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Olhos azuis
Data de Publicação: 15 de setembro de 2020 19:00:00 ENCANTAMENTO - Ninguém manda ou define quem é a pessoa certa no momento certo: tudo depende do momento e do lugar.
SEM TEMPO? ENTÃO VEJA O RESUMO
Mayla conheceu um amor que a encantou e achou que seria para sempre. Mas quando se é atraente, inteligente e interessante como ela, tudo pode mudar. Então, ela descobriu que mãe sempre sabe o que fala.
- Com esses olhos azuis e esse cabelo dourado, ele é lindo demais.
- Todo homem loiro e de olhos azuis é lindo para você, não é mãe?
- E não são mesmo lindos? Na Alemanha, são todos desse jeito. Você deveria casar-se com um homem assim Mayla, diz Leona, uma dama da sociedade catarinense que não é adepta da mistura de raças do Brasil, apontando para o modelo na foto da fachada da loja do shopping.
- Mãe, eu não sou alemã.
- Mas é descendente. Eu adoraria ter netinhos loiros e de olhos azuis. Desejo de avó é sério. Precisa ser atendido, viu?
- Rsrsrsrs. Ah é? Senão o que acontece?
- Maldição, a velha Leona engrossa e dá tom de terror à voz e aos gestos.
As duas riem da sonoplastia e da encenação forçadas enquanto entram para comprar a camisa que será presente para o irmão de Mayla dali três dias, no domingo.
Apesar das preferências da mãe, Mayla nunca pensou com desejo em um homem loiro e de olhos azuis e nem nunca se aproximou de um, apesar de Blumenau estar repleta deles.
A falta de interesse nunca a fez prestar atenção em nenhum desses homens.
Talvez pelo grande número, eles se tornaram paisagem para ela nos seus passeios.
São bonitos, ela conclui mentalmente, mas não são capazes de provocar aquele calor que sobe da cintura e vai afoguear o rosto.
Ao lembrar da conclusão depois de levar a mãe em casa e se dirigir ao trabalho na agência de publicidade, ela deixa a cabeça viajar.
Na verdade, conclui, não vinha conhecendo ninguém havia um bom tempo já.
Desde o fim do último relacionamento, não engatara mais nenhum como era de hábito.
Queria dar um tempo na cabeça mesmo.
Relacionamentos sempre exigem muito da gente, ela justifica para si mesma.
- Mayla, você vai com a gente para Camboriú na sexta à noite? É bate e volta. Vamos vai?
- Não sei Manuela. Meu irmão vai fazer aniversário no domingo.
- É só domingo. Dá tempo. Vamos na sexta e voltamos no sábado à noite. Terá o domingo todo para curtir o níver do seu irmão.
- Eu sei, mas tenho de ajudar minha mãe a preparar a festa e ela não tem outra pessoa.
- Puxa vida, será tão gostoso. Vão todos os gatos da agência. Você vai perder?
- Gatos? Que gatos? Aqui só tem dragão. Só se vierem gatos de fora.
- Talvez venham.
- Como assim?
- Ah, o Emanuel é quem está organizando. Como algumas pessoas, como uma certa figura chamada Mayla não topam, ele chamou gente de outros setores. Por isso talvez venham.
- Mesmo assim Manu. Está difícil de ver um homem bonito aqui. Acho que sou eu que não estou aberta para isso. Para homens.
- O que é um homem bonito para você?
- Sei lá. Um homem moreno, grande, forte, de barba bem feita, cabelos penteados para trás, alguma cicatriz, um meio sorriso, cara de mau.
- Nossa, você é incrível.
- Ué, eu me sentiria atraída por um homem assim e se conversar bem e usar farda então.
As duas riram das observações.
No dia seguinte, Mayla decidiu acompanhar a turma da agência para a praia.
Conversou com a mãe e acertaram os detalhes que faltavam para a festa.
Ao todo 23 funcionários da agência e convidados do Emanuel foram para Camboriú.
Mayla vestia um biquini verde de laço com bolinhas brancas quando encontrou a turma.
As peças valorizaram muito o seu corpo torneado, esculpido nos treinos de academia, com um toque de sensualidade que culminou com os óculos Dior de lentes arredondadas.
Ao vê-la, Luiz Miguel ficou encantado.
Ele conversava com outras pessoas que tinham vindo de Floripa como ele e perdeu o fio da meada do que falava, repetindo a mesma palavra sem avançar na conversa.
- O que foi Luiz?
- Quem é essa miss cara?
- Não sei, mas é da agência do Emanuel.
Mayla também ficou hipnotizada com ele.
Alto, forte, com barba, cabelos levemente ondulados e castanhos escuros, penteados para trás, e sobrancelhas em vê, Luiz trazia uma pequena cicatriz no lado esquerdo do rosto.
- Olá, tudo bem com você? Eu sou Luiz Miguel e esse é meu amigo Ronny.
- Oi, eu sou Mayla e esta é minha amiga Manu. Vocês são de Floripa?
- Sim, o Emanuel fez o convite para o passeio. Nós fazemos a representação da agência lá.
