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Liderar vai muito além de chefiar equipes
Data de Publicação: 30 de janeiro de 2021 17:33:00 A diferença básica entre ser chefe e ser líder é que um manda e o outro conduz e isto faz toda a diferença nos resultados.
A condução de equipes exige comandos motivadores, engajados e alinhados com os valores do grupo e da organização. Quem é autoritário, centralizador e apenas manda não chega a lugar nenhum.
Só fazem com a gente o que a gente permite.
Ouvi essa frase por diversas vezes de pessoas do meu círculo de amigos e nunca concordei com ela.
Entendia que muitas situações nos levam a agir em obediência e que nem sempre podemos divergir ou até mesmo desobedecer, ainda que tenhamos liberdade para isto.
Pensava: o que nos prende são sempre as circunstâncias.
Tenho amigos jornalistas (e jornalista é um tipo de profissional, na sua maioria, irascível com qualquer jugo patronal, o que, frise-se, não está errado) que se insurgiam na primeira oportunidade em que eram tratados nesse viés e iam embora.
Mas muitos deles amargaram a sina de perseguidos por isso.
Não defendo subserviência, é claro.
Contudo, fora dos grandes veículos o cerco sobre os profissionais jornalistas é muito maior e mais infame na maioria das vezes.
Por tudo isto, sempre discordei da frase segundo a qual só fazem com a gente o que permitimos.
Quando me tornei secretário de Comunicação e Eventos da Prefeitura de Sorocaba, cargo que exerci entre 2017 e 2019, descobri a razão para a minha divergência com eles.
Os argumentos dos meus colegas contra a concordância com ordens superiores em função da hierarquia eram fortes e bem embasados, mas o meu respeito à organização também.
A explicação está na diferença entre líder e chefe.
José Crespo (DEM), ex-prefeito de Sorocaba, como político e por comandar uma série de fiéis eleitores que confiaram nele para a condução da cidade, deveria ser um líder.
O problema é que ele era um líder com fortes inclinações para chefe e isto causou o seu desastre no exercício do cargo.
Um líder não pode ser autoritário na execução das tarefas, não pode apenas demandar e exigir produtividade e desempenho.
Quem age assim são chefes.
Estes atuam em uma relação ineficiente, baseada na centralização de tarefas, na autoridade do próprio cargo e na valorização do conhecimento puramente técnico apenas.
O líder vai além da ordem natural entre mandar e obedecer.
Ele não fiscaliza tarefas.
Em vez disso, promove o auto gerenciamento dos liderados.
Quem tem autonomia produz com mais precisão e energia.
O papel do líder é motivar, engajar e alinhar os valores da equipe aos valores da organização em que todos estão.
Nunca deve ser o de ameaçar.
Precisa dar segurança a colaboradores, compreender como cada profissional pode contribuir com o time com suas capacitações e obrigatoriamente deve conduzir pessoas a objetivos.
Crespo começou bem, permitindo a cada secretário gerir a sua pasta conforme a sua expertise, claro dentro do programa de governo e dos objetivos norteadores da administração.
Só que enfrentou o que se enfrenta em qualquer máquina pública: a lentidão, o travamento burocrático e o jogo político.
Em razão disso, logo começou a achar que estava perdendo a mão da equipe e se transformou em chefe.
Deu espetáculos públicos esbravejando com comandados, criou obstáculos para o processo e se estereotipou na função.
Na verdade, ele se perdia na direção do grupo.
Passou então a focar em pequenos aspectos, idiossincrasias e no autoritarismo, sem deixar de cobrar produtividade e desempenho.
E quem pode criar sem liberdade para isto?
A seguir veio a centralização: nada se faz sem meu conhecimento e ordem, ainda que haja urgência.
O controle vinha por e-mails nos quais se esmerava em bons textos e frisava, com letras maiúsculas e cobranças neurastênicas, que quem mandava era ele e não admitia discussões.
Gastava as sextas-feiras inteiras para redigi-los.
Passou a ignorar a lei, as outras autoridades e as pessoas.
Com essa atitude o prefeito enterrou o governo em dois anos.
Tudo isto me trouxe a lição de que não são as circunstâncias nem as situações que dão às pessoas o poder de fazer com a gente o que nós permitimos, mas os chefes que se arvoram como líderes.
Se quiser ser um líder, invista no capital humano.
Profissionais que aprimoram a comunicação, buscam novas competências e delegam confianças obtêm melhores resultados.
Quem procura se mostrar como o dono de tudo acaba sozinho.
Perde o essencial que é a credibilidade como líder.
Depois de ter 182.833 votos e se eleger prefeito em 2016, Crespo chegou aos parcos 517 votos para vereador em 2020.
O dono da bola joga com ele mesmo.
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