Traição

13 de maio de 2021

Traição

Data de Publicação: 13 de maio de 2021 19:12:00 A SURPRESA - Nessa história de um amor antigo, vivido em um casamento de 20 anos e com quatro filhos pequenos, tudo desaba na descoberta.

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Émerson era fiel, mas a mensagem de uma mulher do seu trabalho mudou tudo e colocou sua vida de cabeça para baixo.

 

 

- Eu não quero mais que você fique aqui Émerson, então pegue as suas coisas e saia.

A mulher estava uma pilha.

Os olhos apertados enquanto falava, o nariz escorrendo de chorar e o rosto vermelho.

- Calma, você está nervosa. Eu posso explicar. Me deixe explicar pelo menos.

- Que explicação você pode me dar?

- Não é o que você está pensando Amália.

- E o que é então? O que significa o fato de você receber mensagem de uma mulher no celular? E mensagem como aquela?

- É só uma mensagem...

Ele diz encolhendo-se enquanto fala.

- Só uma mensagem? Isto não é uma mensagem comum. Ela fala de um encontro...

- Sim, mas não é como está pensando...

- Ah, não? Amália começa a ler o texto da mensagem em voz alta: - Você estava ótimo Émerson. Eu nunca tive algo assim. Obrigada por me fazer mulher de novo. Isto aqui é o quê? O que pensei qualquer uma pensaria. Ou eu estou errada? Vamos, me diga se estou errada.

- Escute Amália, você está enganada.

- Eu sei que estou e muito enganada.

- Não é isso, pelo amor de Deus.

- Chio, não envolva Deus nisso. Ela coloca o dedo em riste quase no nariz dele. - Deus não é sujo como você. Dediquei a minha vida a você.

Amália ensaia um novo choro.

- Mas Amália.

Em seguida, ela se irrita e arregala os olhos enquanto fala, ou melhor: grita.

- Não tem mais Amália. Arrume as suas coisas. Eu não quero te ver mais aqui.

Disse e deixou o quarto do casal pisando o chão com raiva como se marchasse.

Durante longos 20 minutos, Émerson arrumou as suas coisas em uma pequena mala.
Não queria ir embora, mas não havia mais saída.

 

Um relacionamento de 20 anos, quatro filhos pequenos, toda uma história que viveram juntos se acabava ali com aquela situação.

Ele a conheceu em uma loja de roupas, onde Amália trabalhava. Desajeitado, fora comprar camisas e não se acertava. Por ser alto e magro, tinha os braços longos demais. Quando ficava boa no corpo, ficava curta nas mangas. Se servia nas mangas, ficava curta no corpo.

Amália ria da dificuldade.

- Sempre fui assim. É uma angústia danada. Eu nunca consigo a roupa certa.

- Tenha calma: eu posso te ajudar.

Ele olhou aquela mulher linda e jovem que se dispunha a ajudá-lo com tanta naturalidade, como se o conhecesse há anos.

- Ah é, como?

- Leve esta camisa que fica boa nas mangas. Eu sou costureira. Faço uma barra e ficará ótima.

- Jura?

- Sim, prometo. Olha, meu endereço é este, ela escreveu em um pedaço de papel rapidamente e o entregou a ele. - Me procure lá amanhã e estará pronta. Deixe a camisa aqui comigo já, após acertar com a loja.

 

No dia seguinte, a camisa ficara ótima.

Émerson se surpreendeu com a habilidade dela e com sua disposição para ajudá-lo.

- Ficou perfeita, disse, colocando a camisa sobre o corpo. - Quanto eu te devo Amália?

- Não deve nada. Foi só um ajuste. E eu ainda não sei se está realmente perfeita. Por que não experimenta? Aí terá certeza.

- Posso experimentar? Não sei se devo. Está muito calor. Eu transpirei caminhando.

- Não se preocupe. Eu lavo a camisa antes de te entregar. O importante é que fique bem.

- Nossa, muito obrigado, ele não sabia como agradecê-la e se sentia muito privilegiado pela atenção que ela demonstrava: - Mas eu não quero abusar. Você já foi muito gentil...

- Imagine, use o banheiro, disse apontando onde ficava o lavabo da casa.

Ao verem o resultado, ambos ficaram satisfeitos e sorriram fitando um ao outro.

- Quanto eu te devo? Eu insisto Amália.

- Não é nada, quem insiste sou eu.

- Então, aceite tomar um sorvete comigo.

Ela abriu um novo sorriso mais largo e foram.

 

De volta à sua realidade e desperto dos pensamentos de há pouco, quando relembrou como conhecera Amália, agora Émerson se dera conta de que não sabia para onde ir.

