Insensível

18 de fevereiro de 2021

Insensível

Data de Publicação: 18 de fevereiro de 2021 19:08:00 TRISTE REALIDADE - Os novos tempos nos colocam cada vez mais distantes das pessoas que conhecemos, de quem gostamos, de todos.

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Uma ligação telefônica é capaz de nos levar longe com nossos pensamentos e preocupações. Sobretudo quando não sabemos das coisas que estão acontecendo porque ninguém nos conta mais nada.

 

 

- Oi seu Edemilson, aqui é a Gabriela. Tudo bem com o senhor nesta manhã?

Eu não costumo atender ligações de números desconhecidos, mas essa escapou.

Assim que ouvi, a voz me cativou.

Minha sobrinha se chama Gabriela e tem uma voz doce desde muito pequena.

Há tempos que não nos falamos.

Ela não falou tio, é verdade, mas me chamou de Edemilson e isto era um detalhe importante.

Os parentes mais antigos me chamam de Edemilson. Passei a usar o nome Eloy só na adolescência. Quem me conheceu antes manteve o nome de batismo.

Tirando esses parentes mais antigos, só me chamam por esse nome minha mãe, que foi quem escolheu a denominação, e cobradores, que pegam a indicação na ficha.

Para todo o resto eu sou Eloy.

Prossegui na conversa:

- Tudo bem sim e com você Gabi?

- Nossa, há muito tempo que ninguém me chama de Gabi, ela deixou a voz embargar.

- Para mim, você vai ser sempre a Gabi.

Então ela começou a chorar.

- Meus Deus, o que houve?

- Nada não. É que estou passando por uns momentos difíceis ainda. Me desculpe.

- Imagina Gabi. O que eu puder ajudar...

- É que perdi meu namorado em um acidente e ele só me chamava de Gabi.

- Entendo. Como essa vida voa, né? Eu nem sabia que você estava namorando.

- Nem poderia, mas já faz muito tempo.

- Desculpe, eu não sabia mesmo.

- Eu é que peço desculpa. Não devia falar disso aqui e agora. Deixei me levar pela sua paciência.

- Não se preocupe. E olha que nem atendo número desconhecido. Mas esse escapou.

- Ah sim, ele é desconhecido de forma proposital: para não ligarem de volta.

Não entendi, mas respeitei.

- E seus pais estão bem?

- Meus pais morreram no acidente com meu namorado. Por isso, fico triste assim.

- Como assim, morreram? Eu não soube de nada. E como você está? Puxa, onde você está Gabi? Eu não sabia de nada. Juro.

- Não se preocupe: já faz tempo. Estou me acostumando. Mas não é fácil não.

- Nossa, como eu não fiquei sabendo disso...

- Saiu no jornal, mas acho que não chamaria atenção: foi uma notinha curta.

- Como não chamaria? E outra: eu tinha de saber. Não me contam mais nada, viu?

- Obrigada por seu carinho, obrigada mesmo.

- Claro Gabi, eu nunca seria insensível assim.

- Fiquei emocionada agora.

- Olha, o que eu puder fazer, você conte comigo. Pode falar que eu faço. Está ouvindo?

Ela chorava tanto que não conseguia falar.

Que triste para minha sobrinha.

Estava comovida com o meu carinho, mas eu é que fui um tremendo insensível.

Como posso nem ter me dado conta disso tudo? Não saber de nada. Coitada.

Fiquei batendo o telefone na cabeça.

- Senhor Edemilson, o senhor está aí?

- Sim, estou Gabi.

- Desculpe o meu destempero. Não vai mais acontecer. O senhor quer fazer um empréstimo? Estamos com taxas boas hoje.

- Empréstimo? Como assim?

- Eu sou Gabriela do banco Itaú...

- Espera, espera. Você é quem?

- Gabriela, do banco Itaú...

- Eita.

- O que aconteceu?

- Nada não, nada não.

 

 

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Imagem da Galeria Uma ligação telefônica inesperada e cheia de notícias ruins
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