O perturbador perfume de Deus

17 de janeiro de 2021

O perturbador perfume de Deus

Data de Publicação: 17 de janeiro de 2021 00:11:00 FICÇÃO CIENTÍFICA - Hoje uma história que mistura ficção científica com fé e com uma mensagem sobre bondade e fazer o bem.

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Que Heitor nunca imaginou que pudesse ser uma pessoa diferente até que alguém o questionasse sobre isso. A partir daí, tudo se transforma na sua vida. Mas nenhuma mudança se enraiza se não estiver consolidada.

 

 

Eram luzes vermelhas, verdes, violetas, azuis.

Apareceram na forma de raios intensos, que se misturaram freneticamente no céu.

O brilho provocado pelo encontro delas criou a sensação de explosão, seguida de um enorme incêndio, como se uma bola de fogo se desmanchasse em labaredas fumegantes, se espalhando por onde a vista alcançasse.

O espetáculo durou apenas alguns segundos.

Da porta do bar, nas proximidades da praça Archimedes Lammoglia, saída de Salto para Itu, Heitor observou tudo com a expressão de susto de quem tivesse sido acordado por aqueles raios.

Lembrou-se, como que por instinto, dos fogos de artifício do réveillon, que comemoram a chegada do ano novo, mas, diferentemente, neste caso não tinha havido explosões, ao menos não o barulho delas, que se acostumara a ouvir desde menino.

Tudo aconteceu em silêncio e no céu.

De repente, não existia mais nada.

O seu olhar se perdeu no vazio da escuridão que se seguiu, apagando qualquer luminosidade.

Heitor foi de um lado a outro da frente do bar tentando reencontrar as luzes e nada.

 

- Vai para a casa Heitor?, perguntou Miguel, que apareceu ao seu lado e ele nem tinha notado, ao vê-lo sair pela porta do bar com o que ele chamou de “aquela cara de distraído”.

De todos que estavam na cervejada do Théo, Heitor era o mais propenso a ir embora.

Ele fora o primeiro a chegar. O grupo de amigos estava ali havia umas quatro ou cinco horas já. Heitor bebera demais. Sentia-se meio zonzo.

Théo estava muito feliz por ter passado no vestibular. Por isso, convidou os amigos para comemorar. Pagou cerveja para todos os mais próximos colegas do escritório. E disse, ao chegar, de forma enfática, que queria ver todo mundo bêbado e feliz como ele estava e queria ficar.

- Não Miguel, vou só tomar um ar, respondeu Heitor sem dar muita atenção ao amigo.

Longe do barulho do bar, já no meio da praça Heitor caminhava de olhos fixos no céu.

De repente, as luzes voltaram.

Eram raios tão intensos e em cores tão fortes que trouxeram a ele a lembrança dos parques de diversão que eram montados ali nas Festas Setembrinas em comemoração à padroeira.

As luzes o hipnotizavam.

Heitor não sentia mais caminhar.

Simplesmente ia na direção das luzes como estivesse em uma rampa que desse acesso ao céu. As luzes pareciam se mover em direção à velha ponte sobre o Rio Tietê, última barreira antes de sair da cidade, embora existam alguns bairros pertencentes ao município depois da ponte.

Caminhara já uns 800 metros olhando para o céu. Atravessou a ponte sem perceber.

Agora as luzes não pareciam se mover, mas à medida que se aproximava, sua impressão era de que iam ficando mais intensas e mais próximas.

Na altura de onde existiu um antigo escritório de vendas de lotes, um pouco acima de um posto de gasolina onde hoje existe um trevo, Heitor avistou um disco voador enorme e todo iluminado.

O escritório de venda de lotes fora abandonado e hoje é ocupado por duas famílias de sem-teto.

Era incrível que ninguém ali percebia a imagem que Heitor estava avistando nitidamente.

Ele estava a uns 3 quilômetros do bar já.

Percebeu que todas as luzes que vira antes saiam daquele disco. Ele girava muito em torno do próprio eixo. Ao mesmo tempo que girava, brilhava e misturava os raios de luzes, trocando de cor.

Mas o vermelho predominava.

- Meu Deus, eu nunca vi algo assim.

Esfregou os olhos para ter certeza de que estava enxergando bem e fixou ainda mais o olhar.

Observou que o disco tinha o formato de uma grande melancia horizontalizada.

Ele só não tinha as listras.

