Que bom, eu falo mandarim!

14 de novembro de 2020

Que bom, eu falo mandarim!

Data de Publicação: 14 de novembro de 2020 10:38:00 Vejam a mágica que usei para fazer sozinho um caderno inteiro de aniversário de Sorocaba para a Gazeta em apenas três dias.

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SEM TEMPO? ENTÃO VEJA O RESUMO

Fui provocado a fazer um caderno especial de aniversário de Sorocaba sozinho em apenas três dias. Ralei, mas consegui graças a uma solução mágica. Desafios fazem parte da minha cartilha na vida profissional.

 

 

- Você tem até sexta-feira, portanto daqui a dois dias, para terminar um caderno especial sobre Sorocaba. Já vendemos a publicidade e não podemos recuar da realização dessa publicação.

A advertência me foi dada pela editora-chefe do caderno regional da Gazeta Mercantil, o Planalto Paulista, Ana Carolina Silveira, a Carol, e ela tinha um peso de responsabilidade ainda maior, porque eu não tinha sequer pensado sobre o que escrever.

O caderno especial comemoraria o aniversário da cidade.

Eu era correspondente da Gazeta na região de Sorocaba no final da década de 90 e a incumbência só poderia caber a mim, mas o problema era a exiguidade do tempo para a realização.

Lembro-me que foi um momento difícil.

Eu não queria decepcionar a minha editora, mas também não tinha como produzir um caderno falando de empresas, portanto entrevistando executivos, sem ter tempo para marcar as entrevistas, ouvi-los e por fim redigir o que conseguisse.

Empresários ou CEOs são pessoas ocupadas, com agendas cheias. Não haveria disponibilidade de vários segmentos ao mesmo tempo, ainda que houvesse boa vontade deles e faltava o tema.

Fui para Sorocaba após a reunião em Campinas, onde ficava a sede regional do caderno, de olhos arregalados como se eles refletissem as minhas preocupações e angústias, feito luzes de alarme vermelhas piscantes e enormes.

No caminho tive uma ideia sobre o tema: multinacionais vinham transferindo para Sorocaba as sedes nacionais e até para a América Latina. Isto ocorria devido às boas condições das estradas entre Sorocaba e São Paulo, o aeroporto local e a proximidade com o de Campinas e ainda a existência de um porto seco em Sorocaba.

A administração do então prefeito Renato Amary (à época no PSDB) também era um diferencial: ele era muito desenvolvimentista e tinha melhorado as condições da cidade.

Havia observado o movimento das multinacionais em conversas com CEOs de multinacionais e tinha anotado para fazer uma reportagem oportunamente, já que demandaria muito tempo.

O tema era ótimo, mas o tempo para realizá-lo impraticável.

Tinha de achar uma solução mágica.

Como ponto de partida para a realização, fui à Prefeitura para conversar com o então secretário de Desenvolvimento Econômico de Renato Amary, Cláudio Cutri Robles, a fim de checar se a informação que eu tinha colhido sobre as transferências era real de fato ou apenas uma impressão e também para pedir uma luz.

Empresário, pessoa muito bem relacionada no meio e um excelente amigo, Robles me ajudou de pronto.

- Sim, essa é uma tendência que nós também temos observado e, se você abordar esse tema, será muito bom para a cidade.

- O problema, meu amigo, é o tempo. Como fazer tantas entrevistas em tão pouco tempo e com tanta gente sem tempo?

- É verdade: te deram um abacaxi.

- Não sei o que fazer. Talvez consiga entrevistar alguns empresários, mas não para um caderno inteiro. Bem, vou tentar.

- E se eu fizesse uma convocação aqui para a Prefeitura?

- Como assim?

- Não sei. Se eu dissesse que preciso de uma reunião de emergência aqui. Acho que teríamos um quórum bom.

- Não, não dá para fazer isto. Eles ficariam irritados quando soubessem que não era o que disse. Eu seria mais prejudicado.

- Você tem razão.

- Mas você me deu uma ideia.

- Qual?

- Por que não convida a todos e diz que é para divulgar na Gazeta Mercantil, em um caderno de aniversário da cidade, essa mudança de postura das multinacionais, que estão valorizando Sorocaba?

- Claro, posso fazer. Vou começar agora mesmo. Conte comigo.

- Falar a verdade é sempre o melhor negócio.

O meu amigo secretário conseguiu o que nem eu nem ele imaginávamos. Acho que foi a soma do prestígio que ele e o governo de Renato Amary tinham com o renome da Gazeta.

Ele conseguiu reunir na Prefeitura, na quinta-feira à tarde, um dia depois, portanto, as dez principais multinacionais de vários segmentos que haviam feito a transferência para Sorocaba.

Todos os CEOs estavam lá à minha disposição. Ficaram batendo papo em uma sala ao lado enquanto eu entrevistava um a um. Eram executivos de diversos segmentos. O problema era a língua. Havia chineses, alemães, ingleses, italianos, franceses.

Eu disse, em tom de brincadeira, ainda bem que falo mandarim.

Um dos executivos chineses presentes disse na língua: - Que bom, eu falo mandarim!, o que me foi traduzido por Robles.

Todos rimos e o secretário e eu explicamos o problema da língua, mas conseguimos driblar essa questão com mais ajuda.

E foi assim que consegui fazer um caderno especial de aniversário de Sorocaba em apenas três dias em agosto de 1999, entrevistando representantes das dez maiores multinacionais de Sorocaba que haviam escolhido a cidade para instalar suas sedes para a América Latina, e o caderno foi um sucesso.

Tudo é possível quando se tem amigos.

 

 

Fique sabendo

Todos os sábados tem um case novo neste espaço.

Imagem da Galeria O ex-secretário Cláudio Cutri Robles, de Desenvolvimento Econômico de Sorocaba
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