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Não existe trama sem conflito
Data de Publicação: 28 de janeiro de 2021 17:07:00 Os problemas que o personagem tem de desenvolver é que fazem tudo acontecer e que tornam uns heróis e outros vilões.
São as dificuldades que o personagem tem de resolver que dão motivo para se contar a história e que criam as ações para que ela se desenrole, flua e tenhamos ao final heróis e vilões.
Na literatura tradicional temos alguns tipos de produção de narrativas. O principal deles é o romance, depois vêm os contos, as crônicas e por último, mas não menos importante, as poesias, que são formas de elaboração de textos e que permitem contar uma história a partir de um conflito vivido pelos personagens.
O cinema, a televisão, o rádio e a internet utilizam esses mecanismos para expressar, por meio de roteiros, esquetes e hipertextos, tudo o que se concebe na literatura. Além dos filmes e séries, se usa muito hoje em dia os podcasts, que são gravações de áudio para contar histórias nos mais diferentes tipos de abordagem.
Alguns autores defendem que a crônica não precisa de conflito. Basta que o escritor trace uma imagem aos olhos do leitor para que ele já se deleite com o que foi escrito. Eu discordo. Até mesmo a crônica precisa de um conflito. É claro que os conflitos nesse tipo de texto não são pesados nem graves, mas eles têm de existir.
Então, se você é um candidato a escritor ou já se tornou um, é fundamental compreender essa necessidade para se contar histórias. Sem conflito, não existe desenvolvimento para uma narração. É a partir das necessidades do personagem demonstradas na apresentação dos conflitos que história flui efetivamente.
O roteirista francês Jean-Claude Carrière define com precisão o que significa ter um conflito e como o conflito torna uma história atraente e capaz de prender o leitor, o espectador ou o ouvinte: “Um gato deitado em um tapete não é uma história. Mas, se esse gato estiver deitado no tapete do cachorro, sim”.
Vejam que tudo muda a partir do momento que o personagem precisa fazer alguma coisa para evitar outra e tem um tempo para realizar essa atividade. Um gato no tapete do cachorro significa risco de morte até e a consequência varia conforme a velocidade com que o cachorro vá perceber a invasão do inimigo.
O conflito se subdivide em três partes para a contação da história. A primeira parte é a da apresentação do personagem: quem é ele, onde vive, o que faz e o que acontece com ele. Depois é a tentativa de resolver o problema. Por fim, é a resolução efetiva do conflito com uma saída que torne a história plausível aos olhos do leitor.
No exemplo do gato, a primeira parte é a apresentação dele: o Felix vive na mesma casa do Borrasca, um buldogue extremamente bravo. Mas o gato perdeu o seu tapete de dormir quando o filho da dona da casa, dona Sílvia, o pegou para colocar no seu carro, já que o original estava molhado e ele queria sair.
Temos aí a apresentação do gato que se chama Felix e o surgimento da primeira parte do conflito, ou seja, o gato, que mora na mesma casa de um cachorro bravo, perdeu o tapete de dormir por uma intervenção do filho da dona da casa, portanto é algo que ele não pode reverter pelos métodos tradicionais pegando-o de volta.
Na segunda parte, mostramos que o gato Felix precisa de um tapete para dormir, porque faz frio na casa e, sem tapete, ele vai congelar. Temos aí a necessidade de o personagem encontrar uma saída. É o desenvolvimento da história. Nesse momento, ele conhece o rato Agnaldo, que o aconselha a roubar o tapete do Borrasca enquanto ele vai comer nos fundos.
Felix gosta da ideia e conta com a ajuda de Agnaldo para executar o plano. De posse do tapete de Borrasca, Felix se esconde no quarto do filho da dona Sílvia e lá dorme tranquilo. Mas Agnaldo não é amigo dele e o entrega para Borrasca, que fica furioso e vai buscar o seu tapete. Não sem antes matar o gato.
Agora chegamos ao último conflito: é a sobrevivência ou morte do nosso herói. Como heróis não podem morrer, Felix precisa encontrar uma saída rápida. E ainda tem de se vingar de Agnaldo por tê-lo entregado. Então Felix prepara uma armadilha para que Borrasca tropece e caia dentro do guarda-roupa.
O cachorro invade o quarto e acaba no meio das camisas do filho de dona Sílvia. Ao ser surpreendido por ele, o cachorro é colocado para fora de casa. Felix se salva e fica com o tapete. Mas Agnaldo abre a porta para Borrasca voltar de noite, quando todos estão dormindo. Quando os dois estão na sala, Felix acende a luz.
Dona Sílvia tem medo de ratos e grita desesperada ao ver Agnaldo. O filho dela pega uma vassoura e tenta matar o rato, mas Agnaldo foge para a rua. Ele fica desabrigado e no frio. Dona Sílvia fica com pena de Borrasca e o deixa ficar. Ele vai atrás de Felix, que acaba escapando para fora da casa como o rato Agnaldo.
Faz muito frio e os dois não têm muita chance de sobreviver lá fora. Aí o filho de dona Sílvia vai sair para passear com o carro. Ele chega a abrir a porta do veículo, mas é surpreendido pelos gritos da mãe. O filho volta para espantar outro rato e enquanto isto Felix entra no carro e acaba ajudando Agnaldo a entrar, perdoando-o.
Lá dentro da casa, dona Sílvia gritava por ter caído. Borrasca provocou a queda para que o filho dela voltasse e deixasse Felix e Agnaldo se salvarem. A história termina com três amigos que agora dividem os tapetes no canto da sala, mas desde que dona Sílvia não veja o rato. Está resolvido o conflito e a história está contada.
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