Como tornar qualquer assunto engraçado e divertido? O stand-up tem esse papel. Os textos feitos para esse tipo de uso são mais leves e mais atraentes. Hoje mostro um tipo de conto que vem sendo bastante aplicado nos palcos vida afora.

Fazer aniversário é estranho, né? Pensa: você arranja um bolo enorme, que, às vezes, vai até te fazer mal por causa da tua idade e pra quê? Pra comemorar mais um ano de vida?

Ninguém chega pra você e fala: “Cara, o carro que você acabou de tirar da concessionária é lindo, mas não é nada perto do meu. Com um ano de uso a mais que o seu, o meu ta ó, tinindo”. Não, né?

Ficar mais velho não é coisa pra comemorar.

Tem gente que fala que a idade amadurece. Você fica mais responsável. Tem mais controle de tudo.

Mentira.

Meu avô fazia xixi na calça. Minha avó não sabia nem onde estava, coitada.

A verdade é que quanto mais velho você fica menos tem motivos para fazer festa.

Você não pode beber por causa dos remédios. Não pode comer doce por causa do diabetes. Os outros falam e você não escuta. Além disso, tem de voltar logo, porque velho dorme cedo.

Vai comemorar o quê?

Um amigo meu disse todo feliz: “Agora, posso beber cerveja à vontade”. “Verdade?”, perguntei. “Mas como? E os remédios?” E ele todo pimpão: “É cerveja sem álcool”.

Cara, tomar cerveja sem álcool é como ir à Festa do Cabide de terno.

Aliás, falando de coisa proibida ou coisa gostosa (normalmente uma tem a ver com a outra), estava pensando em como era bom quando eu não tinha idade ainda e tudo era proibido.

Quando não pode, você imagina.

Ô imaginação fértil que eu tinha.

Depois, também a gente invadia.

Nem que visse só um pedaço, nem que ouvisse só uma palavra, nem que tocasse só no canto, era muito bom.

Uma espécie de conquista, de aventura, de vitória.

Hoje não tem nada proibido e eu também já não pulo muros.

Eu sou do tempo em que não se permitia entrar no cinema em filme proibido para menores.

Eu entrava, mas era proibido.

Outra coisa que não rola em aniversário depois de uma certa idade são os presentes.

Vocês já viram os presentes que velho ganha?

A bíblia falada por Cid Moreira. Um estojo completo para fazer barba. Um pijaminha amarelo que gruda no corpo.

O pior é quando te dão um joguinho pra computador.

Ebaaaaaa.

Você se sente moderno.

Até que enfim perceberam que velho também curte internet, facebook, twitter e até instagran.

Mas aí você coloca o jogo e é o Super Mário.

Melhor fez um parente uma vez que me deu 50 reais e disse:

- “Velho, compra o que você quiser, porque eu tô sem ideia”.

Também não dá para comemorar aniversário depois de uma certa idade porque ninguém te ouve.

Já repararam como velho sobra?

Uma amiga começou a conversar com a filha na própria festa de aniversário e a filha nem percebeu.

Uma convidada viu e comentou baixinho:

- “Nossa, coitada da velhinha, já tá falando sozinha”.

Tá mesmo: ninguém quer ouvir.

Os mais jovens dizem que não gostam de conversar com velho, porque velho repete muito as mesmas histórias.

Em casa, para evitar isso, fiz um combinado: quando eu contar a mesma história, eles devem dizer “Essa história é longa demais”.

Assim, quem não sabe do combinado não percebe que é repetição e o velho aqui não passa vergonha.

Sabem o que aconteceu depois disso?

Todas as minhas histórias ficaram longas demais.

Anote isto

Encerro no próximo final de semana o projeto "Contos de Domingo", que visou mostrar neste espaço a cada edição, desde o início de janeiro, que um mesmo autor pode escrever histórias sob qualquer ótica. Trouxe aqui um conto novo com uma abordagem também nova em todos esses domingos (veja o conjunto já publicado no link https://eloydeoliveira.com.br/senta-que-eu-vou-te-contar-historias-contos-de-domingo). Hoje a história traz a linguagem do stand-up. São frases curtas sempre buscando a piada.