SEM TEMPO? ENTÃO VEJA O RESUMO

Um bolo de aniversário que contou pontos para a campanha tinha por trás a autossabotagem do candidato. Provando despreparo para o cargo, José Crespo trocou a Prefeitura de Sorocaba por uma secretária.

No início de setembro de 2016, eu estava na equipe de coordenação da campanha de José Crespo (DEM), ex-prefeito de Sorocaba, e a então candidata a vice na chapa, Jaqueline Coutinho (PSL), fazia aniversário no dia 3.

Após uma discussão interna, chegamos à conclusão de que contaria pontos positivos se ele a surpreendesse com um bolo de aniversário. Seria durante uma das caminhadas para pedir votos pelo bairro São Guilherme, na zona norte.

Tudo foi gravado pela equipe de tevê. O programa foi ao ar no dia 7 de setembro, há exatos quatro anos. O resultado foi positivo como era esperado. Mas a estratégia de marketing eleitoral foi sabotada pelo próprio candidato.

Toda programação que fazemos em campanha precisa ser bem absorvida interna e externamente. Não basta fazer sucesso para quem assiste. Se tivermos desentendimento na equipe, isto torna o trabalho muito mais difícil.

O que José Crespo fez no episódio do bolo foi exatamente a segunda parte. Criou uma cisão na equipe, que até conseguimos segurar durante a campanha, mas acabou por derrubar o governo depois. Um líder não pode fazer isto.

Desde que conhecera Tatiane Polis, que se tornaria sua secretária quando eleito, Crespo se transformou. Ele deu a ela todos os poderes possíveis e inimagináveis. Arrogante, a moça passou a atropelar quem aparecia pela frente.

Nesse episódio do bolo de aniversário, a vítima dela foi a candidata a vice. Tatiane perguntou ao candidato o que faria com o bolo usado na gravação. Ele respondeu: Você decide. Então ela decidiu que daria um fim nele.

Só que Jaqueline Coutinho, hoje prefeita de Sorocaba, não encarou a surpresa apenas como gravação. Depois dos compromissos de campanha, perguntou do bolo. Crespo disse que Tatiane teria cuidado. Mas não havia mais bolo.

Naturalmente, a candidata a vice não gostou e, quando foi reclamar, encontrou uma assessora que se achava maior que todos os outros integrantes da campanha, o que gerou discussão e desconforto nesse dia e nos que se seguiram.

Ao colocá-la como sua secretária para substituir a brilhante Sumie Hiranobe, que atuou com nove prefeitos ininterruptamente, Crespo chocou o meio político, já que a moça não tinha as mesmas qualidades flagrantemente.

Os embates começaram a acontecer um atrás do outro. Tatiane Polis destratou secretários, vereadores, imprensa. Tive de fazer a sua defesa e ouvi dos atingidos que não a acusariam publicamente só por questões políticas.

Os desentendimentos foram superados, mas não a tensão que eles causavam. Aos poucos foi crescendo em todo o meio político uma animosidade contra a secretária. Avisado, Crespo ignorou e deu apoio a Tatiane Polis.

A arrogância dela não se limitava a quem frequentava o gabinete do prefeito. Alcançava também funcionários. Surgiu então denúncia anônima levada à vice dando conta de que Tatiane não tinha diploma para o cargo.

 A denúncia ocorreu às vésperas da primeira viagem do prefeito ao exterior. No cargo, Jaqueline questionou o diploma da secretária. Tatiane não só não aceitou o questionamento como disse que Crespo a cobraria por isso.

As investigações prosseguiram e levaram primeiro à demissão da secretária e depois à cassação do prefeito. Ele voltou 43 dias depois com liminar. Em 2018, Crespo trouxe Tatiane de volta com um termo de voluntariado ilegal.

Resultado: mais uma vez investigações em torno da iniciativa do prefeito levaram a outra cassação. Desta vez definitiva. Desde agosto de 2019, Jaqueline é a prefeita e na quinta (3) pôde comemorar o aniversário com bolo.

Estar no cargo mais alto ou na posição mais disputada é uma faca de dois gumes para qualquer ser humano. De um lado nos aguça a sensação de poder absoluto. De outro o abismo da perda inesperada e completa de tudo.

Na política, essa ameaça é uma constante e os desafiadores dela também. Mas a experiência nos ensina que chegar lá não é o mais difícil. O realmente complicado é se manter no alto, no ponto mais desejado.

Política é a arte de combinar objetivos, nunca de impor preferências pessoais. Quem não reconhece a oposição, acaba derrotado. A maior lição de tudo isto é que Crespo não estava preparado para exercer o cargo a que se propôs.

Veja a notícia do dia

https://www.youtube.com/watch?v=GHBQkDQhbSk

Fique sabendo

Todos os sábados tem um case novo neste espaço.