Vírgula para escritor é arma na mão de macaco

9 de março de 2021

Vírgula para escritor é arma na mão de macaco

Data de Publicação: 9 de março de 2021 22:10:00 Um instrumento tão importante quanto perigoso, pois pode desencadear um desentendimento muito grande junto ao leitor final.

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Trata-se de um instrumento muito útil para dar clareza ao texto e para ajudar o leitor a entender mais rapidamente. Mas precisa ser bem utilizado, pois do contrário o efeito pode ser altamente danoso à compreensão.

 

 

A vírgula é um sinal de pontuação tão perigoso para o escritor que se assemelha a dar uma arma a um macaco para que tome conta.

O que quero dizer é que ela é capaz de criar uma história nova, de mudar a história existente, de provocar um conflito, de dar vitória ou derrota a um personagem, enfim de condenar ou salvar o mundo todo.

Uma vírgula muda tudo.

Por isto, a atenção sobre como ela é usada é fundamental para que o escritor se faça entender e para que não cause confusões.

Verificar a posição exata e correta das vírgulas e toda a parte gramatical, o desenvolvimento da ideia do livro e a consistência da história são atribuições de um consultor editorial.

Faço esse trabalho para escritores.

Se não quiser passar por um consultor, faça essa revisão sozinho, mas não deixe de fazer.

Um exemplo famoso da mudança de sentido é o que ocorre na frase:

– Não, espere.

– Não espere.

Se o seu personagem estivesse soterrado após um desabamento, a primeira frase poderia salvá-lo, mas a segunda o mataria.

Existem regrinhas simples para uso da vírgula que devemos utilizar para guardar na memória.

Por exemplo, em listas é possível utilizar duas formas: ponto e vírgula entre os itens ou apenas a vírgula. O ponto e vírgula deve ser empregado quando um item se desmembra em mais de um ou mais, apenas para separar um item do outro.

Outra regrinha se refere ao modo, tempo e lugar. Nestes casos o adjunto adverbial deve ser deslocado para o início da frase e a vírgula então utilizada para dar mais clareza ao texto.

Um exemplo de modo são as palavras: infelizmente, lentamente, intensamente. Exemplo de tempo: hoje, amanhã, ontem. Agora de lugar: aqui, ali, onde.

Uma regra básica é que a vírgula não existe para marcar pausas como se convencionou.

Assim como as outras pontuações, a vírgula é usada para orientar o leitor na interpretação do que está escrito e facilitar o entendimento.

Esse entendimento errado advém de uma prática antiga na qual a vírgula já foi usada para marcar pausas: aconteceu na Idade Média, quando os escritos não eram lidos em silêncio.

Usava-se o padrão da leitura em voz alta. Os sinais de pontuação, sobretudo a vírgula, surgiram de uma necessidade diferente lá.

Como se lia em voz alta, eles serviam para dar pausas que garantiam a respiração e também as entonações conforme o enredo.

Essa regra vigorou até a década de 1960 para se ter uma ideia da longevidade, o que significa ainda mais cristalização da informação.

Muito provavelmente, dependendo da sua idade, você aprendeu da forma antiga.

Por conta dessa regra, um dos erros mais gritantes e comuns em relação à pontuação é separar o sujeito do predicado com uma vírgula. Ocorre também e é apontado como erro entre o verbo e seus complementos.

Se você ler as frases em voz alta, vai ver que a pausa para respirar ocorre mesmo entre o sujeito e o predicado, mas é um erro.

Veja esses exemplos:

- As uvas, as mangas e os abacates são de época certa: não se deve comprar fora do período, pois senão estarão verdes.

- Os cinco bandidos do Morro dos Macacos assaltaram o turista no calçadão.

Se lidas em voz alta, o leitor tenderá a colocar uma vírgula após abacates e depois de macacos, mas isto separa o sujeito do predicado.

Apesar disso e para confundir o pobre do escritor iniciante, há casos em que, embora não seja o correto, alguns escritores de renome utilizaram e não foi considerado erro pelos gramáticos, perfazendo exceção à regra.

A explicação é que a pontuação tem como princípio fundamental ajudar o leitor a processar a informação mais rapidamente.

Assim, a recomendação é que os sinais sejam usados apenas nos locais em que o leitor precise ser avisado de que algo diferente está acontecendo, como quando muda a cena.

Para um esclarecimento maior, o uso da vírgula entre sujeito e predicado, nesses termos do princípio fundamental, ocorre mais quando o sujeito é oracional, ou seja, representado por uma oração subordinada substantiva.

A ideia é marcar com vírgula o fim do bloco do sujeito, que é muito grande, e com isso promover mais clareza no entendimento.

Mas escritores famosos tanto usam de um jeito quanto de outro e confundem mais.

No texto “Todos Temos Duas Almas”, do livro “O Espelho”, de Machado de Assis, em que discute a teoria da alma humana, ele coloca a frase “Quem perde uma das metades, perde naturalmente metade da existência” com vírgula, mas em “Esaú e Jacó”, penúltimo livro do escritor, em que conta a história de dois irmãos gêmeos que brigavam desde o ventre da mãe, ele usa a frase “Quem não viu aquilo não viu nada” e aqui sem a vírgula.

Durma-se com um barulho desses.

 

 

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Imagem da Galeria As dúvidas em relação ao uso da vírgula são tantas que confundem o escritor novato
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