Magazine Luiza acerta em ação pelos negros

7 de outubro de 2020

Magazine Luiza acerta em ação pelos negros

Data de Publicação: 7 de outubro de 2020 14:36:00 Criticada por uns e alvo de até de uma ação de um defensor público, a medida é positiva porque ataca o preconceito no mercado.

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SEM TEMPO? ENTÃO VEJA O RESUMO

Magazine Luiza virou alvo de críticas e de ação de defensor público por programa de trainee voltado a negros. Argumentação é de que há outras maneiras. Que há, há, mas não estão sendo usadas.

 

 

Muita crítica e até uma ação de um defensor público foi o que gerou de início a ação do Magazine Luiza de realizar em setembro um programa de trainee destinado a candidatos negros. Mas no longo prazo a atitude pode trazer uma abertura maior do mercado de trabalho em postos importantes voltada a esse público.

A discriminação contra negros é uma realidade dura e crua da sociedade brasileira, que precisa e deve ser mudada. Não sou favorável à criação de cotas, mas entendo que esta é uma política de afirmação. Se não for por meio de mecanismos como esse e se ficar à espera de uma conscientização, não acontecerá.

É claro que o ideal seria que o mercado visse os valores e as competências sem olhar a cor da pele, o sexo ou a idade, mas não é isto o que acontece. Não ocorre porque as pessoas que estão em postos de decisão não se preocupam com esses grupos marginalizados exatamente por não terem contato com eles.

O que se discute entre os críticos da atitude e na ação do defensor público Jovino Bento Júnior são duas questões: 1) há outras formas de se garantir o acesso de negros a postos importantes nas organizações e 2) o Magazine Luiz lucra com isto por meio do marketing positivo que a medida gera.

Ora, ora senhores, se há outras maneiras -e tenho certeza de que há-, o fato é que elas não estão sendo utilizadas. Se estivessem, nem estaríamos discutindo isto aqui. Se não estão, por que não estão? Este devia ser o questionamento e não o que se faz contra aqueles que arregaçaram as mangas e partiram para a ação prática.

Em relação aos ganhos de marketing, certamente eles vão ocorrer. Aliás, já estão acontecendo até mesmo com a polêmica, posto que ela colocou o assunto em discussão. O problema é só que a polêmica e o questionamento dos críticos prejudicam quem deveria ser assistido, porque já vem marginalizado.

Quando trabalhei com um empresário do ramo imobiliário em Sorocaba e ele como prefeito tomou a atitude prática de rasgar uma avenida para a zona norte da cidade, os críticos diziam a mesma coisa: ele está beneficiando a região por ter áreas lá que serão valorizadas e depois lucrará comercialmente com isto.

O que essas pessoas não viram é que as avenidas abertas por esse empresário-prefeito promoveram o desenvolvimento de toda a região, que já era a que mais crescia na cidade. Hoje ela concentra metade da população de Sorocaba e não para de crescer graças à visão de alguém pensou nos resultados para os excluídos.

A empresária Luiza Helena Trajano é uma dessas pessoas de visão que está olhando para aqueles que não estão sendo lembrados, em que pese seus valores e suas competências. Vai obter ganhos de marketing positivo para o seu negócio, vai, assim como o empresário de Sorocaba, mas isto é o menor de tudo.

Que empresário não visa lucro? Melhor que isto: que empresário de sucesso não planeja suas ações visando os retornos que terá no longo prazo? Está na hora de valorizar iniciativas como essa, porque elas têm força para mudar realidades. A sociedade só avança quando muda conceitos e rompe com preconceitos.

Observem o relato do Magazine Luiza de que já emprega negros em 53% do seu quadro de funcionários e que apenas 16% do seu quadro de alta gestão possui negros. A empresa não está se preocupando agora com a causa: ao contrário, está agindo de forma prática para mudar e transformar essa realidade.

Em entrevista ao programa “Roda Viva” na segunda-feira (5), a proprietária da rede disse que sempre cobrou uma maior seleção de negros em seus processos, mas recebia pouco retorno quando os buscava para altos cargos e que por isso decidiu colocar o programa em funcionamento, que dará visibilidade aos talentos.

Antes de vir a público a ideia passou pelo crivo de um comitê interno, que pesou todas as implicações, até mesmo essa polêmica desnecessária criada pelos críticos e pelo defensor público, já que ela pode barrar que as 20 vagas em todo o país, voltadas para negros, sejam efetivamente preenchidas dentro dessa política.

O pior de tudo isto é o que se comenta a respeito da atitude do defensor Jovino Bento Júnior, de que ela seria uma “reação” de um grupo minoritário de defensores públicos mais alinhados com a gestão Jair Bolsonaro (sem partido), que perderam a última eleição interna para o Conselho Superior da Defensoria Pública da União.

Se for verdade isso, é para se tomar atitudes imediatas contra essa situação. Por ora, engrosso o coro dos que consideram a atitude da dona da rede Magazine Luiza uma ação transformadora e uma manifestação de coragem e compromisso com o alcance da igualdade racial, como disseram os críticos do defensor.

 

 

FIQUE SABENDO

De segunda a sexta-feira tem um artigo novo neste espaço sobre política, economia ou negócios.

Imagem da Galeria Magazine Luiza, responsável por programa exclusivo para negros
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