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Fique atento à verdade dos candidatos
Data de Publicação: 11 de setembro de 2020 10:35:00 Antes de chegar ao cargo, eles defendem o indefensável, mas depois só pensam e agem em benefício próprio e de apaniguados.
SEM TEMPO? ENTÃO VEJA O RESUMO
Candidatos defendem o que o eleitor deseja antes da eleição. Depois mudam de ideia, mudam de interesses e atuam em função de si e de seus apaniguados e parentes. O eleitor tem como mudar isso: com o voto.
No dia 27 de setembro será dada a largada para a corrida eleitoral deste ano com a análise dos registros de candidaturas. Este será o primeiro crivo que os pré-candidatos a se tornarem prefeitos e vereadores em todo o país terão de passar. Mas o principal de todos os testes é a avaliação que o eleitor fará de cada um a fim de poder definir qual será a sua escolha.
É fundamental que essa verificação leve em conta o grau de verdade que cada candidato passa. Todos sabem que políticos mentem, mas ninguém quer ser enganado. Ou quer? Há uma questão muito séria nisto: ser enganado significa perder oportunidades. Isto porque os políticos que mentem beneficiam os seus protegidos e os seus parentes e não a população.
Observem o episódio do último final de semana, quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) veio a público, por meio de um artigo publicado pelo jornal O Estado de São Paulo, para dizer que está arrependido de ter trabalhado pela sua reeleição e por ter aceitado que ela existisse: “Devo reconhecer que historicamente foi um erro”, disse ele agora 23 anos depois.
Ora, o erro a que ele se refere não foi um errinho de digitação. Estão coladas na sua biografia as negociações para que ele conseguisse se reeleger. A Folha de São Paulo divulgou à época uma fita em que deputados falavam do acerto. Tudo foi orquestrado por Sérgio Motta, o Serjão que ele conheceu em 1975 e que tratorou tudo o que pode para garantir a reeleição.
FHC diz agora que o melhor teria sido pleitear cinco anos em vez de uma reeleição e que se baseou no que ocorre nos Estados Unidos para defender a tese. Mas em que os Estados Unidos são parecidos com o Brasil? Comparar coisas diferentes é a melhor maneira de dizer que não há argumentos de defesa. Em um trecho lança mão de que tudo foi feito para evitar Lula e Lula esteve lá.
A verdade é que nenhum político defende o que não é bom para ele, ao menos quando está no cargo. Antes de chegar a ele são todos amicíssimos do eleitor. Vejam o caso do atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em campanha era contra a reeleição. “O presidente, o prefeito, se endivida. Dá apoio a quem não devia. Não é boa a reeleição”, disse. E agora está em campanha.
Não só está em campanha como já tem um projeto de poder para ficar até 2026, ou seja, ele não está pensando na eleição de daqui a dois anos, mas na de daqui a quatro anos já. E por que essa sede de se perpetuar no poder? Porque os dividendos políticos, econômicos e de ego são enormes. E o são para o ocupante do cargo e para todos os seus apaniguados e parentes.
Alguns eleitores dirão que é normal o presidente ou o prefeito quererem ficar no poder e que isto não os afeta diretamente em nada, mas estes se enganam redondamente. Junto com o presidente, governador ou o prefeito que busca a reeleição vão recursos públicos que poderiam estar servindo ao cidadão e vão outros políticos e ocupantes de cargos, que também querem ficar.
Tomem como exemplo disso que os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que já se mostraram ao novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, empossado nesta quinta-feira (10), que pretendem garantir as suas reeleições, hoje vetadas pela Constituição Federal, e querem que o STF mude as regras.
Mudar o instituto da reeleição agora exige um esforço muito grande. Há até deputados bolsonaristas que defendem uma reforma política, mas só pensam em algo a partir de 2022, quando acreditam já terem reeleito o presidente. O adiamento das discussões é proposital, afinal a reeleição não afeta só a Presidência da República, mas ainda governadores e prefeitos.
