Ao navegar neste site, você aceita os cookies que usamos para melhorar sua experiência.
Uma história de amor
Data de Publicação: 1 de outubro de 2020 18:32:00 PRECONCEITO - Nem sempre o que parece ser aos olhos de todos é o que de fato aconteceu, por isso é preciso a fundo nas questões.
SEM TEMPO? ENTÃO VEJA O RESUMO
As histórias de amor acontecem todos os dias. Não importa onde nem quem são os personagens. Nem mesmo importa se envolvem tragédias como neste caso. O fato é que o amor sempre vence.
- Se alguém souber de alguma coisa que possa impedir este casamento, que fale agora ou cale-se para sempre.
Um silêncio tradicional começava a se ensaiar após a frase do padre, mas não durou muito para ser quebrado.
- Eu tenho padre, eu tenho.
O homenzinho sem muita expressão física, mas com uma voz de locutor, disse e se encaminhou para o altar.
Puxava a perna esquerda, porque ela não dobrava, o que dificultava seu caminhar.
Todos os convidados, o padre e o casal viraram-se para ele a fim de conhecer quais eram as razões que tinha.
Mas ele não disse antes de chegar ao altar, causando uma angústia enorme.
- Quem é ele?, perguntou o noivo.
- Não faço a mínima ideia, disse a noiva.
Quando chegou finalmente ao altar, o homenzinho voltou-se para o padre:
- Rosa não pode se casar com este homem, porque não é uma mulher.
Os cochichos que todos vinham trocando enquanto ele caminhava se tornaram vozerio como se a igreja fosse um bar.
O rosto de Rosa esquentou e avermelhou-se instantaneamente.
- Este homem é um louco, disse ela.
Roberval, o noivo olhou intrigado para a noiva querendo uma explicação.
- O nome dela é Jeferson. Ela nasceu em um sítio em Porto Feliz. Nunca quis ser homem, mas o destino fez assim.
- O senhor não pode dizer essas barbaridades sobre a minha noiva.
- Posso sim, porque eu sou o companheiro do Jefferson.
Mais vozerio e a igreja já não tinha clima para continuar aquele casamento.
Ao ouvir a declaração do homenzinho, Rosa deixou o altar chorando e correndo em direção à porta de entrada da igreja.
- Explique-se, por favor, disse o padre.
De repente, ouviu-se um tiro que acertou o lustre central da igreja.
Disparado por um homem mais velho que aquele que interrompeu a cerimônia.
Este estava perto da porta de entrada da igreja.
As pessoas se abaixaram com medo. Algumas correram em direção às portas laterais. Outras tentaram se esconder atrás do altar e do próprio padre.
Acostumado a ter dificuldades com alguns dos fazendeiros da região, o padre não se intimidou com o disparo.
- Onde o senhor pensa que está seu José? Não pode atirar dentro da igreja. Olhe o que fez com o lustre?
- Veja quanto custa o lustre e eu pago, disse o homem que atirou.
- Com certeza farei isto, mas não pode atirar assim na casa de Deus...
- Cale a boca padre.
Seguiu-se um oh em uníssono dos convidados, que tinham se calado alguns minutos antes com o tiro.
- Por que o disparo?, insistiu o padre.
- Porque isto aqui estava um mercado de peixe e eu estou sem paciência.
- Olhe, isto tudo está muito confuso. Minha noiva saiu nervosa. Esse homem está dizendo bobagens. O outro atirando. Para mim chega, padre.
O noivo também deixou a igreja.
- Bom, seu padre, acho que não tenho mais nada a fazer aqui, disse o homenzinho com voz de locutor, já saindo.
- Não senhor. Quero que explique essa história. Não nos deixe sem saber.
- Já disse tudo: Rosa é Jeferson e vive comigo. Portanto, não pode se casar com outro homem. Eu não poderia deixar.
O homenzinho começou a se encaminhar para a porta por onde entrou.
- E o senhor, senhor José? Por que fez o disparo? O que tem a ver com esse casamento ou esse quase casamento?
- Padre, eu vim para atestar o que o Mané disse sobre a noiva. Conheço os dois, porque eles moram na minha fazenda. Esse noivo apareceu por lá faz um tempo e se engraçou com a noiva.
- Bem, então não teremos casamento. Todos podem se retirar, disse o padre.
O homenzinho com voz de locutor já tinha deixado a igreja e agora, com a ordem do padre, o homem que atirou foi embora.
Ninguém mais se mexeu do lugar.
Até que se ouviu um novo disparo. Depois outro. Um terceiro e um quarto.
Todos foram à porta da igreja para ver.
- Peguem esses dois, peguem, gritou o homem que havia atirado na igreja.
Os dois eram o noivo e a noiva. Eles estavam em dois cavalos que saíram em disparada. Fugiram assim que o homem que atirou na igreja deu a ordem.
Ao lado dele o homenzinho com voz de locutor estava estatelado no chão, alvejado por dois tiros no peito.
Os outros dois tiros haviam sido disparados pelo homem que deu a ordem para a perseguição, mas não atingiram ninguém nem impediram a fuga.
Vários capangas do mandante seguiram a ordem e perseguiram o casal.
- Eu não disse, seu padre. Esse noivo não é boa gente. Roubou o companheiro do meu caseiro e ainda o matou.
- Não é verdade, gritou uma mulher miúda, com pescoço comprido e fala fina.
- Quem é a senhora?, quis saber o fazendeiro que havia atirado na igreja.
- A mãe do noivo. Estou aqui para atestar que meu filho e Rosa não se juntaram quando Roberval foi a sua fazenda. Eles já eram apaixonados desde criança.
- O quê?, perguntou o fazendeiro.
- Sim, adotaram um menino até. Estava tudo certo até esse homenzinho aparecer. Ele descobriu que Rosa era transexual e ameaçou contar isso a todo mundo. Foi isto que separou o casal. Mas a Rosa nunca viveu com esse aí por vontade. Ele a manteve sob cárcere privado todo esse tempo e afastou o meu filho. Até que ele foi atrás dela e a salvou desse carrasco.
- Não acredito.
- Pois acredite. Agora, meu filho vai poder viver a sua história de amor. Roberval e Rosa serão muito felizes.
- Até serem presos, pode ter certeza.
- Veremos.
E nunca mais o casal foi visto na região.
Acredita-se que os dois estejam vivendo felizes para sempre, mas isto é um segredo.
FIQUE SABENDO
Todas as terças e quintas tem uma crônica nova neste espaço.
Seja o primeiro a comentar!
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Envie seu comentário preenchendo os campos abaixo
Nome
|
E-mail
|
Localização
|
|
Comentário
|
|