Por baixo e bem ao centro saíam raios azuis, estes bem diferentes dos outros. Pareciam como um gás colorido espirrando para fora.

Esses raios azuis não tinham brilho como os demais e nem muita intensidade.

 

Quando se deu conta, Heitor estava no interior daquela coisa. Se lhe perguntassem, não saberia dizer como entrara, porque não percebera.

O que notava agora era que estava amarrado a uma cadeira com tiras de malhas platinadas. Forçou para escapar, mas era inútil.

O tecido das tiras parecia frágil. No entanto, tinha resistência de algo como uma algema.

O desespero começou a tomar conta de Heitor.

O que fizera para ter sido amarrado? O que aconteceria com ele agora? Estava apenas impressionado com aquela melancia gigante.

As perguntas o perturbavam como se estivessem perfurando os seus olhos, já que tinha a sensação de não enxergar nada por não saber de nada.

Tentou olhar em redor para descobrir alguma coisa que o ajudasse a sair daquela situação.

Foi quando viu dois seres de rosto ovalado, que portavam um olho só. Os estranhos tinham grandes orelhas e pernas com dois joelhos.

Os braços se assemelhavam a duas cobras. Eram alongados e muito flexíveis. Onde seriam as mãos, havia como que uma língua dividida em três dedos, que se mexiam em todas as direções.

O único olho que as criaturas possuíam ficava abaixo do nariz e antes da boca. Havia uma espécie de cavidade onde esse olho se movimentava. Ela permitia que fosse para todos os lados. Era capaz de ver em quase todas as direções por isso.

Inútil tentar explicações.

Embora tivessem bocas como as dos seres humanos, os seres estranhos não possuíam língua. As bocas abriam e fechavam como se respirassem.

Heitor fixou o olhar para ver as línguas. Elas não existiam. Não apareciam em nenhum momento.

Os estranhos não falavam. Se olhavam muito. Pareciam se comunicar por telepatia.

Heitor desviou o olhar dos dois seres que o haviam amarrado àquela cadeira para observar o painel daquela enorme melancia em que se metera e notou que ele era como uma tela de cinema.

Voltou a olhar para os seres e eles se olhavam e olhavam para ele. Heitor sentiu que estavam falando dele, se é que se pode dizer isso.

Aos poucos, a tela do painel se iluminou, chamando a atenção de Heitor novamente.

Começaram a serem exibidas nela imagens de Heitor. Eram situações que ele já havia vivido. Por que aquilo?, ele se perguntava mentalmente. Não entendia o que aquelas criaturas queriam.

As lembranças não apareciam em ordem. Mas notou que colocavam uma ação ruim cometida por ele e em seguida uma boa ação. Como se uma viesse no sentido de compensar a outra.

Uma delas mostrou-o, menino ainda, colando as asas de um passarinho vivo com superbonder a duas placas de papelão, na casa da avó de Heitor. Era uma experiência para ver se as placas aumentavam a capacidade de voo da ave.

Não dera certo, porque a cola não pode ser utilizada em tecido vivo. À base de cianoacrilato, ela chegou a ser usada durante a Segunda Guerra Mundial, quando foi inventada a cola por Harry Coover, para estancar ferimentos de soldados. O problema é que causa necrose do tecido conjuntivo, que nas aves controla a temperatura.

Por isso, o passarinho morreu.

Depois Heitor se viu ajudando dona Renata, uma velhota que fora sua vizinha. Ela tinha enormes pés de manga em sua casa e não conseguia cortar os galhos nem apanhar os frutos. O menino que era e observava agora fazia isto para a mulher.

Em outra passagem, Heitor pegava os filhotes de uma ninhada que a gata do seu irmão mais velho havia tido e os jogava para o alto.

A ideia era ver se eles caíam de pé como todos os gatos, mas eram muito pequenos para isso. Os gatinhos quebravam as pernas ou morriam.

Logo depois Heitor aparecia tirando água do poço para uma tia, que já não tinha forças por causa de uma lesão nas pernas. A tia ficava tão feliz com a boa ação que ela o recompensava fazendo deliciosos bolinhos de chuva, que ele adorava.

A tela mostrou uma série de episódios da infância, da pré-adolescência e da adolescência de Heitor e depois ficou escura de súbito.

Quando o cineminha acabou, os seres estranhos começaram a auscultá-lo com um instrumento parecido com um estetoscópio.

Eles não tinham muito jeito para fazer aquilo. Apertavam o aparelho no peito dele. Doía. Pareciam não conseguir ouvir. Irritavam-se.

