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Odeio gatos
Data de Publicação: 13 de julho de 2021 15:32:00 A VIDA É ASSIM - O que para uns é uma coisa sem importância, para outros é o verdadeiro inferno, que desestabiliza, irrita e torna tudo mais difícil.
Pedro Ernesto tinha motivos para não gostar de felinos como Tiquinho, mas ninguém entendia suas razões.
Ninguém entendeu muito bem a razão do berro que Pedro Ernesto deu quando Tiquinho apareceu sorrateiro no escritório.
O contato publicitário parecia ter visto o demônio. Ao contrário, Tiquinho não passava de um gatinho branco, mirrado pela fome, que de vez em quando aparecia por lá. Sempre ia em busca de restos de algum lanche.
- Detesto gatos, afirmou ele, após se acalmar.
Todos quiseram saber por que tanta ojeriza com um animalzinho inofensivo como aquele. Então ele passou a contar em detalhes.
- Não gosto principalmente daqueles que ficam miando à noite na janela da gente. Muitas vezes passam a noite toda fazendo isto.
- O que é que tem isso demais?, argumentou o redator Everton sem entender.
- Enquanto eles trocam a noite pelo dia, eu morro de sono no dia seguinte. Desde que arranjei outro trabalho à noite, para reforçar o orçamento, parece que eles não me deixam em paz. Estou enlouquecendo, disse.
O contato pensava em se casar no final do ano. Estava juntando dinheiro para a cerimônia. Chegava a trabalhar 16 horas por dia.
- Outro dia, continuou ele, começaram a miar sem parar na minha janela. Passava das 3 horas. Havia saído do trabalho às 2 horas. Nem pegara no sono direito ainda. Um inferno.
- Acho que você anda nervoso demais com o casamento, afirmou a mulher do café. D. Isaura achava muito cedo para ele se casar.
- Fiquei tão irritado que resolvi tomar uma providência, disse o contato publicitário, sem se importar com a mulher. – Tomado de fúria, apanhei uns cacos de tijolo da reforma que estou fazendo em casa. Abri a janela decidido a jogar neles. Não queria matar, mas espantar.
- Você acertou os coitadinhos?, perguntou Alfredo, o editor do jornal apreensivo.
A essa altura já havia um círculo em torno de Pedro Ernesto para ouvir a história.
- Que nada. Tão logo fiz pontaria, um homem negro, empunhando uma arma, anunciou um assalto. Ele entrou em casa por ali mesmo. Estava na observação. Fez uma limpeza geral.
- Que cara de pau, comentou o contato Juraci.
- Ele levou tudo o que tinha de eletrodomésticos. Tudo o que fosse pequeno o suficiente para caber em um saco que carregava. Até R$ 200,00, que havia deixado sobre a mesa para pagar o aluguel no dia seguinte, ele embolsou. Levou um relógio que ganhei de presente, a calça que usaria pela manhã, tudo, tudo mesmo.
- Bom, mas ele não fez nada com você pelo menos?, quis saber Everton.
- Você é que pensa. O homem me prendeu no banheiro da minha própria casa. Fiquei amarrado lá até as 7h30, quando chegou a diarista que faria limpeza em casa. Ela nem teve trabalho, mas me cobrou o combinado. Disse que era para não perder a viagem.
- Tudo muito triste, mas os gatos não têm culpa, concluiu o editor Alfredo.
- Como não? Foi por causa deles que eu abri a janela. O pior é que durante todo o tempo em que fiquei preso, antes da chegada da diarista, os gatos continuaram a miar, disse o contato.
- Contando dessa forma até parece intencional, considerou d. Isaura.
- Eu detesto gatos, reiterou Pedro Ernesto.
Antes de sair, Tiquinho cruzou a frente do rapaz. Os dois se entreolharam estáticos por alguns segundos. Então o contato ensaiou um chute, o gato avançou como uma onça.
Levou algum tempo para separarem os dois. Ao final, Pedro Ernesto saiu mais possesso ainda, com o rosto todo arranhado.
Depois se soube que Tiquinho estivera na noite anterior perto da casa de Pedro Ernesto. Ele não perdoou isso. Nem os arranhões.
O gato escapou ileso mais uma vez.
Informação complementar
Toda terça-feira você encontrará uma crônica nova neste espaço.
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