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A diferença somos nós
Data de Publicação: 24 de dezembro de 2020 19:15:00 ANO NOVO - Dificuldades como a deste ano talvez a maioria de nós nunca experimentou, mas muitos de nós as superaram: é assim a vida.
SEM TEMPO? ENTÃO VEJA O RESUMO
Superar as dificuldades e sorrir. Esta é a meta de todos nós ao longo da vida. Nem sempre conseguimos. Nem sempre saímos inteiros. Muitas vezes choramos as perdas. Mas temos de resistir e tentar sempre.
Quando tinha apenas seis anos, espetei o pé em um prego enferrujado enquanto brincava.
Naquela época o medo era que infeccionasse e desse tétano. Não tinha convênio médico. Meu pé começou a inchar e doía muito.
Minha mãe colocou um preparado com ervas medicinais. Desandou a rezar esperando um milagre. Ela me olhava com carinho, enquanto afagava os meus cabelos para me dar confiança.
- Tudo vai ficar bem.
Eu queria acreditar, mas achava que aquilo era a coisa mais terrível que podia me ocorrer.
No final da tarde daquele dia, armou um tempo de chuva assustador. O céu tinha nuvens pretas e enormes. Não demorou para os primeiros pingos desabarem sobre o chão.
A água varria a rua nervosa.
Parecia uma vassoura gigante.
Nossa casa era feita de barro e bambu.
A chuva estava muito forte.
Ventava demais também.
Meu pai chegou do trabalho inteiro molhado.
Chamou meu irmão mais velho para segurar um lado do telhado enquanto ele foi para o outro lado e os dois garantiram que a cobertura não saísse voando no meio da chuva.
A água entrava por todos os lados.
Eu estava na cozinha e o chão começou a ficar inundado. Meu pai gritou:
- Coloca o menino em cima da mesa.
O menino era eu.
A ideia dele era livrar-me de molhar o pé e acelerar a infecção ou até mesmo o tétano.
A água subiu até perto do tampo da mesa.
Quando vi a casa daquele jeito, achei que essa era a coisa mais terrível que podia me ocorrer.
Mas a chuva passou.
A casa resistiu e eu não fiquei com infecção.
No início de 2020, mais de 50 anos depois do episódio do prego enferrujado, veio a pandemia do novo coronavírus e fui obrigado a ficar isolado em casa, como muita gente.
Comprava a comida pelo telefone.
Entregavam em casa.
Passei a conversar com as pessoas por mensagens e as imagens da vida normal foram se dispersando, desaparecendo devagar.
Minha mãe, mesmo distante, manteve o carinho de dizer que tudo ia dar certo.
Eu tomei todos os cuidados.
Não podia pegar a doença, embora hoje tenha convênio médico, pois o número de leitos disponíveis é zero ou perto disso e eu sou do grupo de risco, já que operei o coração em 2019.
Mas, há pouco mais de quatro semanas, comecei a tossir e a passar mal. Consultei uma médica pelo telefone. Ela pediu um exame de covid para ver se não estava contaminado.
Cinco dias depois descobri que estava com a doença e entrei em pânico. Meu estado piorava a cada dia. E eu temia pelo meu futuro.
Achei que essa então era a coisa mais terrível que podia me ocorrer a essa altura.
Mas a covid passou.
Nem fui internado.
O que quero dizer com tudo isto é que o tempo é o senhor de todas as horas.
Não podemos parar achando que o pior é o que está ocorrendo conosco.
As coisas podem piorar muito sempre.
Só que podem melhorar também.
Ouvindo um pesquisador esses dias, achei muito interessante o que ele disse.
Estamos neste mundo há 300 mil anos.
Não estamos aqui estreando não.
Já reunimos nesse tempo todo muita resistência, muita experiência, muita força.
Então, o que eu desejo para todos em 2021 é que saibamos reconhecer as forças que temos e que não fraquejemos diante das dificuldades.
Sem elas, não seríamos tão fortes hoje.
Nem seríamos tão bons.
Nós temos de ser a melhor versão de nós mesmos todos os dias.
Feliz 2021.
FIQUE SABENDO
Todas as terças e quintas tem uma crônica nova neste espaço.
Em breve lançarei um livro com este texto e outros que estou preparando para contar cenas do cotidiano que vivi ou fiquei sabendo desse período de pandemia por causa do novo coronavírus.
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