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Briga Bolsonaro/Dória ignora a população
Data de Publicação: 23 de outubro de 2020 14:37:00 Um quer apagar o brilho que o outro possa ter com a vacina, que foi transformada em ativo eleitoral para a sucessão presidencial.
SEM TEMPO? ENTÃO VEJA O RESUMO
Presidente voltou a ser o mesmo simplista, populista, autoritário e negacionista de antes e o governador não percebe que mostra os seus interesses pessoais em vez do coletivo para ter uma vacina antes de todos.
A possibilidade de se ter uma vacina em condições de imunizar os brasileiros ainda neste ano deixou duas lideranças expressivas da política nacional em uma queda de braço. Nessa disputa, nem o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nem o governador João Dória (PSDB) se preocuparam com a população.
Enquanto o presidente desautorizou o ministro da Saúde, um dos seus generais, anunciando que não comprará a vacina da China, o governador se irritou, porque já se preparava para ir atrás dos outros governadores para entregar a “sua” vacina de olho nas pesquisas que o colocaram em posição discreta para 2022.
Mas vejam como ambos pensam apenas em si e ignoram a população: o argumento de Bolsonaro para rejeitar a vacina patrocinada por Dória é que ela não passou em todos os testes ainda – e não passou mesmo-, mas não era ele mesmo que defendia uso da cloroquina sem avaliação nenhuma algum tempo?
Além disso, a vacina chinesa está na terceira fase de testes, que deve provar a sua eficácia ou não e a segurança para a sua aplicação, mas o protocolo de intenções de compra de 46 milhões de doses do imunizante, anunciado pelo ministro da Saúde e desmentido por Bolsonaro, é apenas uma sinalização de compra.
Já o argumento de Dória para correr com a vacina é que ela pode salvar inúmeros brasileiros, primeiro de São Paulo e depois do resto do país. É verdade que pode, mas ele não pensou nisso quando liberou a redução do isolamento social há dois meses, transferindo a decisão aos prefeitos que já estavam pressionados.
Poderíamos estar em um estágio bem mais avançado se os passos tivessem respeitado a ciência e não a política. Dória politizou um assunto científico de forma absurda. Ele não pode anunciar datas ainda inexistentes para vacinação e nem determinar obrigatoriedade de vacinação, por exemplo, mas fez.
Com toda essa polêmica, a vacina chinesa só deve estar disponível para uso dos brasileiros a partir de janeiro, já que a Anvisa só analisará o pedido de liberação mais tarde do que deveria. O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Antonio Barra Torres, disse que não sofre pressão política. Será?
A decisão do presidente de cancelar a compra das vacinas fragilizou o ministro Eduardo Pazuello. É como se o presidente dissesse que ele não sabe o que está fazendo como responsável por um ministério tão importante. Nem mesmo Bolsonaro dizendo que Pazuello será mantido no cargo alivia essa tensão.
O Brasil é o terceiro do mundo em número de infectados pelo vírus e segundo com mais mortes pela covid-19 até outubro. Tudo isto é reflexo do fato de ter um presidente que é apontado -e com razão- como um dos piores gestores da crise sanitária no mundo, agravado por governadores populistas como Dória.
É incrível que ainda existam pessoas que achem que ambos estão certos por provocarem essa briga e essa divisão usando a ciência da forma mais inadequada que há. Fatalmente o Brasil terá não uma, mas várias vacinas para imunizar a população, até porque as pesquisas não param por causa dessas lideranças.
O problema será levá-las até a população para que todos os brasileiros possam se proteger. Para isto será necessária uma logística de distribuição que precisará contar necessariamente com uma integração entre o governo federal e o governo dos Estados. É preciso definir critérios e uma comunicação em massa.
Só que Bolsonaro é contra a obrigatoriedade da vacina e até cita lei que lhe daria essa condição. Mas a lei nº 6.259, de 1975, lembrada por ele, é a que criou o Programa Nacional de Imunizações. Ao contrário do que ele diz, ela determina que o Ministério da Saúde é quem define vacinas obrigatórias.
Mais que isto, em fevereiro deste ano, o próprio Bolsonaro assinou a lei 13.979, junto com os então ministros Luiz Henrique Mandetta (Saúde) e Sérgio Moro (Justiça), determinando que poderia obrigar a vacinação em razão da gravidade da doença, o que deixa o Ministério da Saúde mais uma vez responsável.
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