Nunca havia pensado em separação e ele sabia que Amália não era de voltar atrás.

Então tinha de arranjar um lugar.

O rapaz estava angustiado com a situação, tentando encontrar uma saída, quando o celular mostrou que chegara outra mensagem de Karina, a amiga do trabalho pivô de tudo aquilo que estava ocorrendo com ele.

Trabalhavam em uma imobiliária.

Karina era decoradora e fazia projetos para as casas que Émerson vendia.

Recém-separada, ela entrara em uma profunda depressão depois de pegar o marido com outra e ainda a outra sendo sua amiga.

Como Émerson se sentava próximo dela e acabou ouvindo a discussão que Karina tivera com o ex-marido ao telefone, ele se viu na obrigação de ampará-la naquele momento.

Por ter sido trocada, Karina começou a dizer, depois de desligar o telefone, que se achava feia, desinteressante e péssima companhia.

Émerson mostrou a ela que não.

Depois de pedir para se acalmar e levantar a cabeça, ele disse que era importante ela se valorizar para sair daquela situação e que não devia se sentir mal, pois a culpa não era dela.

- Você é uma mulher muito bonita. Nunca se esqueça disso. Foi ele quem errou, não você.

 

Karina era uma mulher alta, magra, morena e com um detalhe que chamava a atenção de Émerson: tinha os lábios carnudos, o seu fetiche.

Foram alguns meses a consolando como amigo. Ele se sentia atraído por aqueles lábios carnudos. Amália não tinha lábios assim, mas ele era fiel à mulher e não tentava seduzir Karina.

Até que houve um encontro de decoradores do qual ele participou com Karina, embora não fosse decorador como o ex-marido dela era.

Quando estava com o ex, Karina sempre ia junto com ele a esse encontro anual.

Nele sempre estavam os melhores.

No dia do encontro, o ex-marido estava lá.

Émerson foi apresentado a ele como se fosse de fato um decorador e não corretor. Logo depois Karina lhe deu dicas do que falar.

O ex-marido não parou para conversar após a apresentação, mas outros decoradores conversaram com Émerson e ele se saiu bem.

Assim que se afastou, Karina cochichou no ouvido de Émerson o que pretendia ao apresentá-lo como decorador ao ex-marido.

- Quero provocar o ciúme.

- Para que isto?

- Para me vingar ora.

- Pare com isso Karina.

- Fique comigo, ele precisa aprender.

- Karina, veja lá. Não é uma boa ideia isso. E para que quer provocar ciúme nele?

- Você não entende.

- Não mesmo. Vocês se separaram. Que sentido tem isto? Não me meta em confusão.

- Ele precisa ver o que perdeu.

A conversa cochichada acabou quando o ex-marido se aproximou novamente e foi direto, sem se preocupar com Émerson estar perto.

- Vocês estão juntos?

Karina não pensou duas vezes.

- Estamos sim, disse e puxou Émerson forçando um abraço e em seguida, quando ele cedeu e se encostou nela, ela o beijou na boca como se estivessem realmente juntos.

Emerson ficou atônito.

Ele não sabia o que fazer. Fora uma surpresa, uma incrível surpresa, porque ele já idealizara beijar aqueles lábios carnudos.

Mas era só um fetiche.

Émerson não queria magoar Amália.

Depois do evento, o rapaz levou Karina embora e, na porta de casa, ela se desculpou.

Ele aceitou as desculpas.

- Ao menos serviu para aquele cachorro perceber que ele não me faz falta, ela disse em seguida às desculpas serem aceitas.

Émerson achou melhor não discutir.

- Se você se sentiu bem, é o que importa.

Internamente, ele estava melhor que ela.

 

Émerson decidiu procurar por Karina. Pediria ajuda sobre para onde ir. Ele a ajudara quando ela precisou. Talvez ela pudesse ajudá-lo agora.

A mensagem que ela mandara agora encaminhava as coisas: ela o convidava para um café e não aceitava não como resposta.

Disse que tinha novidades para contar.

Encontraram-se em uma lanchonete perto do trabalho, já que dali seguiriam para a imobiliária.

Curiosamente, Karina estava outra pessoa.

Ele quase não a reconhecera tal era a sua felicidade, coisa que a decoradora não demonstrava havia bom tempo. Mais precisamente desde que deixara o ex-marido.

- O que aconteceu? Viu passarinho verde? Estou espantado com você.

- Melhor que isso. Vi estrelas. Era isso que queria te contar. Você foi muito amigo nesse tempo todo. Eu não podia deixar de falar.

- Imagina, eu só mostrei a você que é uma mulher bonita, inteligente e uma companhia muito boa para qualquer pessoa.

