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Marcas começam a tirar termo ‘black friday’
Data de Publicação: 3 de novembro de 2020 14:53:00 A tentativa é evitar um possível preconceito que acaba aparecendo na tradução da expressão e que afeta pessoas negras.
SEM TEMPO? ENTÃO VEJA O RESUMO
Termo criado nos Estados Unidos tem conotação preconceituosa no Brasil para o movimento anti racismo. Boticário resolveu abolir a expressão em respeito às pessoas negras. Tendência começa a ser seguida.
Marcas importantes do setor de varejo no Brasil, como Boticário, estão começando a abolir o termo “Black Friday” do seu vocabulário de campanhas publicitárias, em atenção aos grupos que representam o movimento anti racismo no país, que consideram a expressão americana ofensiva por aqui.
De fato, na tradução livre nota-se uma indução ao preconceito, já que dizer que uma sexta-feira será negra pode levar a pensar que será aquele dia em que as coisas dão muito erradas e a associação do negro ao erro ou a problemas expõe toda uma história de negação de uma população que já foi escravizada.
Até mesmo na busca da popularização do termo, que remonta ao início dos anos 60, na Filadélfia, quando a polícia local chamava de Black Friday o dia seguinte ao feriado de Ação de Graças por ser um dia de muitas pessoas nas ruas, com congestionamentos enormes e bastante confusão, também induz ao preconceito.
O movimento anti racismo entende que o termo ganha aspectos diferenciados no Brasil, porque já existe um preconceito histórico e que vem desde a escravidão, no sentido de considerar que os pretos são inferiores ou que realizam trabalho de qualidade inferior, justificando, portanto, um tratamento de menosprezo.
A origem do termo “Black Friday” também revela um certo preconceito. Embora hoje ele esteja associado ao maior dia de compras dos Estados Unidos, “Black Friday” (literalmente 'Sexta-Feira Negra') foi usado pela primeira vez em 24 de setembro de 1869, quando houve uma crise na Bolsa de Valores de Nova York.
Se a intenção não é preconceituosa, não importa. O fato é que parece haver preconceito, ainda que não seja uma situação acintosa ou de confronto. Por isso, o melhor é evitar. Estão corretas, a meu ver, as marcas que já optaram por suprimir. À mulher de César não basta ser honesta, é preciso parecer honesta.
Também já aboliu o termo, embora ainda não tenha encontrado um substituto definitivo o Grupo Imaginarium, que adotou para este ano o termo “Color Friday”, cuja intenção é levar otimismo por meio da cor em um ano tão complicado e com tantos problemas. No próximo ano, a marca adotará um termo definitivo.
Para quem acha que mudar os termos é uma bobagem, sobretudo considerando-se o sucesso que a Black Friday tem alcançado ano após ano desde 2010, quando começou no Brasil, é bom saber que os brasileiros consumidores estão de olha no comportamento das empresas frente ao episódio pandemia.
A consultoria Kantar, líder em compilação e interpretação de dados, em recente estudo, feito após o início do isolamento social, concluiu que 87% dos entrevistados esperam que as marcas comuniquem suas atuações e o que estão fazendo no dia a dia para lidar com o isolamento social e o novo coronavírus.
De acordo com os responsáveis pela pesquisa, essa preocupação se estende ao engajamento que as marcas dão às causas sociais e a reclamação do movimento anti racismo é uma das questões que impactam decisivamente no cenário atual, daí a razão para que marcas importantes como as citadas já estejam agindo.
Vamos esperar que a discussão ganhe corpo e envolva outras marcas significativas, mas que se encontre um termo com o mesmo potencial de retorno que este tem. A criação de termos variados conforme a marca tira a força que tem a “Black Friday” e não é isto o que se pretende com esta ação.
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