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Ideia fixa
Data de Publicação: 10 de agosto de 2021 21:49:00 PESADELO - Quando uma coisa fica na cabeça e não conseguimos nos livrar dela, tudo pode ser mais difícil e criar certos embaraços, até graves.
O que uma simples sugestão de uma mulher é capaz de fazer com um homem é inimaginável.
A mulher acordara com o desejo de ganhar um anel de prata com pedras de esmeralda como detalhe especial.
- Por que eu daria isso a você?, ele tentou fazê-la cair na real.
O anel custava R$ 539,00, uma fortuna para quem ganhava R$ 1,5 mil por mês.
- Ora, porque estamos próximos do Dia dos Namorados. Você não é o meu amor? Eu não faço tudo por você? Nós não estamos juntos há três anos? É isso.
- Mas, Verinha, eu não tenho esse dinheiro nem virando de cabeça para baixo.
- Como não tem, Ernane? Você esqueceu que se pode comprar a prazo? Na hora do bem-bom você sempre diz: ‘Peça o que quiser. Eu dou o mundo a você. Agora se faz de manco para não ir à guerra’.
- Não é isso, meu amor. Naquelas horas, a gente diz muita besteira. É uma privação de sentidos. Você não pode levar ao pé da letra.
- Você quer é estragar o meu domingo. Nem bem acordei, já estou levando susto. Noite passada, você me pediu para fazer aquilo, lembra? Você sabe que eu não gosto. Lembra do que você me disse?
- Verinha, eu já falei...
Ela cortou a justificativa do marido.
- Tudo bem. Você é um duro mesmo. Eu devia é procurar um marido rico.
- Ei, do que você está falando?
O receio de Ernane era com o vizinho novo. Adalberto Madeira, um bancário bem-posicionado economicamente, era um solteirão, mas não estava encruado, como se diz. Pelo contrário: era mulherengo de mão cheia. Ernane notara dias antes que Verinha já tinha entrado na sua alça de mira.
- Estou falando de alguém que possa me dar do bom e do melhor. De alguém que não seja mão de vaca como você, Ernane.
- Mas Verinha...
- Chega! Não quero ouvir mais nada. Fique aí dormindo em cima do seu dinheiro. Vou à feira. Preciso fazer umas compras para a casa. Isso eu posso, não é?
Ela atirou um travesseiro no marido antes de fechar a porta do quarto atrás de si.
Saiu com vestido curto, vermelho, justo, marcando as suas formas. Aquela imagem ficara na cabeça. Era a última imagem dela.
Os olhos de Ernane se fecharam.
Estava cansado. Tomava dois ônibus por dia para trabalhar a semana inteira. Não pensaria mais naquilo não.
Verinha iria se acalmar.
Quando acordou, sentiu uma forte dor de cabeça. Passou as mãos pela testa para aplacá-la de alguma forma. Então percebeu duas pontas pequenas de chifres.
- Que coisa!
Levantou-se de um salto.
Foi ao espelho.
Eles estavam lá.
Eram pequeninos ainda, mas estavam lá.
O desespero tomou conta dele. O que faria? Sempre ouvira falar daquilo em tom de brincadeira. Não poderia ser verdade. Só que era. Bastava olhar no espelho. E ele olhava sem parar desde que percebera.
Isto significava que Verinha o traíra.
Sim, ela deveria ter feito alguma coisa.
Começou a ver a cena na sua cabeça.
O vizinho bancário lavava o carro quando ela passara para ir à feira. Ele deixara a mangueira cair, esborrifando água nela. Depois pediu desculpas. Aí Adalberto a teria convidado a se enxugar na sua casa.
Pronto.
Ernane se corroía de ciúme.
Voltou ao espelho novamente.
- Nossa!
Os chifres haviam crescido mais. Talvez ela estivesse lá ainda. Por isto, o crescimento. Talvez estivessem na cama.
- Não!, ele gritou desesperado.
Foi até a janela tentando ver alguma coisa.
Em vão.
A casa do bancário era fechada demais.
Outra vez no espelho, os chifres agora faziam curva como se ele fosse um bode.
O homem fechou os olhos tentando apagar aquela imagem que o horrorizava.
Então começou a ver o bancário dando à mulher um anel depois de tudo.
Estava consumada a traição.
Sua imaginação não parava.
O anel era como o que ela pedira.
O de Adalberto era todo prateado e carregado de pedras verdes.
- Desgraçada!, ele gritou com raiva.
O ódio o consumia como fogo em palha seca e ele não conseguia mais dominá-lo.
Sua respiração estava sufocando-o. Quanto mais puxava o ar, menos ar conseguia. Estava se sentindo enforcado.
Ernane decidiu matar os dois.
Pegou a arma que guardava no criado-mudo sem nem pensar duas vezes.
Foi à casa do vizinho e atirou.
Uma fumaça enorme surgiu.
Então ele sentiu os olhos embaçarem.
- Nossa!
Será que ele é quem fora acertado?
Começou a procurar o buraco da bala. Chegou a ver o sangue escorrendo. O desgraçado deveria ter atirado antes.
Agora iria morrer sem ter se vingado.
Que vergonha.
Seu pai nunca iria perdoá-lo por ser tão fraco na hora de lavar a sua honra.
- Ernane, acorda. Acorda, seu vagabundo. Olha só, ele ouviu uma voz conhecida.
Ernane despertou na cama no susto.
Pensou em princípio que estava no hospital. Olhou primeiro onde teria o buraco da bala. Não havia nada. Passou a mão pela cabeça. Não havia chifres. Quando olhou para a voz que o acordara, viu a mulher.
Para sua surpresa, ela mostrava um anel prateado no dedo toda orgulhosa.
Estavam no quarto do casal.
- Tire isso daqui. Não quero ver você com isso. Tire. Por favor, tire esse anel, gritou como se estivesse vendo o diabo.
- Mas por que Ernane?
- Tire Verinha. Olhe, eu compro o anel que você queria. Eu juro que compro.
Verinha pulou de alegria:
- Eba!. É verdade? Você compra?
Ele só balançou a cabeça concordando.
Então Verinha não viu mais razão para contar que encontrara aquele anel em uma loja de quinquilharias e por um preço bem mais barato ao voltar da feira.
Informação complementar
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