Internamente, ele pensou em citar aqueles lábios carnudos, mas achou que não devia.

- Eu sei Émerson. Você foi maravilhoso comigo ao me dizer tudo isso dia após dia. Você estava ótimo também no encontro de decoradores. Eu nunca tive algo assim. Esse é um gesto de amizade seu que eu vou levar para a vida. Obrigada mesmo, você me fez mulher de novo.

Ela repetiu a mensagem que havia enviado antes e que motivara a separação dele. Só que agora a mensagem estava em um contexto: o encontro de decoradores. Não era o que Amália pensara. Eles nunca tiveram nada.

- Não precisa agradecer. Fiz o que devia ser feito. Se você se sentiu bem, é o que importa.

- Eu me senti e estou ótima graças a você.

Émerson abriu um grande sorriso.

Ela também começou a sorrir contagiada.

- Mas e aí, o que tinha para me contar?

- Ah sim, eu queria que fosse o primeiro a saber. Ao dizer a abertura do que contaria, Karina pegou as mãos de Émerson e as segurou firme e juntas. - Eu e João voltamos. Estamos juntos de novo. Vamos recomeçar tudo.

Embora não estivesse tentando seduzi-la, a notícia deixou Émerson desanimado.

Não conseguiu esconder o desapontamento.

- Mas e a outra?, tentou disfarçar.

- Ele me disse que sentiu muito ciúme de mim com você e que ela começou a brigar com ele. Então ele percebeu que gostava de mim e não dela e disse que queria voltar a ser feliz.

- Simples assim?

- Não tanto. Na verdade, ele descobriu que ela o enganava com outro homem. Brigaram feio.

- E você o aceitou por isso?

- Eu amo esse homem Émerson.

Émerson não tinha argumentos para discutir.

Além disso, estava muito preocupado com a sua situação, que exigia mais atenção agora.

Por isso mesmo não disse a Karina que se separara e muito menos que fora por ela.

 

No dia seguinte, depois de voltar para a casa da mãe, que morava sozinha desde a morte do pai dele, única saída que lhe ocorreu após vagar por longas horas pensando no que Karina lhe dissera e na sua própria situação com Amália, Émerson se levantou disposto a buscar o resto das suas coisas na sua casa.

Amália estava furiosa com ele e não voltaria atrás, mas ele tentaria falar com ela se tivesse oportunidade, já que a noite inteira para pensar talvez a tivesse feito refletir melhor.

Quando chegou, evitou bater.

Ainda tinha a chave da porta.

Entrou de mansinho e foi direto ao quarto para falar com a ex-mulher e tentar a reconciliação explicando tudo o que ocorrera de fato em relação à mensagem de Karina.

Ao se aproximar, escutou barulho.

Abriu a porta sem bater.

Ao entrar se deparou com Amália nua em cima de um sujeito careca também nu.

Os dois pararam o que estavam fazendo enquanto ela gritou com Émerson:

- O que você está fazendo aqui?

- Eu é que pergunto: o que você está fazendo aqui com esse sujeito na nossa cama?

- Não tem nossa cama. Nada aqui é seu. Você abriu mão de tudo. Saia agora e deixe a chave.

Ela disse enquanto se vestia.

O homem careca também se vestiu.

Ao contrário de Amália, que esbravejava o tempo todo com Émerson, ele ficou em silêncio.

Desta vez foi Émerson quem não se importou com a presença do outro no cômodo.

- Você acha que eu sou idiota Amália?

- Você é sim, ela gritou jogando coisas dele que estavam em cima do criado mudo.

Émerson jogou as coisas para o lado e foi em direção à ex-mulher sem saber o que faria, mas de forma enérgica como se fosse bater nela.

Ao ver a cena, o homem careca sacou uma arma e a apontou para Émerson.

- Você não ouviu o que o meu bombonzinho disse? Desapareça daqui. Você já nos atrapalhou demais e eu não estou com paciência.

Sem demonstrar medo da arma, Émerson retrucou com o estranho:

- Há quanto tempo estão juntos?

- Há três anos, disse o careca.

Emerson não disse uma palavra mais. Virou-se e apanhou o que viera buscar de cabeça baixa sem olhar para os lados e saiu.

Antes de deixar a casa, como se quisesse avisar que estava indo, já que nenhum dos dois o acompanhara à saída, ele bateu a porta de entrada com bastante força e ódio.

Depois de andar alguns metros, olhou para trás desolado com tudo o que vivera ali e viu: na entrada do jardim havia uma pequena placa onde estava escrito: “Doce lar, seja bem-vindo”.

 

 

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Imagem da Galeria Um lar é doce lar quando a paz reina nele, mas isto é impossível com traições
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