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Poeta do ônibus
Data de Publicação: 20 de julho de 2021 18:41:00 SENSIBILIDADE - Durante algum tempo distribui poesias escritas à mão e em papel comum para as pessoas que usavam ônibus da Nardelli em Salto.
Os caminhos da literatura são os mais diversos, mas inegavelmente o principal deles é pela emoção.
No final da década de 70, estive em uma redação de jornal pela primeira vez. Após vencer um concurso de redação no colégio, fui levado até “O Trabalhador”, em Salto, para pedir a publicação. Não consegui, mas abri um espaço importante.
Passei a colaborar com os textos que escrevia.
Na época, eram poesias, crônicas, contos.
Com o tempo, parti para as reportagens, o que me deu a certeza de que queria mesmo ser jornalista.
Mas só em 1985 realizei esse sonho.
Enquanto ainda estudava integrei o departamento de cobrança e de captação de anúncios do jornal.
Fui contratado por conta da característica de falar muito.
Foi providencial, pois precisava de um ganho para manter a faculdade.
A vida era muito difícil naquela época.
Não tinha carro.
Por isto, transpunha as distâncias para esse trabalho nos ônibus da Nardelli ou a pé.
Mesmo assim, gostava da atividade por desenvolver a minha capacidade de argumentação.
Nesse período, Sidnei Belchior, um amigo dos tempos de ensino fundamental, que depois se tornaria bombeiro, veio trabalhar comigo.
Ele se dizia um admirador dos meus textos, principalmente das poesias.
Não só isto: ele as usava em seu proveito.
Copiava cada texto novo, decorava-o e recitava-o para as meninas dos ônibus.
Quando a paquera dava resultado, ele contava que o texto era meu.
Fizemos diversas amizades assim.
Eu me tornei conhecido como o poeta do ônibus.
Para mim, mais que o galanteio feito às meninas, o fato de aquelas pessoas levarem um texto meu para casa valia muito.
Gosto de poesia desde criança, mas não a poesia como arte só e sim como uma forma de expressão.
Um jeito de falar diferente de todos os outros.
Um jeito mais forte, mais profundo.
A demonstração viva de um coração apaixonado ou amargurado.
A bandeira de luta por uma causa.
Enfim, uma língua.
Compartilhar isto era fantástico.
Ainda mais pela forma de produção que fui obrigado a adotar. Por não ter recursos, escrevia à mão. Usava papéis já usados.
Quem levava embora, realmente o fazia porque queria.
Tive confirmação disso após algum tempo distribuindo um texto novo por vez.
Um dia algumas pessoas, imitando o Sidnei, passaram a recitar dentro do ônibus o que eu tinha escrito.
Um dos poemas que mais foram repetidos foi “Dúvidas”, no qual retratava uma desilusão amorosa.
Continuei distribuindo poesias até na faculdade.
Hoje eu faço isso pelas redes sociais.
Informação complementar
Toda terça-feira você encontrará uma crônica nova neste espaço.
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