A primeira vez de Flavinha

6 de maio de 2021

A primeira vez de Flavinha

Data de Publicação: 6 de maio de 2021 19:12:00 NOVIDADES - Começar alguma coisa é sempre uma dificuldade extra em todos os sentidos para todos e ainda mais quando o assunto é sexo.

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Flavinha queria ser como as amigas e para isto precisava perder a virgindade, mas a sua saga mostrou um outro lado.

 

 

Flavinha decidira: perderia a virgindade enfim e seria naquele dia mesmo.

Aos 14 anos, ela já era motivo de gozação das amigas, todas estreadas, como diziam.

O problema é que não tinha namorado.

Nunca tivera.

E ela achava que a primeira vez deveria ser com alguém com quem tivesse algum relacionamento sério e de quem esperasse alguma coisa no dia seguinte.

Não um casamento, mas uma ligação, flores ou até mesmo um bombom.

 Não se via como a Valerinha.

Ela era romântica demais.

Valerinha era o oposto.

Filha de pais separados, a amiga morava com a avó. Tinha uma liberdade impensável. Transar para ela era como tomar o ônibus.

- Às vezes você encontra quem conduz legal. Em outras nem tanto. Mas é sempre uma viagem na qual você se descobre, ela dizia.

Flavinha não conseguia se imaginar assim.

Era tímida demais.

 

Até destoava do grupo.

Se juntara a elas por causa da escola. O sorteio de classes colocara a todas na mesma sala. No começo enfrentou resistência.

As outras a deixavam meio de lado.

Flavinha não se misturava.

Ficou isolada assim por um tempo, embora ouvisse tudo o que as outras falavam.

As semanas foram transcorrendo. Ela considerou que o grupo poderia fazê-la chegar à idade adulta. Queria tudo mais rapidamente.

 

Os assuntos delas eram sempre picantes.

Ana, Marcinha, Cacilda, Valerinha, todas adoravam falar de sexo perto dela.

A garota ficava vermelha a cada aventura.

Mas não desgrudava os ouvidos.

Os olhos, então, cintilavam.

As Pervinhas, como se autoclassificavam, faziam ponto na Praça XV, o point da moçada da cidade naquela Salto de 1978.

Estavam sempre à caça.

- Homem é artigo de luxo, avisava Cacilda.

- É, não pode dar moleza. Senão, você sobra como perua velha, arrematava Ana.

Nenhuma delas queria romance.

O que valia era faturar.

Isto é, contar os homens abatidos.

O grupo fazia apostas entre si.

Flavinha cansara de ver as amigas saírem com um ou outro cara a cada dia.

Ela não.

A garota sempre voltava para casa invariavelmente sozinha.

Mas agora não seria mais assim.

 

Decidira pôr um fim àquela pose de menina inocente de uma vez por todas.

Durante muito tempo esperara o homem certo. O romance. Mas ele não viera.

As amigas tagarelavam todas ao mesmo tempo quando ela contou a novidade falando bem mais baixo como sempre.

Ao ouvirem a revelação, pararam na hora.

Festejaram e a encorajaram.

Passaram então a ajudá-la a encontrar o felizardo e não viam dificuldade para isso.

 

O primeiro a passar fora um loiro alto, olhos verdes, físico de atleta.

Flavinha fora à luta.

Iniciara tímida.

Depois jogara conversa fora.

Finalmente fizera a pergunta fatídica.

- Quer transar comigo?

O rapaz nem respondeu.

Ficou assustado.

Fugiu.

 

Veio outro.

Moreno, magro, porte de executivo.

O ritual fora repetido até a pergunta.

- Quer transar comigo?

Furo n’água.

Mais uma fuga.

 

Marcinha aconselhou.

- Não dá pra ir assim na lata. Tem que fazer o clima primeiro, entendeu? Seja sutil.

Mais três tentativas se seguiram.

Todas frustradas.

Flavinha já se desesperava.

Passou a se achar um lixo.

Ela tinha para si que era o seu jeito.

Ninguém nunca ia gostar dela.

Mas ela não podia desistir.

Se queria romance antes, agora virara uma obcecada pelo oposto. Não iria embora antes de conseguir se livrar daquele estigma.

 

As tentativas se seguiram.

Um insucesso após outro.

Até que apareceu aquele sujeito desengonçado. Magro de dar dó. Nariz adunco. Usava óculos tipo John Lennon.

- Quem não tem cão caça com gato.

Lá foi ela.

Depois de jogar conversa fora por um tempo, Flavinha atacou sem muita fé.

- Quer transar comigo?

Armínio emperrou.

Até o nome não ajudava.

Assim que ouviu a frase, ele ficou estático.

O queixo caiu.

Os olhos estalaram.

- Pronto, mais um perdido, ela concluiu rapidamente sem dar muita importância.

Flavinha se virava para se afastar, ele tocou receoso o braço dela:

- Quero.

- Quer o que, criatura?, ela não se ligara.

- Quero transar com você, ele disse engolindo as palavras pela timidez.

Os olhos da garota brilharam.

Então ela não estava tão mal assim.

Havia alguém que gostava dela afinal.

Sorriu feliz da vida, olhando para cima para agradecer aos céus e olhou para ele.

De repente, passou a ter dúvidas.

 

A garota parou um instante para pensar naquilo tudo que estava fazendo.

- Nossa!

Concluiu finalmente: ela não poderia ser fácil assim. O que ele iria pensar? E os outros?

Recuou.

Conversaram mais um pouco.

Se encontraram no outro dia.

Mais um dia.

 

Ao final de um mês, ela tinha deixado o grupo e começara a namorar o estranho.

Tempos depois se casaram.

Tiveram dois filhos, a quem deram o nome de Armínio Filho e Flavinha Mel.

Os bebês eram estranhos como eles.

Mas ambos se amavam e eram virgens na primeira vez em que transaram.

 

 

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