- Que legal. Floripa é um assombro. Gosto da cidade. Vocês devem gostar mais ainda, não é?
- Por quê?
- Porque Floripa já foi considerada a cidade com pessoas mais bonitas do mundo.
- Humm, isto é um elogio?, Luiz completou a frase com um meio sorriso.
- Se é confete que você quer, foi sim.
Mayla estava empolgada com o sorriso dele.
- Uau, ganhei o dia. Receber um elogio de alguém tão importante não tem preço.
- Importante eu, imagina. Sou apenas uma gestora de contas. Simplezinha, ela estica a palavra para dar mais credibilidade.
Todos riem da observação.
- Você trabalha na agência de Floripa há muito tempo Luiz?
- Não faz muito não. Estou dando um tempo só. É que vou entrar para a polícia.
- Polícia?
- É, eu amo ser policial. Meu pai se aposentou como sargento. Quero seguir carreira.
- Eu gosto muito também da carreira. Meu irmão é policial. Tenho outros parentes ainda.
- Vamos dar uma volta na praia?
- Vamos.
Os dois deixam o grupo e caminham ao luar.
A conversa segue fluente.
- Parece que seu amigo conquistou a Mayla.
- Será Manu? O Luiz é metido a boa pinta. Gosta de impressionar. Sei lá.
- Pode ter certeza de que sim. Ele tem o perfil que ela adora. E a Mayla está sozinha agora.
Luiz Miguel se senta ao lado de Mayla na areia, longe de todos do grupo e de também de outros frequentadores da praia.
Depois de conversarem bastante na caminhada que fizeram e ali sentados na areia, Luiz não espera mais para beijá-la.
Mayla aceita o beijo e sente um arrepio por dentro. Já estava encantada com o que ele dizia e com tudo que mostrara, mas o beijo foi o toque final. Depois do primeiro, se seguiram vários outros e os dois se deitaram na areia e rolaram se beijando e se tocando.
Não deu para segurar mais e as roupas foram retiradas como se fossem uma troca de pele. Parecia que eles saíam delas renascidos.
Se Mayla havia adorado o beijo, a transa então a deixou completamente apaixonada.
Assim que se deitaram um ao lado do outro exaustos depois do amor, eles conversaram sobre tantas outras coisas que ela não sabia mais nem onde estava ou que horas eram.
A madrugada se seguiu e outras transas também. Por fim, os dois dormiram de conchinha ainda ligados como terminaram.
De volta a Blumenau, Mayla não via a hora de contar para a mãe sobre a sua descoberta, mas dona Leona não se empolgou com a descrição.
- Prefiro um loiro de olhos azuis, lembra?
- Mãe, essas coisas não são assim. O Luiz me deixou doida. Eu nunca ia pensar se ele é loiro.
A partir do encontro na praia, Mayla e Luiz Miguel passaram a se ver nos finais de semana.
Em alguns meses já falavam até de casamento. Ao menos ela falava. Ele era mais reservado. Mudava de assunto.
Mayla achou que ele estava com medo de perder a vida de solteiro e as azarações. Mas se ele gostava dela, tinha de desistir disso mesmo.
- Eu não acho que ele queira se casar não. O cara é gato. Tá mais a fim de curtir.
- Mas eu não sou dessas Manu.
A pressão levou Luiz Miguel a faltar alguns fins de semana. Quando ele não vinha, dava uma desculpa qualquer. Ela não gostava.
- Não fique brava meu amorzinho. Não vou poder ir este final de semana, mas vou no outro.
- Por que não virá?
- São compromissos do trabalho.
Maldição, ela pensou.
Mayla enxugava as lágrimas quando Emanuel apareceu com aquele homem.
- Mayla, tudo bem?
- Tudo sim Emanuel. É só um cisco que caiu no meu olho. O que aconteceu?
- Nada, eu só queria te apresentar o Léo.
- Olá Léo, tudo bem com você?
- Tudo sim Mayla. Quero que saiba que terei muito prazer em trabalhar com você.
- Trabalhar comigo? Como assim?
- O Léo vai dar um suporte para nós aqui sobre como fazer as contas crescerem. Você será a primeira. Por isso vim te apresentar.
Léo era alto, forte, de barba, cabelos curtos lisos e loiros. Os olhos profundamente azuis. Queixo quadrado, mãos grandes.
- Minha mãe ia adorar, Mayla disse em voz baixa ao notar os detalhes do rapaz.
Uns dez anos mais velho que ela, ele falava com conhecimento das coisas.
De repente, Mayla estava comparando Léo e o namorado Luiz Miguel. Com exceção do beijo e da transa, que ela não sabia como eram, Léo levava boa vantagem sobre o outro.
Que loucura estou fazendo, pensou. Não existe isso de comparar ninguém. Léo é apenas um colega de trabalho. Não vou sair com ele.
- Não vai?, perguntou Manu ao comentarem a respeito do novo funcionário.
- Claro que não Manu.
- Eu espero que sua resposta não seja não, disse Léo entrando na conversa delas.
- O quê?, perguntou Mayla.
- Ouvi você dizendo claro que não para a Manu. Eu disse que espero que sua resposta não seja não para o trabalho que teremos de fazer domingo. Se disser, vai me quebrar.
