Escreva melhor limpando o seu texto

12 de maio de 2021

Escreva melhor limpando o seu texto

Data de Publicação: 12 de maio de 2021 21:30:00 PAPO COM O ESCRITOR - Tire os excessos, que são palavras mal colocadas na frase e que dificultam o entendimento e afastam o leitor.

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A depuração ocorre com a retirada de palavras desnecessárias, que só dificultam a compreensão da mensagem.

 

 

Escritores em início de carreira sempre estão de cabeça quente com o texto.

A preocupação é de toda ordem.

Mas uma que sempre está presente e que vai atormentar todos os escritores para o resto da vida é a qualidade do conteúdo.

Sem qualidade, nenhum leitor se interessará e o leitor é a nossa razão principal.

Precisamos de alguém que leia o que escrevemos e de que goste também. Para isto, exige-se a qualidade acima de tudo.

Neste sentido, uma lição que aprendi cedo é a de que o texto já melhora muito se você o limpar dos excessos e estes compreendem uma vasta lista, já que são de ordens variadas.

Um exemplo são os verbos declaratórios.

Quando se produz diálogos -e eles estão presentes de forma intensa no texto literário-, é necessário ficar atento a esses verbos.

Antigamente, se fazia diálogos assim:

- Joaquim, preciso te informar que sua mulher o está traindo com o dono do empório, anunciou o feitor da fazenda de cana abraçando o pobre homem, que se enchia de ódio.

- Pois é isto então?, questionou o lavrador Joaquim, ainda incrédulo com a informação.

- É sim. Eu não queria ser o portador dessa notícia. Mas sou obrigado por ser seu amigo, insistiu o feitor, querendo se mostrar amigo.

- Não, você está certo. Eu tinha de saber. Mas essa Jurema vai se ver comigo, gritou Joaquim.

- Não faça nada do que possa se arrepender, tentou acalmá-lo o feitor.

- Eu vou fazer o que qualquer homem faria: vou lavar a minha honra com sangue, declarou o lavrador como se segurasse uma faca.

Veja como os verbos declaratórios e as informações complementares tornaram o texto mais pesado, difícil de ler.

Se limpá-lo deles, ficaria assim:

- Joaquim, preciso te informar que sua mulher o está traindo com o dono do empório, anunciou o feitor da fazenda de cana abraçando o pobre homem, que se enchia de ódio.

- Pois é isto então?, questionou o lavrador ainda incrédulo com a informação.

- É sim. Eu não queria ser o portador dessa notícia. Mas sou obrigado por ser seu amigo.

- Não, você está certo. Eu tinha de saber. Mas essa Jurema vai se ver comigo, gritou.

- Não faça nada do que possa se arrepender.

- Eu vou fazer o que qualquer homem faria: vou lavar a minha honra com sangue.

Observe que o número de palavras não foi reduzido substancialmente, mas o entendimento ficou mais claro e direto.

Os verbos declaratórios e os complementos sobre a ambientação tornam o texto pesado.

Você pode dar o clima sem fazer a ambientação em cada frase.

Basta que diga ao final desse diálogo, por exemplo, que o lavrador saiu marchando decidido a pôr fim à vida da mulher sem nem lhe dar a chance de se explicar.

E mataria também o dono do empório.

Não se importava com o destino que sua vida tomasse depois, afinal não podia ficar com aquela mancha que o denegria para os demais.

Dessa forma ou com algo assim, o escritor mostra a situação sem interromper o diálogo.

Outra dica é com relação aos adjetivos.

Essas palavras dão qualidades aos substantivos. Por exemplo: gordo, alto, triste, lixo, raso, feio, claro e por aí vai.

O uso excessivo dela acaba por fazer o leitor achar que o escritor não tem história.

Os adjetivos ajudam a aumentar o texto, mas não dizem muito para o leitor.

Veja o exemplo:

O poderoso e gordo dono da fábrica execrava os subordinados, que se sentiam demasiadamente fracos como classe subalterna. Os empregados famélicos e pobres, dependentes do patrão, se juntavam macambúzios para se lamentar enquanto tomavam o café, mas ninguém reagia.

Esse texto disse alguma coisa, mas não deu ao leitor a oportunidade ver o que acontecia.

Era muito melhor descrever a forma como o dono da fábrica agia contando os seus gestos e as suas palavras e ao mesmo revelar como essas atitudes impactavam nos rostos e na forma de se portarem os empregados.

Adjetivos contam ao leitor o que ele deve perceber e intuir por sua conta.

Escrever e ler são atividades que devem ser lúdicas, capazes de envolver escritor e leitor.

Quando se lê sem os adjetivos, é possível ter um ou outro entendimento conforme a sua história de vida e a sua experiência.

Essa interação é o que conecta o leitor.

Limpe do seu texto os adjetivos.

Outra palavrinha perigosa são os advérbios, que são as palavras que modificam os substantivos, os verbos e os adjetivos.

Exemplo: felizmente, depressa, depois, quase, ali, não, muito, realmente e rapidamente.

Essas palavras dificultam a leitura e o entendimento. É como se fosse uma lombada no trânsito. Não tem fluidez.

Para escrever melhor, limpe tudo isto e já vai ter uma apresentação muito objetiva ao texto.

O que o escritor precisa não é escrever longas e complicadas frases, mas expressar a sua ideia. Isto se faz com frases curtas, pouquíssimos adjetivos e advérbios e com poucos verbos declaratórios, para dizer o mínimo.

Pense nisso e revise seus textos.

 

 

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Imagem da Galeria O escritor precisa trabalhar o seu texto à exaustão para torná-lo melhor
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