Batiam no peito de Heitor com força.

Depois pararam e se afastaram.

Heitor fechou os olhos tentando acordar daquilo dizendo para si mesmo que era um sonho.

 

Quando reabriu os olhos se deparou com outro ser estranho à sua frente. Este era parecido com os outros no rosto, mas era também diferente ali e em outros detalhes do seu corpo.

O novo ser portava mais dois olhos além daquele entre o nariz e a boca que os outros tinham.

Eles ficavam atrás da cabeça, o que o fazia ver o que acontecia em qualquer lugar.

Seus braços eram alongados como os outros, mas este tinha mãos e dedos, só três, mas eram dedos. E ele era maior que aqueles. Possuía asas. Os pés tinham três dedos só. Ele era todo verde.

Outra diferença brutal dos anteriores, Heitor percebeu quando saiu da boca dele:

- O seu nome é Heitor, não é?

Ele falava e tinha uma voz grossa, aterrorizante. Parecia aqueles locutores de programas de suspense, mistério ou terror.

Heitor nem teve tempo de responder e já ouviu outra pergunta, que o intrigou e amedrontou mais:

- Você deve me entregar o perfume de Deus.

 

- Do que o senhor está falando?

- Não tente me enganar. Você sabe como pode descobrir o perfume, disse firme o estranho.

- Sinceramente, estou achando tudo isso muito esquisito. Seus amigos já pareciam procurar alguma coisa comigo. Pelo jeito, achei que queriam ouvir o meu coração, mas não era. Ficaram irritados e me bateram. Agora vem o senhor me perguntar de perfume. Seja lá o que for isso ou o que o senhor imagina ser, não está comigo.

- Não seja idiota. O perfume de Deus se materializa com os sentimentos. Você não o carrega. Precisa sentir para que ele apareça. É isso o que eu quero. Passamos esse cineminha para que você se sensibilizasse. Queríamos que deixasse o perfume aparecer. Você não se sensibilizou.

- Sentir o quê?, perguntou Heitor preocupado.

- Bondade, respondeu. - Só os bons podem sentir o perfume. Provocamos seu espírito com atos maus compensados depois por atos bons. Mas você está frio. Não sente mais as coisas. Desta forma, o perfume de Deus não vai alegrá-lo. Pior que isto: nós não o teremos para o nosso povo. No nosso planeta, precisamos de bondade, senão vamos desaparecer. Existem muitas brigas lá. Os moradores do nosso mundo estão se matando por nada. Eu não posso deixar que continuem.

- Então é isso? Bem-vindo ao clube meu caro estranho. Aqui também só acontece isso. As pessoas estão loucas e se matam por qualquer merda. Olhe, como é mesmo o seu nome?

- É Emanuel.

– Então Emanuel, ou seja lá quem você for, eu não sou bom. Pelo contrário, eu sou muito mau. Por isso, não tenho perfume nenhum desses que você procura. Você errou de frasco, amigo.

Emanuel parou um instante antes de dizer:

- Se isto for verdade, você estará em maus lençóis. Nós não o escolhemos à toa.

- O que quer dizer?

- Olhe, disse Emanuel, mostrando a tela novamente. Em poucos segundos apareceu a imagem de Heitor sendo queimado em uma fogueira medieval. O fogo dilacerava o homem à distância de tão quente que estava. Aquilo parecia tão real que ele sentiu o calor no corpo.

Diante disso, tentou reconsiderar.

- Olhe, Emanuel, acho que estava enganado mesmo. Acho até que eu sou bom. Bem bonzinho.

- Então terá de provar, disse o estranho unindo as mãos pelas pontas dos três dedos como se fosse rezar. - Vou lhe dar três chances. Se falhar, será queimado vivo, porque não precisamos de homens maus, nosso planeta está cheio deles, afirmou apontando para a tela, onde uma imagem de Heitor queimava e desaparecia.

Passaram-se alguns segundos sem que Heitor entendesse o que seriam as tais chances.

Emanuel voltou a dizer então que, se conseguisse, Heitor se livraria da fogueira. Novamente, ele não explicou nada. Não informou como ele teria de agir e nem em que lugar.

Como poderia colocar em prática as chances de que aquele estranho falara, se não sabia nem como sair dali e tampouco o que fazer?

Subitamente, Heitor desapareceu da cadeira daquela enorme melancia e reapareceu em seu carro, um Fiat Uno prata, que estacionara perto do bar nas proximidades da praça.

