Estreias sem brilho na propaganda eleitoral

9 de outubro de 2020

Estreias sem brilho na propaganda eleitoral

Data de Publicação: 9 de outubro de 2020 11:18:00 Os sete candidatos a prefeito de Sorocaba mostraram as primeiras armas para a disputa, mas ainda estão tímidos em suas performances.

Compartilhe este conteúdo:

 

SEM TEMPO? ENTÃO VEJA O RESUMO

Propaganda eleitoral em Sorocaba mostrou articulações e caminhos por onde os candidatos pretendem ir. Ninguém se destacou, mas a prefeita levou pequena vantagem. Agora é corrigir erros e focar.

 

 

O primeiro dia da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão em Sorocaba mostrou estreias sem brilho dos sete candidatos a prefeito. É claro que ainda é cedo para fazer qualquer avaliação embasada, mas o primeiro dia serve para mostrar a que vieram os postulantes, ao menos neste momento inicial.

Tudo muda rapidamente, ainda mais agora que o tempo é menor ainda para a exposição e que as possibilidades de campanha também foram reduzidas com a legislação. Se os responsáveis pelas campanhas estiverem atentos e souberem o que fazer é o que se espera para os próximos programas que virão.

Neste primeiro dia, a mim me pareceu que se saiu melhor a prefeita Jaqueline Coutinho (PSL), que busca a reeleição, embora ache que falta muito ainda para o seu discurso ser convincente. Indo pelo caminho mais comum, ela buscou mostrar o que fez no seu tempo à frente do governo, desde agosto de 2019 apenas.

Acho que a exploração das suas realizações não era o mais forte a ser mostrado, até porque não teve dinheiro e nem tempo para fazer muita coisa. Se começou mostrando suas realizações e elas acabarem ou caminharem para feitos pequenos, que é o que terá para mostrar, vai acabar o gás antes do término.

O grande trunfo, a meu ver, era Jaqueline mostrar que substituiu o prefeito cassado José Crespo (DEM), a quem a população confiou a sua esperança na última eleição, e que não deixou a peteca cair, afinal o ex-prefeito gastou dinheiro demais onde não devia e deixou a Prefeitura sem caixa e sem credibilidade.

Jaqueline Coutinho não tem culpa dessa gestão desastrada que foi enterrada por uma relação pessoal do ex-prefeito com uma assessora a quem protegeu e manteve ilegalmente na administração e que o levou à cassação: ao contrário, a prefeita lutou para afastar a tal assessora e restabelecer a ordem.

Ela até mostrou muito rapidamente imagens de manchetes de jornal com denúncias sobre os erros do seu ex-companheiro de chapa, mas não foram marcantes o suficiente. É claro que não se diz aqui para ela estraçalhar a imagem do ex-prefeito, até porque ele já está fora do cenário da Prefeitura, mas é um trunfo.

De qualquer forma, me pareceu que a sua narrativa foi bem construída e apresentou uma certa força. Em uma campanha curta como essa elaboração é fundamental. Mas não gostei da imagem com terninho e um tanto quanto artificial. Candidato precisa estar no meio do povo e não apresentar povo sozinho como exemplo.

A principal oponente da prefeita, a deputada estadual Maria Lúcia Amary (PSDB), também utilizou o caminho mais fácil: o da crítica à gestão atual e por extensão à de José Crespo. O problema dessa postura é que ela precisa estar embasada em uma capacidade de gestão comprovada, que ela não tem ainda.

Dizer que vai devolver à cidade uma gestão moderna é um caminho perigoso, afinal Sorocaba não vem sendo alijada desse processo nos últimos tempos. O município avançou nas gestões do PSDB, que o governou durante 20 anos, principalmente com seu ex-marido Renato Amary, e avançou com Crespo e Jaqueline.

Na verdade, a cidade está carente de investimento na área social, como fez o ex-prefeito Vitor Lippi (PSDB). As crises econômicas têm alijado as populações mais pobres de condições mínimas. Essas pessoas perderam mais ainda agora na pandemia.  Falta essencialmente emprego, renda e assistência de saúde.

O grande trunfo que a deputada teria para mostrar é a contraposição ao ex-prefeito cassado. Em toda a sua vida pública, Maria Lúcia sempre primou pela honestidade e pela conciliação. Ela até mostrou em palavras essa trajetória, mas falta narrativa para construir a reputação necessária ao convencimento.

Falar é fácil e qualquer um fala que é honesto e que é bom. Precisa provar e ela tem elementos para isto na sua trajetória. Poderia explorar principalmente o ponto da conciliação. Um ponto fraco da atual prefeita foram as discussões com o ex-prefeito, que paralisaram a cidade e que poderia ser abordado.

Não gostei da roupa amarela, que é a cor do partido, mas que não destaca quem tem cabelo com a cor da deputada. A legenda do seu programa eleitoral também ficou pequena demais. É preciso pensar em acessibilidade e outra coisa: o programa é rápido e passa em locais públicos. Sem som, a legenda é tudo.

