O ingrediente é essencial para prender o leitor, o espectador e o ouvinte na trama. Mas deve ser usado com parcimônia para fazer efeito. Nunca deixe tudo para ser revelado no final.

Como em uma receita de bolo, onde o fermento é fundamental, para escrever uma boa história é necessário ter uma medida imprescindível de suspense. Esse ingrediente é o que faz as tramas ficaram mais saborosas e o que prende o leitor até o final, já que a curiosidade é geral.

Por isso, quando se fala em suspense, não se está tratando apenas daquele dos filmes de terror e de mistério, como o homem andando com a faca atrás da cortina do banheiro em “Psicose” ou o homem que acorda em um hotel, vê a amante morta no banheiro e não sabe se foi ele quem matou ou não, cena intrigante do filme “Contratempo”.

O suspense está presente em todos os tipos de histórias, até nas de amor, onde ele se manifesta na revelação, no final da trama, se o casal de heróis vai ficar junto ou não. Está nas aventuras (o herói vai salvar o mundo?) e nos dramas (que segredo esconde o mocinho que sente tanta dor?).

Na verdade, criar suspense é mexer com o leitor, o espectador ou o ouvinte diretamente. Todos nós temos medo e o medo do personagem acaba passando para quem lê, assiste ou ouve. Essa interação acontece pela semelhança de sentimentos. É aí que os autores conseguem pegar o seu público de vez e conquistá-lo para ver até o fim.

A britânica Agatha Christie, uma mestra do suspense e do mistério, me impactou com um suspense do começo ao fim em “O visitante inesperado”.  Em uma noite chuvosa, o carro atola. O personagem vai pedir ajuda em uma mansão. Lá, encontra uma mulher com a arma na mão e o marido morto. Ele quer protegê-la.

Parece estranho que a autora já entregue de bandeja o assassino na primeira cena, mas, na verdade, ela não é a assassina. Se não é, quem é? Está aí o suspense e ele vai até o final do livro, quando a descoberta do responsável pelo crime é revelada e de forma surpreendente. É de tirar o fôlego e o segredo é um só: o desconhecido.

Todo mistério, suspense, terror se baseiam no medo do desconhecido. Já dizia o escritor especializado em histórias de terror H.P. Lovecraft: “O tipo de medo mais antigo e mais impactante é o medo do desconhecido”. Ninguém é imune a ele. Se desconhece, fica apavorado e é aí que a trama convence.

Para contar uma história de suspense, seja ela um romance, um conto, uma crônica ou qualquer outra forma de abordagem, procure partir de uma narrativa pontual. Saia da imagem vista por um dos personagens e não do conjunto como faria usando um narrador, que tudo sabe e tudo revela ao leitor ávido por informações.

Outro item que merece atenção é o ritmo como se revelam as informações. Pode ser frenético como os pensamentos do narrador ou do personagem principal como fazia Edgar Allan Poe ou pode ser lento ao estilo de Alfred Hitchcock, que usava nos seus filmes silêncios dramáticos para deixar a trama mais densa.

Os cenários são importantes também. Precisa ter mansões velhas, castelos, casas antigas e abandonadas, passagens secretas. Normalmente se usa as noites mais escuras, chuvosas ou com neblina e até chuvas intensas. Tudo isto cria um clima de suspense e terror bem apropriados. Mas não são únicos.

Além de tudo isto, vale aqui uma dica fundamental: nenhum leitor, espectador ou ouvinte vai ficar ligado na história se nada for revelado. Não dá para deixar tudo para o final que nem novela da Globo. Você precisa revelar aos poucos partes do segredo para que quem observe monte o seu próprio quebra-cabeças.

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