O problema afeta alguns escritores que não conseguem manter a mesma energia, foco, atração e sedução do início.

No meu trabalho como consultor literário, tenho me defrontado algumas vezes com escritores que perdem a coerência de conteúdo nos seus textos de escrita criativa.

Infelizmente, há quem apresente uma queda de qualidade durante a escrita, ou seja, a história começa muito bem, apresenta boas ideias, mas ao longo do texto se torna cansativa, ou por enrolar demais, ou por simplificar demais, deixando a produção final confusa e desinteressante para o leitor.

A coerência é fundamental.

Não fale de detalhes que não somam para a história, nem inclua personagens que não atuam diretamente para a trama.

Às vezes é melhor enxugar para manter o ritmo, a coerência e a atração.

Quando a novelista Janete Clair começava na Globo, foi escalada para consertar uma novela que havia perdido a coerência no meio do caminho e cujo autor tinha criado personagens demais, encarecendo a produção.

Sem ter muito o que fazer com a história, a especialista em novelas e uma das melhores de todos os tempos, na minha opinião, resolveu criar um terremoto e matar os personagens sem função que só enroscavam a trama.

Resultado: a história tinha perdido tanta coerência que ela acabou matando o personagem principal no meio da turma.

Ou seja, para consertar, Janete Clair teve de criar uma nova história, fazer de novo.

Nenhum leitor vai até o final se perceber que o texto foi perdendo qualidade ao longo do caminho e sem ter a certeza de que chegará a um final eletrizante ou ao menos intenso.

A escrita criativa precisa ser uma evolução.

O escritor deve começar com frases de impacto para atrair a atenção, depois deve desenvolver o conteúdo de forma que ele vá crescendo em tensão, emoção e mistério. E terminar com algo marcante.

Uma dica para não perder a coerência durante a execução, é estipular o que quer passar com o texto que escreve.

Ao fazer isto, o escritor terá um mapeamento de tudo o que terá de produzir.

Dessa forma, poderá ver em que ponto a história perde coerência ou tensão e corrigir.

Trace um cronograma do que vai transmitir, incluindo todos os passos.

Desde o início até o final, passando pelo meio.

Toda história precisa ter um começo, um meio e um fim. Essa é a primeira coerência que se pede. O início, como disse, precisa ser matador para prender o leitor. O desenvolvimento ou meio deve ser elétrico e enxuto para garantir a condução do leitor até o final. E o final deve ser o ponto alto, onde tudo se resolve, se explica e se acomoda.

A partir do momento em que você pensar em como finalizar aquele conteúdo, as chances de torná-lo mais harmônico, aumentando significativamente o seu impacto, são muito maiores. Pense que o final é a razão de a história ser contada.

Tudo o que escreveu foi para chegar lá.

Pensar e planejar dá mais consistência à história e mais segurança ao escritor para produzir um conteúdo coerente.

Revise sempre.

Revise muito.

O leitor está cada vez mais exigente.

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