Ao navegar neste site, você aceita os cookies que usamos para melhorar sua experiência.
Agilidade é fundamental na Comunicação
Data de Publicação: 6 de março de 2021 20:45:00 SURPRESAS - Sem isso muitos problemas se acumulam e passam a gerar outros, que vão, em um tempo muito curto, inviabilizar as ações na área.
Ao longo de todo e qualquer governo, a área responsável pelas informações é sempre alvo de críticas. Em muitos casos leva a culpa sem ter e nem mesmo quando conserta o erro de outros é vista positivamente. Mas é a atividade que sempre me fez feliz.
Eram 19h50 quando cheguei de São Paulo.
Havia tido um dia exaustivo de reuniões no DER e no governo do Estado para resolver um problema da habitação de Sorocaba.
Novos prefeitos herdam velhos problemas, alguns, às vezes, vêm de vários governos.
Quando fui gestor de comunicação na Prefeitura de lá, a nossa equipe enfrentava um desses problemas bem antigos.
Duas gestões antes, criou-se um residencial, que é considerado até hoje um dos maiores do Brasil, com 2.560 apartamentos, o Carandá, mas não se concluiu em nenhum dos dois governos.
Compromisso de campanha do prefeito com quem trabalhava, tivemos de viabilizar a entrega já no início do mandato, enfrentando problemas estruturais da obra, carências do Estado e sabotagem de elementos da gestão anterior.
Um dos entraves era a necessidade de construção de um trevo de acesso na frente dos prédios, erguidos na zona norte da cidade.
Foi para discutir esse assunto que tinha ido a São Paulo no DER e no governo do Estado.
Tudo que queria era pegar minhas coisas na Secretaria de Comunicação e Eventos que eu dirigia e rumar direto para minha casa.
Só que, ao entrar na minha sala, o celular tocou com um jornalista do Cruzeiro do Sul, o principal jornal da cidade.
Carlos Araújo queria saber por que a Prefeitura tinha suspendido o período integral em 33 unidades das 89 creches municipais.
A decisão afetava 13 mil alunos.
Eu não tinha a menor ideia das razões para essa suspensão. A secretária da Educação não havia me comunicado de nada. Tomara a decisão no final do dia e enviara às diretoras três linhas em forma de comunicado.
Esse tipo de situação é muito comum em início de governo. Os secretários ainda não estão totalmente ajustados com as funções. E muitos deles não dão o devido valor à comunicação. Outros sequer se dão conta de que estão em um cargo político.
Qualquer decisão de um secretário municipal tem reflexos diretos na popularidade do prefeito e na aprovação do governo.
A comunicação deve trabalhar junto com todas as outras secretarias e deve coordenar o momento exato de se divulgar as decisões e sobre como fazê-las, tudo isto, claro, em consonância com o prefeito.
Eu sabia que havia um problema sério na educação em relação à falta de auxiliares de educação, cargo dos funcionários que ajudam os professores nas aulas para as creches.
Mas jamais imaginaria que o problema fosse atacado dessa forma com a suspensão do período integral e com um aviso de três linhas.
Como eu acompanhava tudo de perto, participei de uma reunião entre a secretária e o prefeito em janeiro, na qual ela disse que não tinha o que fazer em razão da falta de auxiliares.
Ocorre que a Câmara havia aprovado um projeto na gestão anterior reduzindo a jornada dos auxiliares de educação em duas horas.
A redução aumentou a demanda por funcionários, mas o prefeito anterior não os contratou. A situação vinha sendo contornada com remanejamentos de auxiliares e com a contratação de estagiários de educação.
No novo governo, o problema só apareceria em fevereiro com o retorno das aulas.
Em janeiro funcionava um pool de creches e não se sentia a falta dos auxiliares.
Bom, decisão tomada e anunciada dessa forma atabalhoada, só me restava tentar consertar e a minha primeira decisão foi ser sincero com o repórter:
- Araújo, não estou sabendo dessa decisão. Acabei de chegar de São Paulo. Estava lá resolvendo a questão do Carandá. Vou me inteirar e te retorno. Pode ser?
- Você pode me dar um retorno até 20h?
- 21h e fechamos negócio?
- Ok.
Falei com a secretária e expliquei os problemas que ela tinha criado.
Pedi que não tomasse mais nenhuma decisão assim sem falar comigo. Disse que tínhamos de preparar o terreno antes. Precisamos sempre pensar na imagem do governo, eu disse.
Conversamos por mais de meia hora tentando encontrar uma solução. Até que vislumbrei uma. A secretária sabia dela, mas não a queria por ser da área e não a achar pedagogicamente a mais adequada - e não era mesmo.
A solução de imediato que vislumbrei era estabelecer um prazo para o retorno do período integral. Nesse tempo levaríamos as crianças que ficariam desassistidas a creches próximas.
Não era a melhor solução, mas era uma.
A secretária acabou concordando em razão da repercussão negativa que já se desenrolava.
Marcamos uma coletiva de imprensa para o dia seguinte na sala da secretária.
Vieram jornalistas de todos os veículos.
