Ao navegar neste site, você aceita os cookies que usamos para melhorar sua experiência.
O menino da casa amarela
Data de Publicação: 1 de junho de 2021 19:16:00 DESGRAÇA - O pequeno Lucas, de cinco anos, se sentiu totalmente perdido ao ver o pai agredido e desacordado e tudo que sabia era onde morava.
Perdido com a agressão que levou o pai ao hospital, o pequeno Lucas, de cinco anos, sabia só a cor de onde morava.
O que você faria se visse o seu pai ser golpeado com um pedaço de madeira do tamanho de um taco de beisebol na cabeça e caísse desmaiado sem ação?
Se você fosse um adolescente ou um homem adulto, poderia interferir na agressão e tentar equilibrar as forças em favor do seu pai, se bem que eram uns 15 ou 20 homens adultos praticando a agressão e o pai nesse caso estava desarmado e cercado.
Essa cena é a que viu Lucas, um menino de uns cinco anos, se tanto, no estádio Brinco de Ouro da Princesa, o campo do Guarani, em Campinas, durante um jogo entre o time da casa e o Corinthians na década de 90.
Leônidas, o pai, corintiano até o último fio de cabelo e integrante de carteirinha do bando de loucos quando o bando nem havia sido formado ainda, levou o pequeno Lucas para ver o seu time contra a vontade da mãe.
Maria Alba estava grávida de cinco meses.
Temia pelo filho pequeno, já que sabia que os estádios estavam violentos naquela época.
Mas Leônidas tranquilizou:
- Vou ficar do lado da Fiel. Ninguém mexe com eles. Pode deixar que eu protejo o Lucas.
Disse e foram para o carro de um amigo.
Antes de arrancarem, Maria Alba fez um último apelo ao marido:
- Então não beba Léo.
- Ah mulher, aí você me quebra as pernas. Como não vou beber? Estou seco.
Os outros que estavam no carro riram e fizeram gozação com a mulher.
- Deixa que ele só vai beber o que aguenta, dona Maria, fica tranquila.
O carro partiu ainda faltavam duas horas para o início do jogo, mas ela começou a rezar.
O jogo estava difícil para o Corinthians.
O time não jogava bem.
Foi quando o juiz anulou um gol por impedimento que a confusão começou.
Os corintianos, com Leônidas junto, gritavam ladrão e outros palavrões. A torcida do Guarani gritava do outro lado.
Chegou uma hora que as duas torcidas começaram a brigar nas arquibancadas.
Leônidas recuou e puxou o menino para a parte mais alta, mas os agressores não se intimidaram e partiram para cima.
Quem pode, fugiu.
Sem alternativa, Leônidas enfrentou.
Com a pancada, caiu desmaiado.
Lucas chorava desesperado. Viu o sangue escorrer da cabeça do pai. A polícia agiu.
Foram borrachadas para tudo quanto é lado e gás, até que tudo se acalmou.
Ao ver o menininho chorando desamparado, o sargento perguntou:
- Com quem você estava garotinho? Como é o seu nome? Tudo está bem, se acalme.
- Com meu pai.
- Como é o nome dele?
- Leônidas.
- O que aconteceu?
- Os moços bateram nele com um pau. Ele caiu. Saía sangue da orelha dele.
O menino não parava de chorar.
- Calma, vamos levá-lo para casa. Seu pai foi para o hospital. Onde mora?
- É numa casa amarela.
- Que bairro?
- Jardim América.
Os policiais colocaram o menino na viatura e foram ao Jardim América. Perguntavam é essa rua e iam mudando à medida que ele dizia não em cada via em que entravam.
Ao final de 40 minutos, não acharam.
Resolveram levá-lo ao hospital.
Maria Alba foi quem o salvou.
Ela viu a confusão pela televisão e viu o marido agredido. Ligou desesperada para o estádio, a polícia, o hospital, o necrotério.
Achou o menino e o marido no Mário Gatti.
Ao salvar um filho, salvou o outro.
Os policiais levaram o menino para a mãe no Jardim América, que ficava em Americana.
Lá sim havia uma casa amarela.
Uma semana depois Leônidas estava em outro jogo do Corinthians com um curativo enorme na cabeça, mas sem o filho.
Anote isto
Toda terça-feira você encontrará uma crônica nova neste espaço.
Seja o primeiro a comentar!
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Envie seu comentário preenchendo os campos abaixo
Nome
|
E-mail
|
Localização
|
|
Comentário
|
|