Por alguma razão, ele voltara no tempo e estava diante da situação anterior à da sua entrada ao bar.

 

Agora se lembrava.

Um menino de rua apareceu do lado oposto ao do motorista e de forma muito inesperada. Colara o nariz ao vidro da porta do passageiro. Heitor não havia percebido de início. O vidro embaçara com sua respiração por conta do carro fechado.

Quando olhou como quem acordasse, levou um susto com a imagem. O rosto do garoto pareceu enorme e extremamente assustador de repente.

Passado o susto, ele abriu o vidro.

O menino pediu uns trocados para olhar o carro.

Heitor se lembrou que da primeira vez havia recusado. Enxotara o garoto com fúria. Agora que voltara no tempo parecia algo diferente.

Ele olhou nos olhos do menino, que brilharam com o mesmo verde do corpo de Emanuel.

Resolveu atender ao pedido.

Isto lhe parecia que seria ser bom.

Não sabia o significado do que lhe dissera Emanuel. Talvez aquele pedido fosse a sua primeira chance. Disse a si mesmo tentando interpretar o que não entendera direito ainda.

Era final de tarde agora, pouco depois que acabara o expediente no escritório. Fora o primeiro a chegar. Viera para comemorar com os amigos de Théo que ele havia passado no vestibular. Todos iriam ao bar para beber.

Mas, de repente, Heitor se lembrou de que há muito tempo que não ia a uma igreja para rezar. Estava mesmo distante das coisas religiosas. Achou que aquela seria uma boa oportunidade. Desde pequeno ouvira que ir à missa, era ser bom.

Depois, se aquele estranho ser chamado Emanuel estava querendo um perfume de Deus, a igreja seria o melhor lugar para buscar.

Em vez do bar, ele foi à igreja.

Sentou-se ao fundo para não chamar a atenção.

Quando se virou para cumprimentar o homem ao lado, viu nele o rosto de Emanuel. Os olhos do homem pegavam fogo. Heitor se assustou.

Voltou-se para o outro lado.

Notou que esse lado dava para o corredor central e nele vinha uma garotinha com a cesta das oferendas dos fiéis, um ritual muito comum na igreja que frequentara até tempos atrás.

Heitor não quis perder a oportunidade: faria a doação de uma gorda quantia.

A garotinha da cesta já ia longe quando ele tocou no ombro dela. Depois retirou todas as notas que tinha na carteira. Colocou-as todas na cesta. A menina sorriu surpresa.

As pessoas em redor também se surpreenderam com o gesto pontual e significativo.

Se tivesse uma auréola de anjo, ele a teria ganho.

Pouco depois da missa, Heitor voltou ao carro estacionado nas proximidades do bar.

Não iria mais à cervejada do Théo.

Em vez disso, seguiria para casa.

Aquela história o tinha deixado muito cansado. Ele gastara todo o dinheiro que tinha, ajudara o menino de rua e não sentira nada.

Não se achava bom por essas coisas.

Nem mesmo o fato de ter ido à missa o tornou para ele próprio um sujeito bom.

Pensou consigo mesmo que estava fazendo o papel de idiota acreditando em um sujeito com olhos em toda a volta da cabeça.

Aquilo era loucura.

Olhou para o céu e de repente viu novamente o brilho dos raios de luzes se entrecruzando.

Resolveu não duvidar mais.

Ligou o carro e seguiu para casa. Ao chegar a uma esquina onde não existia semáforo, Heitor foi surpreendido com um acidente. Um cidadão entrou na lateral do lado do passageiro do Uno. O outro motorista não respeitara a placa de pare.

Heitor desceu furioso.

Estava pronto para tudo.

Não fosse ver o rosto do motorista, parecido com o de Emanuel, e sentir aquele calor infernal queimando o seu corpo, ele teria brigado.

Mas lembrou-se das chances novamente.

Em vez de brigar, mudou:

- Foi sem querer, começou o motorista. – Eu me distraí quando entrei na esquina e...

- Não tem importância, cortou Heitor.

Em seguida, ele deixou o seu endereço com o motorista. Pediu que o procurasse, pois pagaria tudo. Assumiu o acidente como se fosse culpa sua.

Finalmente chegou em casa.