O assunto é tão delicado para Bolsonaro que ele já mudou inclusive a sua tese sobre as eleições deste ano. Antes dizia que não apoiaria nem faria campanha para nenhum prefeito. As eleições deste ano elegerão prefeitos e vereadores apenas. Mas agora fez uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para saber se poderia participar da campanha deste ano.
A intenção é clara: na eleição deste ano, o presidente terá o seu primeiro teste de popularidade e de importância política. Uma coisa é ser a escolha de uma parcela que não queria o PT ou que havia ficado pelo caminho com os outros candidatos. Outra é ser uma liderança que muda comportamentos políticos e se torna o protagonista da sua própria história. É isto o que ele quer.
Suas ações hoje não são outra, senão pensar na reeleição. Então qualquer vitória nesse caminho é comemorada. Com sua bancada evangélica forte, unida e galgando benefícios, ele anulou o Congresso. O Judiciário pouco se mete com ele. E a oposição morreu. Hoje quem pauta a agenda política é o presidente. Não há nada que o atrapalhe para chegar aos seus objetivos.
Bolsonaristas estão rindo à toa e os petistas lamentam a sua desgraça, mas isto não é um jogo entre Palmeiras e Corinthians. Há muita coisa a ser levada em conta pelo eleitor desde esta eleição já. Um exemplo? O Congresso acaba de perdoar R$ bilhão de dívidas tributárias das igrejas. O presidente deve vetar nesta sexta (11), mas só para não incorrer em crime de responsabilidade.
O veto será derrubado e o benefício atenderá as igrejas sem mais dores de cabeça. Essas dívidas são fruto de fiscalizações que a Receita Federal fez sobre a arrecadação das igrejas, sobretudo as evangélicas, que já têm juntas mais templos que a católica e mais força também. Entraram aí os salários pagos aos pastores, além de questões previdenciárias e a contribuição sobre o lucro líquido.
Se os leitores passarem por uma fiscalização da Receita e forem obrigados a pagar milhões à Receita, vão fazê-lo ou responderão por isso. Mas as igrejas não. Sob o manto de prestarem serviços assistenciais que o governo não faz, elas se resguardam. E não é porque são convincentes. É porque elegeram representantes para o Congresso. O eleitor não tem esses representantes.
Só para se ter uma ideia, o perdão ocorreu a partir de uma manobra do deputado David Soares, filho do RR Soares, líder da Igreja da Graça de Deus. Ele fez uma emenda a um projeto que discutia precatórios. Vejam, precatórios são dívidas que a União perde na Justiça e tem de pagar. A ideia era usar parte desse dinheiro para o combate à Covid-19 e não para os precatórios.
A emenda do perdão passou com 345 votos. Só para se ter uma ideia, uma emenda à Constituição, que é super difícil de passar, precisa de 308 votos. Ou seja, se essa bancada evangélica quiser mudar a Constituição, mudará. A bancada tem hoje 195 dos 513 deputados e 8 dos 81 senadores. E o presidente ainda vai nomear um ministro para o STF “terrivelmente evangélico”, como ele diz.
Além disso, o governo já tem três ministros pastores: Damares Alves (Mulher, da Família e dos Direitos Humanos), Milton Ribeiro (Educação) e André Mendonça (Justiça e Segurança Pública) e recebe frequentemente pastores no seu gabinete para discutir benefícios às igrejas. Uma pauta agora é a isenção não só de impostos, como já prevê a Constituição, mas de tudo.
Por isso, os cidadãos têm um poder incomensurável para mudar essa situação e este poder está no seu voto. Descubra a verdade do seu candidato. Uma vez em Salto, onde vivo, um jovem ligado à igreja, se elegeu vereador. Ao comentar a sua felicidade com um amigo, ele disse: “Agora sim, vou poder arrumar a minha moto”. Vejam, ele era só um vereador, imaginem um presidente.
FIQUE SABENDO
De segunda a sexta-feira tem um artigo novo neste espaço sobre política, economia ou negócios.
Veja neste link uma poesia a respeito dessas mudanças dos políticos: https://eloydeoliveira.com.br/o-politico-poesias.
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