- Que trabalho?
- Vamos fazer uma ação no shopping domingo e preciso que esteja comigo.
Mayla não gostou do atrevimento dele, mas concordou por causa do trabalho e também porque Luiz Miguel não viria.
Domingo, Léo apareceu de bermuda e camisa, totalmente diferente do que havia mostrado na quinta e sexta-feira e estava sorridente.
Mayla gostou do sorriso dele.
Nunca tinha olhado com interesse para nenhum loiro, mas sua mãe falava tanto que resolveu olhar para ver o que loiro tinha.
Ela adorava cicatrizes.
Achava elas são fruto de momentos violentos, o que dava um certo charme ao homem.
Homens másculos são homens firmes.
Enfrentam o que tiver de enfrentar.
As explicações já tinham sido assunto das conversas com Manu, que adorava saber os gostos da amiga, a quem admirava.
O loiro tinha uma cicatriz também no queixo.
- O que foi isso?
- É uma longa história, mas resumindo foi um ataque de uma onça. Eu morava no interior de São Paulo e apareceu uma onça por lá. Eu estava saindo na rua na hora. A bicha pulou para cima de mim. Tive de lutar com ela. No meio da briga, ela me deu uma patada no queixo. Minha sorte foi que estavam atrás dela e atiraram um dardo de anestésico nesse momento. Ela dormiu.
- Nossa que história. Você deve odiar bichos então? Você é de onde?
- Sou de Salto, uma cidadezinha do interior de São Paulo. Não odeio não. Ao contrário, tinha dois cachorros quando morava lá. Eram um Beagle e um Golden. Lico e Bico.
- Que gracinha.
Mayla adorou saber que ele gostava de animais. Ela dizia para Manu: se um homem cuida de animais, pode cuidar de uma mulher.
As duas sempre riam disso.
No meio da atividade da agência no shopping, Mayla ligou para Luiz Miguel e ele gaguejou.
Havia música alta ao fundo.
- Onde você está?
- Estou no trabalho amor.
- E essa música alta?
- Música? Que música? Ah, é o vizinho aqui. Abaixa, abaixa, ele dizia baixinho.
Irritada, Mayla desligou na cara dele.
Quando acabou a programação da agência e devido aos dois dias em que ficaram o tempo todo juntos, Léo e Mayla já estavam bastante próximos e ela já o via com simpatia.
Ainda mais com a irritação que estava com o namorado. Era como se fosse uma compensação. Olhava para Léo e gostava.
O colega de trabalho a convidou para tomar um sorvete com ele, mas não ali no shopping e sim na praça perto do hotel onde estava.
- Não sei Léo.
- Ah que custa? Quero te mostrar as fotos do Lico e Bico. Vamos vai?
- Está bem: vamos.
Mayla acabou deixando um pouco de sorvete cair no seu braço. Léo passou a mão sobre o sorvete e limpou em seguida com um guardanapo. Foi um gesto delicado.
- Vamos ver as fotos?
- No seu apartamento?
- É, estão lá.
- Não sei.
- Puxa, está com medo de mim? Não vou te atacar não. Nunca faria nada que não quisesse.
No quarto de hotel, Mayla riu muito das fotos. Os cachorros eram brincalhões pelo jeito.
- Adoro o seu sorriso, ele disse sério.
Ela ficou sem jeito.
Léo se aproximou e a beijou sem que ela tivesse tempo de evitar ou dizer alguma coisa. Mas ao sentir, Mayla correspondeu.
O beijo dele era melhor que o de Luiz Miguel.
Nossa, não podia comparar.
Mas como não comparar.
Era delicioso beijar Léo. Ele se aproximou novamente e outra vez a beijou.
Mayla parecia flutuar com o beijo. O cheiro dele também a inebriava. Ele era muito cheiroso. Um cheiro amadeirado e refrescante.
O corpo dela amoleceu.
Ela queria parar com as carícias por causa de Luiz Miguel, mas não conseguia.
Léo falava docemente ao seu ouvido e dizia coisas que ela adorava ouvir.
O jeito de ele tocar o seu rosto também a excitava: ele estendia a palma da mão e a colocava toda em cima da orelha dela e embaixo dos cabelos longos. O som ficava abafado e na outra orelha ele dizia o quanto ela era envolvente, apaixonante e linda.
Não demorou para que os dois deslizassem para a cama e se despissem freneticamente.
Foi um amor louco e intenso.
Léo era forte e a levantou nos braços, segurando embaixo das pernas dela, enquanto faziam amor e ele a beijava e mordiscava.
- Que homem, ela sussurrou.
Mayla só voltou para casa no dia seguinte.
Foi direto para a agência.
- E aí?
- E aí, eu estou apaixonada. Não paro de pensar nesse cara. Ele me amou a noite inteira. Que fôlego. Que força. Que tesão Manu.
- E o Luiz Miguel?
- Ele que vá à merda. Minha mãe tinha razão: não tem nada melhor que olhos azuis.
FIQUE SABENDO
Todas as terças e quintas tem uma crônica nova neste espaço.
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