Em nome da família

15 de abril de 2021

Em nome da família

Data de Publicação: 15 de abril de 2021 19:11:00 COMPORTAMENTO - Uma história na qual os personagens são da mesma origem e têm comportamentos e aparências semelhantes.

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Tudo aconteceu rapidamente entre Tiago e Elis e foi ficando cada vez mais sério, até ser descoberto e explodir.

 

 

Se conheceram no supletivo que faziam juntos no Cemus da Prefeitura, em Salto.

O início do romance fora o mais simples possível. Ele escreveu na borracha que emprestou dela que a achava linda.

Deu sorte.

Naquele dia, Elis estava que era só baixa autoestima e o elogio caiu em boa hora.

Ela apanhara do marido, como já vinha acontecendo havia alguns meses.

Rui se tornara violento depois de descobrir uma traição de Elis com um vizinho.

O traidor se mudou e a mulher pediu perdão, mas a convivência ia ficando cada vez mais dificultada. A cada discussão, o assunto vinha à tona e Rui já não tinha mais paciência para evitar as agressões. Era como se elas fossem uma válvula de escape, uma vingança.

 

Na aproximação daquele rapaz bonito que emprestara a sua borracha, Elis achou que fosse brincadeira apenas o que ele escrevera.

Mesmo assim sorriu.

Na saída, Tiago se aproximou e entregou um pequeno presente: era um chocolate.

Elis adorava chocolate.

Não demorou para que ela aceitasse conversar com ele um pouco depois da aula.

Fascinada pelo carro do rapaz, um Subaru quase zero, dias depois ela aceitou uma carona com a condição de que a apanhasse dois quarteirões distante da escola. Da mesma forma que a deixasse dois quarteirões longe de casa. Temia que alguém os visse juntos.

Encontraram-se outras vezes da mesma forma, sempre às escondidas.

O romance evoluiu rapidamente.

Elis se aproveitava do fato de Rui estar no trabalho para sair com Tiago.

 

Funcionário de um antiquário, Tiago tinha de viajar sempre para participar de feiras, de exposições e se ausentava bastante da cidade, mas conseguia, por conta disso, janelas em alguns dias quando todo mundo trabalhava.

Na primeira vez que viajou, ela insistiu.

- Liga pra mim. Diz aquelas coisas sacanas que gosto de ouvir pra eu ficar sonhando com você. Vou morrer de saudade, Ti.

 - Mas como eu posso ligar? Esqueceu do seu marido?, ele disse com cara de malandro.

- Liga lá na Dynaplast, onde eu trabalho.

- Aí dá. Me passa o número.

- Espera. Tem um problema, disse ela.

- Que problema?

- Eu não posso receber ligação lá.

- Nem que eu minta que é caso de vida ou morte? Nem assim minha delícia?

- Seu bobo, ela exclamou, colocando os dedos nos lábios dele e os deslizando com carinho.

Depois retomou:

- Só se a minha chefe autorizar. Ela é gente fina. Acho que vai topar. A gente sempre troca confidências, sabe?

- Então é só falar com ela. Aliás, eu acho que você trabalha com a cunhada do meu irmão. Ela se chama Luciana. Se não me engano ela trabalha nessa fábrica mesmo.

- É verdade. Somos amigas. Quando começamos, ela falou que você era irmão do cunhado dela. Mas ela não conhece você direito.

-  Então fala com a sua chefe e eu ligo.  

- É, mas se você ligar vai dar na vista. Você é solteiro. Em tese não teria nada para falar comigo. Vai chegar ao meu marido.

- Quanto a isso não se preocupe. Vou usar o nome do meu irmão. Ele é representante comercial e sempre liga para a cunhada, que cuida do estoque lá. Você fala com a Luciana. Combina tudo e eu ligo. Ninguém vai perceber.

Luciana, a cunhada, concordou em colaborar com a armação do casal, já que era amiga de fato de Elis e queria vê-la feliz.

Ela não aceitava as surras que a amiga levava do marido e a aconselhava a sair de casa. O romance fora uma forma de Elis se sentir com um pouco mais de autoestima.

 

Da primeira vez, quando o suposto cunhado ligara para Luciana, ela pediu para Elis atender e falou alto para todos ouvirem.

- Acerta a venda de peças com o meu cunhado. Você já sabe. Lembra que te falei?

Edson, o cunhado de Luciana, fechava negócios para uma firma de São Paulo com empresas como a que a cunhada trabalhava.    