Estava intrigado com aquilo. Sentia que o ser estranho possuía um poder muito forte sobre ele. Mais que isso: Emanuel conseguia estar em todo lugar. Ele teria de descobrir as chances para se livrar daquilo de uma vez por todas. Aquela sensação o estava enlouquecendo.

Em pouco tempo, devido ao cansaço, Heitor se desligou de Emanuel. Ele adormeceu no sofá.

O sono não durou muito. Heitor foi despertado assustado por um cheiro de queimado.

De repente, teve a impressão de ter falhado na busca das chances de que Emanuel havia falado.

Pensou que aquilo fosse o cheiro da fogueira de si próprio e que ele estaria agora morrendo.

Não era verdade.

O cheiro de queimado vinha de uma roupa velha sua que estava em chamas.

Samuel, um vizinho de sua casa, havia jogado a bituca do cigarro que trazia na boca sobre a roupa para espancar a porta, já que Heitor não abria.

Ele estava desesperado por causa do filho.

- Por favor, aconteceu um acidente. Meu filho...

O homem trazia um garoto de uns quatro anos com um corte profundo na perna esquerda.

O menino se cortara na cozinha ao mexer em uma faca muito afiada. Ela escapuliu de suas mãos e ele tentou apanhá-la antes que caísse no chão. A lâmina acabou batendo na sua perna.

O menino estava pálido, assim como o pai.

O homem queria que Heitor os levassem ao hospital e temia que ele morresse.

Heitor não pensou duas vezes.

Apanhou uma toalha e envolveu o menino. Depois colocou os dois no Uno e seguiu para o hospital. Nem se importou que o sangue manchasse os bancos. Precisava salvar o garoto.

Heitor passou o tempo todo conversando com o menino durante o trajeto. O garoto temia não poder ir mais à escola. Estava arrependido da brincadeira. O pai dele o consolava também.

Ao chegar, o médico do pronto-socorro colocou algum medicamento para desinfectar o ferimento. A reação foi de uma fervura. O pai do menino passou mal ao ver. Levaram-no para ser atendido.

Depois de alguns minutos de atendimento, o médico veio até a antessala.

- Não fosse a pressa do socorro, o menino teria perdido aquela perna. Poderia até ter morrido de hemorragia. O senhor salvou o Davi.

Samuel se ajoelhou aos pés de Heitor ao ouvir o médico. Não sabia o que fazer para agradecer. Heitor o levantou e impediu que insistisse.

Quando o homem se acalmara, Heitor foi à porta de saída do pronto-socorro para esperar lá fora.

Apesar de não ter uma ligação forte com o menino, o acidente o deixara preocupado.

Heitor abaixou a cabeça um pouco.

Enquanto esperava, sentiu um perfume diferente. Algo bem suave como uma alfazema. Era um cheiro muito especial. Ele ergueu a cabeça, olhou em redor, não havia ninguém.

Foi até a porta para ver se alguém tinha passado por ali e entrado. Não havia ninguém. Nem nas proximidades de onde ele estava.

Heitor olhou para o céu instintivamente.

Teve tempo de ver a grande melancia cheia de luzes coloridas voando em direção ao infinito.

Ele se sentia leve.

Parecia flutuar.

Encontrara o perturbador perfume de Deus.

 

Depois daquele momento, Heitor engoliu em seco e abaixou os olhos para o chão novamente.

O chão se escureceu completamente.

Parecia que iria desmaiar.

Respirou fundo e foi se acalmando.

Ao levantar a cabeça outra vez, Heitor estava na frente do bar próximo da praça de novo.

Estava sentado a uma cadeira perto da porta para onde havia ido ver as luzes.

Voltara ao tempo anterior outra vez de quando havia saído do bar e havia se impressionado com as luzes vermelhas, verdes, violetas, azuis.

- Acho que você deveria ir para casa mesmo, voltou a dizer Miguel, o amigo com quem conversara antes de caminhar em direção às luzes.

- Você tem razão, respondeu sem entender muito o que acontecera com ele até ali.

Quando saía das proximidades do bar, Heitor não encontrou o menino que olharia o seu carro.

- Ainda bem que não paguei aquele desgraçado da primeira vez ou da única vez. Acho que isso foi mesmo um pesadelo fruto da bebedeira.

O rapaz chutou a roda do carro com raiva.

Mas, ao chegar à porta do lado do passageiro, Heitor notou que a lateral estava toda amassada.

Um frio percorreu-lhe a espinha.

 

 

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Imagem da Galeria O perfume de Deus se materializa com os sentimentos
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