Aqueles belos olhos verdes

11 de março de 2021

Aqueles belos olhos verdes

Data de Publicação: 11 de março de 2021 19:09:00 ACONTECE - Tudo se transformou completamente na frente de Silva assim que chegou em Campos do Jordão para terminar as férias.

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Tudo o que Silva queria era relaxar e se dar um tempo para viver o último final de semana de férias. A viagem a Campos do Jordão tinha um significado diferente. Seria sua mudança de vida. Quando aquela linda loira surgiu, ele acreditou nisso.

 

 

Silva acabara de chegar à rodoviária de Campos do Jordão. Descera do ônibus vindo de Campinas com uma pequena mala sobre os ombros.

Estava cansado da viagem.

Não via a hora de chegar à Pousada Alto da Boa Vista, pôr uns chinelões e relaxar.

A ideia agora era descansar o último final de semana de férias para se reenergizar.

 

Quando embarcou, carregava mais coisas.

Ao menos na cabeça.

Queria mudar de vida.

A rotina da agência de publicidade, onde trabalhava, já o esgotara o suficiente.

Havia tempos que não conhecia ninguém interessante. Que não tinha um bom papo daqueles de perder a hora e não se lembrar de onde estava.

Ah como as pessoas de bom papo estavam desaparecendo deste mundo.

Também ele não tinha tempo para nada mais.

O final de semana seria para se dar esse tempo.

                                                                         

João dos Santos Silva vivia agora o dia da véspera do seu 32o aniversário. Não comemoraria com ninguém. Era só a passagem de mais um ano.

Afinal, ao contrário da maioria da sua idade, ele estava só e isto o perturbava muito.

Sobretudo, porque não era uma questão momentânea ou uma decisão sua.

Vinha assim desde que nascera.

Nunca tivera uma namorada.

 

Ele colocava a culpa na sua aparência.

Era um rapaz alto, ridiculamente magro, de nariz tão proeminente que era chamado de Nariga.

Ninguém se interessava por ele.

Estava já até acostumado com isso.

Mas o desdém ou a completa ignorância da sua presença o incomodava demais.

Queria ser agradável.

Esforçava-se até.

Mesmo assim, pouco conseguia.

Sempre lhe disseram que as mulheres não se interessavam tanto pela aparência.

Bastava ser inteligente, simpático e ter papo que tudo se resolvia sem beleza mesmo.

Se era assim, não contaram para as mulheres que ele conhecia, pois se achava inteligente, se esforçava para ser simpático e conversava bem.

O problema era que o nariz estragava tudo.

 

Mas tudo isto acontecera até ele chegar em Campos e desembarcar naquela rodoviária.

De repente, Silva percebeu que era observado.

Ninguém se interessava por ele, mas ela não.

Ela estava olhando para ele.

Cabelos pelos ombros, um sorriso angelical, os olhos verdes graúdos, aquela bela loira olhava fixamente para o rapaz, agora enlouquecido.

Silva ainda não acreditava no que estava acontecendo com ele: uma mulher -e uma mulher linda- o olhava com interesse genuíno.

Ele até se voltou para trás.

Não acreditava que fosse com ele mesmo.

O cansaço da viagem, que lhe tirara os sonhos momentaneamente, havia desaparecido.

Já não sabia o que fazer para não perder aquele olhar, para continuar interessando àquela loira.

Então ele riu aberto.

Mostrou os dentes feliz da vida.

Estava todo desajeitado.

Não tinha experiência com aquela situação.

 

Enquanto olhava para ela e ria tentando impressionar, uma pessoa cruzou a sua frente.

Entrou entre ele e ela de repente.

Ele queria tirar essa pessoa a pontapés de tanta raiva que ficou, mas estava longe para isso.

Ficou impaciente com a situação.

Quando a pessoa saiu da frente alguns segundos depois, ele a viu de novo. Ela agora usava uma bengala que a pessoa lhe trouxera.

A moça era cega.

 

 

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Imagem da Galeria Inteligente, simpático e bom papo, ele só esbarrava no nariz grande demais
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