Era tanta gente que eles não couberam na sala e então tivemos de remanejar a entrevista para o Salão de Vidro, um local de eventos no térreo que era bem mais amplo.
A sala da Educação tinha um espaço de reuniões para umas 15 ou 20 pessoas. O Salão de Vidro comportava umas 75.
Sentei-me ao lado da secretária para as explicações e coordenei as perguntas.
O que eu não esperava era que pais e mães de alunos invadissem o local em busca de informações e eles o fizeram escondidos.
Meu pessoal sabia quem era da imprensa, mas eram tantos que vieram que eles acabaram se confundindo. Eu mesmo não estava ligado nessa possibilidade de invasão. Imaginava que todos que estavam ali eram jornalistas.
Percebi que não eram quando uma mulher perguntou por que o prefeito não se informou sobre a falta de auxiliares antes de assumir.
Era uma pergunta que não podia ter sido feita por uma jornalista. Pedi a um assessor que verificasse de que veículo aquela mulher era.
A resposta me estremeceu: é uma mãe.
- Como uma mãe está aqui? Isto é uma coletiva de imprensa. Para jornalistas, frisei.
- Eu vou checar.
Em seguida fiquei sabendo que boa parte dos presentes eram pais. Os jornalistas estavam até incomodados por não poderem fazer todas as perguntas, já que eram interrompidos a toda hora. Mas, por outro lado, tinham ali a possibilidade de um protesto ruidoso.
Percebi essa possibilidade também.
Avisei a secretária e tive de agir rapidamente.
Interrompi a entrevista e disse que havia percebido que alguns pais, preocupados -e com razão- com a situação trinham entrado na coletiva de imprensa, mas que não era correto.
Não que eles não tivessem direito a informações, mas que agora era o momento dos jornalistas e precisávamos terminar aquela entrevista apenas com os profissionais.
Pedi então que os pais deixassem o local e aguardassem que eu e a secretária falaríamos com eles logo depois da entrevista.
Nem todos atenderam ao pedido, mas silenciaram ao menos enquanto os jornalistas fizeram as perguntas que faltavam.
A ação rápida evitou o confronto.
Explicamos aos pais depois o que seria feito e todos foram embora ainda revoltados na sua maioria, afinal a solução não era a melhor.
No dia seguinte, nova surpresa.
Uma jornalista do Cruzeiro ligou para cada creche que teria vagas para as crianças que ficariam desassistidas e acabou falando com funcionários que não tinham sido orientados e estes negaram a existência das vagas.
A secretária havia informado as diretoras apenas sobre o remanejamento e estas não falaram com todos os funcionários.
Resultado: no dia seguinte, o prefeito bufava com a notícia principal do Cruzeiro mostrando a nossa desorganização e desencontro.
De forma rápida também, liguei para o editor e expliquei o erro, garantindo que as vagas existiam e ele publicou a informação.
Foram mais duas semanas de crise.
Até que encontramos uma saída em conjunto com o prefeito, a secretária de Educação, o secretário de Recursos Humanos e o secretário de Fazenda: a contratação de mais auxiliares de educação do concurso ainda em vigor, além do reforço de estagiários de educação e dos remanejamentos entre as creches.
A crise na educação foi apenas um dos muitos problemas que surgiram já de cara para a Comunicação e isto se manteve sempre.
Essa área é a mais atingida em todas as crises. Se o governo falha, a comunicação é apontada como culpada por não esconder a falha. Se o governo acerta e a publicidade disso não é a melhor, a comunicação falha por não fazer a divulgação que se esperava.
Por trás disso, havia a dificuldade financeira, falta de pessoal e os deslizes dos secretários menos antenados com a importância da comunicação e, sobretudo, as dificuldades criadas pelo prefeito com suas decisões.
Imagino o que passa a Comunicação do governo Bolsonaro com tudo o que ele faz.
Era muito semelhante em Sorocaba.
Em janeiro teve o rompimento da principal adutora que respondia por 80% do abastecimento da cidade e, em uma operação de guerra, o Saae conseguiu retomar o funcionamento seis dias depois.
Ainda em janeiro e fevereiro teve também a crise criada pelo prefeito com o banco do Brasil, quando chamou os fiscais da obra do Carandá de vagabundos e ainda brigou com o ministro das Cidades por causa do atraso na entrega do residencial, o que acabou acontecendo em março sem festa e sem pompa.
Nesse período, eu tive ainda de fazer das tripas coração, pois o prefeito reduziu a minha equipe pela metade por falta de recursos.
Novamente, em uma ação rápida, pesquisei em toda a Prefeitura quantos e quais funcionários concursados tinham formação na área de comunicação, publicidade e relações públicas e que queriam vir para a Secom.
Com o total em mãos, fui a cada um e a cada secretário onde estavam lotados para convidar e pedir autorização para trazer.
Graças a esses funcionários de carreira, montamos uma equipe forte, coesa e eficaz.
Anote isto
Em todos os sábados você encontrará um case novo ou uma dica profissional nova neste espaço.
Seja o primeiro a comentar!
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Envie seu comentário preenchendo os campos abaixo
Nome
|
E-mail
|
Localização
|
|
Comentário
|
|