Depois da primeira ligação, várias outras se sucederam. A um tempo, as chamadas se tornaram tão frequentes que a telefonista nem passava mais para Luciana.

Elis atendia.

Sabia que era para ela.

Para todos os efeitos, era uma negociação de venda de peças que estava emperrada.

Um dia, sem saber que Elis falava ao telefone com Tiago, Luciana pegou a extensão. Como irmão, Tiago tinha a voz muito parecida com a do cunhado dela.

Luciana passou então a levantar suspeitas.

- Será que Elis não estava de caso com o seu cunhado? Será que ela não inventara tudo aquilo apenas para disfarçar?

Se fosse isso, era a irmã de Luciana quem estaria sendo prejudicada e aí ela não concordaria com a armação mais.

 

Na primeira oportunidade que teve, Luciana fez perguntas a Elis como quem não queria nada. Quis saber sobre o porte físico, a cor dos olhos, o tipo de cabelo do namorado dela.

Outra vez como irmão, havia muitas semelhanças com o cunhado de Luciana.

Mesmo sem ter certeza, ela contou sobre suas suspeitas à irmã. Nicinha era louca de ciúme do marido desde sempre.

Mas se conteve.

Prometeu à irmã que iria investigar antes.

Indiferente a tudo, Tiago contou a Elis em uma sexta-feira, véspera de uma nova viagem sua, que tinha uma gravação rara do Milton Nascimento, que colocara em um pendrive.

Ela ficou interessadíssima.

O marido também viajaria no sábado. Poderia então ouvir sossegada.

- Mas o pendrive está com o meu irmão.

- Ah, que chato Ti. Eu queria tanto.

- Por que você não pega com ele? Eu ligo avisando. Você sabe onde ele mora, não sabe?

- Será que é uma boa? Como vou chegar lá e dizer que vim buscar um pendrive de um cara solteiro, sendo eu casada?

- Claro que é uma boa. Eu vou falar que você é uma colega de trabalho. Não tem problema.

No sábado, Edson teve de sair para resolver uns assuntos na cidade antes de viajar.

Pouco depois Elis chegou.

Vestia uma minissaia preta.

A mulher de Edson nem esperou ela completar o que viera fazer. Partiu para cima da outra pensando que defendia o próprio casamento. E foram tapas e puxões de cabelo sem parar e gritos que movimentaram a rua.

As duas acabaram presas tal foi a confusão.

 

Quando o marido de Elis foi soltá-la, soube dos motivos da briga.

Foi então tirar satisfações com Edson.

A essa altura Tiago cancelara a viagem por causa da briga e estava na casa do irmão.

Edson também não viajara.

Ele tentou até intervir.

O marido de Elis deu de ombros.

Partiu para cima de Edson, que apanhou sem nem saber o porquê.

O representante comercial ficou com o olho roxo depois dos socos que levou.

Como era conhecido e boa praça com todo mundo na rua, os vizinhos se uniram para linchar o marido de Elis.

Foi o irmão do agredido, o Tiago, quem tirou o marido de Elis da confusão.

Com a desculpa de afastar o agressor para evitar o pior, ele acabou salvando o outro. Se não o fizesse, além de ser linchado, o homem poderia acabar preso também.

A partir disso, se tornaram amigos de frequentar a casa e o marido de Elis não suspeitava de nada sobre o romance de Tiago com a sua mulher. Na verdade, o romance acabou facilitado com as visitas constantes.

Elis queria evitar os encontros na própria casa, mas Tiago achava bem mais excitante.

 

Um dia, o marido de Elis apanhou os dois nus no quarto do casal e deu um tiro em Tiago.

O rapaz foi socorrido e se salvou.

Ainda internado recebeu a visita de Edson.

Ao vê-lo entrar, ele ficou contente.

Mas Edson bateu tanto nele que Tiago teve de ir para a UTI, onde ficou sete dias e morreu.

Fora Edson quem contara ao marido de Elis para que ele desse o flagra no casal.

Agora ele e Rui é que eram amigos.

O marido de Elis novamente perdoara a mulher. Ela dissera a ele que fora Tiago quem a assediara e que a obrigara naquele dia.

Meses depois do acontecido, em um churrasco com Elis e o marido, justamente quando Nicinha foi ao banheiro, Edson percebeu que Elis o olhava com interesse.

E tudo recomeçou.

Afinal, como irmão, Edson era muito parecido com Tiago e Tiago não existia mais.

 

 

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