Candidatos com grande projeção para tentar ser a terceira via entre a prefeita e a deputada, como Rodrigo Manga (Republicanos), até atacaram essa vertente do social pela saúde, mas chutando fora do gol. Não é aumentando o horário de funcionamento dos postos de saúde que se resolve o atendimento.

O que falta são médicos e faltam porque a maioria está nas UPHs (Unidades Pré-Hospitalares), que é onde ganham mais.  Crespo já identificou no seu governo que esses profissionais têm de voltar para o atendimento básico. Mas esta é uma tarefa difícil e que exige estratégia de gestão, que ele não teve.

Outro erro de discurso é usar frases antigas e desgastadas como “eu quero ser prefeito para” ou “eu sei como fazer”, como Manga fez neste primeiro dia à exaustão. A população está cansada de ouvir esse tipo de promessa. O que o cidadão quer é ver como o político vai dar jeito e não se ele acha que sabe e pronto.

Jaqueline também abusou desse recurso de dizer que reúne as condições necessárias. Isto deve ser demonstrado pelas ações, pela desenvoltura diante dos problemas e não pela fala. Sei que é difícil para o político segurar a frase na boca quando a luzinha da câmera é ligada. Maria Lúcia também escorregou nessa fala.

Manga tem boas chances de melhorar o seu discurso limpando esses ruídos e sendo mais assertivo na fala. Gostei da apresentação em frases curtas e construídas na ordem direta. Propostas como a de ter creche para todas as crianças em um ano de governo é boa, mas precisa estar calcada em bases reais. Mostrar como vai ser.

Já Raul Marcelo (PSOL), que já foi o segundo na última eleição, e era muito aguardado para esta campanha como uma força maior, não demonstrou estar com esse gás no primeiro dia. Preferiu mostrar a família de manhã, a exemplo do que fez a prefeita, para falar bem dele mesmo, mas isto é para outro momento.

O grande trunfo do candidato, por ter sido o segundo colocado e ter perdido para o ex-prefeito, que foi cassado duas vezes por não ter maturidade para a gestão, era mostrar exatamente isto. A população escolheu Crespo naquela época e se frustrou. Ele tinha de mostrar que reunia e reúne as condições ideais.

O programa da noite foi melhor. Neste ele deixou a família de lado e falou um pouco mais da gestão do seu principal adversário em 2016, além de lançar o Plano de Ação Emergencial, um conjunto de medidas para mudar a cidade em seis meses. A população gosta dessas propostas por ter exemplos positivos.

O grande exemplo é o Poupatempo. O governo do Estado não consegue oferecer serviço de qualidade nas suas secretarias. Então o que fez? Criou um local onde tudo funciona, mas é uma célula só. De qualquer forma, fica a imagem do que funciona. O plano anunciado é uma medida que convence, mas ainda requer mais.

Gostei do tamanho da legenda do programa. Mesmo com a tevê muda se consegue entender tudo o que o candidato falou. Achei a imagem do candidato um pouco cansada para o vídeo. Raul Marcelo é jovem em relação aos principais candidatos. Precisa mostrar uma aparência mais adequada a esse perfil.

Leandro Fonseca (DEM), que é o candidato com maior tempo entre os pequenos, não disse a que veio no primeiro programa. Uma postura muito acomodada no vídeo. Não demonstra que está disposto. Faltou a indignação, propostas e dizer quem é. Carlos Péper (SDD) e Flaviano de Lima (Avante) não tiveram tempo.

Esses candidatos menores precisam se articular para serem criativos, já que não terão tempo para praticamente nada. Lembro da eleição passada que perguntei a várias pessoas em vários pontos da cidade o que sabiam dos candidatos. Crespo tinha quase todo o tempo e era lembrado por isso, mas Raul também.

Raul Marcelo tinha um tempo muito pequeno e usou da criatividade para ganhar espaço. Quando se fala em criatividade, se pensa logo em Enéas. Quem não se lembra do bordão: “Meu nome é Enéas”. Raul usou uma frase também: “Vota Raul”. Quem nunca ouviu em barzinhos: “Toca Raul”.

Usar essa frase que lembra a outra e é muito comum e conhecida entre os jovens foi importante para que lembrassem dele. Raul era candidato com mais força entre os jovens e usou isso direitinho. As pessoas que ouvi e nem sempre eram jovens e nem de Sorocaba se lembravam que tinha um candidato que dizia “Vota Raul.

É importante pensar em soluções para driblar a falta de tempo, de dinheiro e de ser conhecido o suficiente. É preciso falar ao público certo e ser marcante para todos. O primeiro dia da propaganda eleitoral não teve brilho, mas mostrou muitas apostas e erros que podem mudar o jogo da eleição até 15 de novembro.

 

 

FIQUE SABENDO

De segunda a sexta-feira tem um artigo novo neste espaço sobre política, economia ou negócios.

Imagem da Galeria Os sete candidatos que disputam a Prefeitura de Sorocaba
Compartilhe este conteúdo:

  Seja o primeiro a comentar!

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Envie seu comentário preenchendo os campos abaixo

Nome
E-mail
Localização
Comentário
 (19) 97823-9494
 contato@eloydeoliveira.com.br