordo com o BC, Nubank é o campeão com 8 milhões de chaves.

A expectativa da consultoria alemã Roland Berger é que o mercado de adquirência (os donos das maquininhas de cartão e as bandeiras de cartão) pode deixar de arrecadar até R$ 13 bilhões por ano em receitas com a chegada do novo sistema e terão de se adaptar ao mercado com a novidade em funcionamento.

A realidade que já existe em países como a China e na Europa, o uso do smartphone como substituto da carteira, chega ao Brasil agora em novembro. Certamente, o meu amigo vendedor de caldo de cana vai gostar muito da novidade, já que ela significará menos custos para o seu negócio, o que ele persegue sempre.

Mas é preciso muita atenção dos usuários nesta reta final de cadastramento e preparação para a implantação definitiva do PIX. Já tem muitos golpistas pegando dados de incautos. Não passe os seus fora dos canais oficiais dos bancos, fintechs e empresas de meios de pagamento. Só esses são seguros.

O Brasil é o segundo país do mundo que mais sofre com ataques cibernéticos. A Bluepex, empresa especializada na área de gestão de segurança, informa que a cada 40 segundos acontece um sequestro de dados no Brasil. No primeiro trimestre de 2020, o país sofreu mais de 1,6 bilhão de tentativas de ataques cibernéticos.

 

 

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De segunda a sexta-feira tem um artigo novo neste espaço sobre política, economia ou negócios.

Imagem da Galeria Novo sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central começa em novembro
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