Você não é dono da história que conta

21 de janeiro de 2021

Você não é dono da história que conta

Data de Publicação: 21 de janeiro de 2021 19:39:00 A lição é fundamental para quem está começando, porque traz mais movimento ao que se escreve e isto atrai o leitor.

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Para dar movimento à sua história, o autor precisa entender que o que vai falar não começou com ele. Já tinha uma vida antes acontecendo ali. Se pegar desse ponto, tornará o texto mais atrativo.

 

 

Uma das lições mais importantes que aprendi na jornada para me tornar um escritor foi que nenhuma história começa com quem escreve. As histórias já existem, têm o seu curso de começo, meio e fim e somos nós, os autores, que entramos nelas a um momento.

Assim como entramos em uma história, depois de um tempo, no qual vivemos um começo, meio e fim dentro da nossa estadia lá, nós também a deixamos e seguimos o nosso caminho em outra direção e, pasmem, aquela experiência que vivemos segue sozinha.

Parece muito louco isto, mas é a verdade. Transponha a situação para um relacionamento: conhecemos alguém a um ponto da nossa vida e esse alguém já tem uma história em andamento, uma história pessoal, família, dramas, objetivos, dores, alegrias.

Nós entramos na vida dessa pessoa como alguém que entrou em um trem. Seguimos a viagem ao lado dela e nós ou ela vamos descer em algum ponto. Quando chegar a hora. Pode demorar, pode ser rápido, pode ser inesperado, pode ser inesquecível, mas vamos descer.

E quem ficar seguirá a sua história pessoal que ninguém tira. Fatalmente cruzará com outras histórias em andamento também. Nós que descemos cruzaremos com outras histórias da mesma forma. Assim a vida segue. Muitas vezes as mesmas histórias se cruzam em outro ponto.

Acontece no trabalho, na escola, em um passeio. Um dia li em um livro um personagem dizendo para outro, ao encerrar um relacionamento, que então eram estranhos novamente. Só que estranhos com memória. Por incrível que pareça, é verdade.

Ao entender essa lição, pude dar movimento às minhas histórias. A partir disso, compreendi que tudo começava em um determinado ponto, com uma memória de cada personagem. Ou seja, a história não começava comigo. Eu era apenas um narrador dos fatos que via.

Quando a gente começa a escrever, tendemos a fazer na primeira pessoa, isto é, contamos as nossas experiências. Ainda que o personagem esteja na terceira pessoa, são as nossas histórias. Isto é nítido no início da maioria dos escritores, porque é o que temos.

Tenho uma amiga escritora que relatou em seu primeiro livro a perda da virgindade de uma personagem. Como eu sabia da situação pessoal dela, por sermos amigos antigos, soube que ela falava da sua experiência. A personagem entrou ali apenas para representar alguém.

Por fazermos esse tipo de relato, perdemos um pouco a mão sobre entender que a história não começa com o autor. Quando passamos a falar da história de outras pessoas é que percebemos que essas histórias já existiam. Isto é importante para quem começa agora.

Tome como lição que o que você conta, pode até ser a sua história, mas ela precisa acontecer como se já estivesse ocorrendo antes de você começar a escrever. Assim, ela terá movimento e atrairá o leitor. Do contrário, você perderá audiência a partir da 18ª página.

 

 

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