Como fazer a conta fechar na crise

3 de outubro de 2020

Como fazer a conta fechar na crise

Data de Publicação: 3 de outubro de 2020 16:00:00 A experiência de fazer um jornal com várias dificuldades financeiras, em uma cidade pequena, crescer mesmo em meio à crise.

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SEM TEMPO? ENTÃO VEJA O RESUMO

Assumi a direção de um jornal semanal com dificuldades financeiras logo após me formar. Minha missão era fazê-lo crescer e se desenvolver. Usei muito do conhecimento da faculdade e um pouco da vivência prática.

 

 

Meu primeiro grande desafio após me formar jornalista foi encarar a direção de um jornal. Eu tinha apenas 23 anos quando assumi “O Trabalhador”, em Salto, no interior de São Paulo.

Fundado em 1949, no Salão Paroquial da Igreja Matriz de Nossa do Monte Serrat, o jornal só tinha sido dirigido até então por pessoas acima dos 50 anos e todas ligadas à igreja católica.

A escolha do meu nome se deveu a duas situações: eu tinha usado o jornal como objeto de estudo para desenvolver o meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) e ele precisava sair da crise.

Até ali o jornal sobrevivia de anúncios pagos por empresários ligados à igreja, que anunciavam para ajudar e não por acreditar na divulgação que ele pudesse dar aos seus negócios.

No meu TCC, eu e meu grupo de faculdade já havíamos detectado o problema: era necessário ampliar a abrangência do jornal para toda a cidade e não apenas para os católicos.

Mesmo as pessoas ligadas à igreja não eram todas adeptas de “O Trabalhador”, por isso ele enfrentava dificuldades. Saindo desse círculo vicioso, teríamos mais recursos para manter as edições.

Ao assumir, herdei um veículo que produzia apenas 697 exemplares semanais. O jornal de 16 páginas circulava só em duas longas ruas da região central e tinha três empregados.

Para atingir a cidade, fizemos reformulação completa: tiramos os textos inteiros da capa, adotamos tamanhos diferentes em corpo e no tipo dos títulos e fizemos chamadas de primeira página.

Criamos ainda a manchete, que é o título principal da edição. Na linha editorial, encerramos, apesar da resistência, a coluna “Mas seu padre”, produzida pelo vigário da matriz, Mário Negro.

Passamos a fazer reportagens sobre assuntos da cidade em geral e notícias sobre esportes e fatos policiais. Essas duas áreas chamavam muito a atenção dos leitores que conquistávamos.

Por último, passamos a divulgar histórias políticas e histórias humanas, que mostravam para onde a cidade ia e a vida que tinha. Introduzimos a separação em cadernos por assuntos.

Tudo isto trouxe novos leitores, projetou o nome do jornal para o resto da cidade e rendeu anúncios de empresários que acreditavam realmente que o jornal poderia divulgá-los.

Mas ainda assim não afastou a crise financeira por inteiro. Junto com as mudanças, tivemos de investir e surgiram novos problemas, como máquinas que quebravam e greves de funcionários.

A saída que encontrei e que trago aqui como case foi duplicar a edição. Tínhamos a essa altura um jornal de 20 páginas que saía aos sábados e pouco mais de 1,5 mil exemplares.

Fui questionado quando trouxe a ideia sobre os novos custos que teríamos com a nova edição. Se investíssemos em uma nova edição, não teríamos dinheiro para bancá-la.

Resolvi fazer o seguinte: dividi a edição de sábado em duas. De 20 páginas, passamos a fazer um jornal de 14 nos sábados. Antes era de 16. E nas quartas-feiras lançamos as 6 páginas restantes.

Para sustentar os investimentos na distribuição, os únicos acrescentados a partir dessa proposta, ofereci desconto de 50% a todos os anunciantes dos sábados que anunciassem na quarta.

Como a edição era novidade, ninguém quis ficar de fora e isto me permitiu aumentar em 50% a arrecadação do jornal, o que gerou um caixa para investimento em novos projetos.

A lição que tiro dessa experiência é que sempre haverá uma saída quando pensamos nas alternativas e não no problema que enfrentamos, pois não há nada que não tenha uma solução.

 

 

Fique sabendo

Todos os sábados tem um case novo neste espaço.

Imagem da Galeria Antiga sede do jornal "O Trabalhador", em Salto, que funcionou até 1996
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