A carta da tia

10 de janeiro de 2021

A carta da tia

Data de Publicação: 10 de janeiro de 2021 19:22:00 POLICIAL - Depois de uma história de comportamento na estreia semana passada, hoje um crime, um mistério e muito suspense.

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Que Ciro se surpreende a todo momento com os acontecimentos que se sucedem em sua casa. Um crime precisa ser desvendado, mas há muitos suspeitos e nenhuma certeza. Ele só sabe que ele não matou.

 

 

Ao voltar para casa tarde da noite, Ciro encontra a carta de uma tia que chegara ao final do dia.

Preocupado com o sono leve da mulher, ele evita fazer barulho.

O humor de Mila andava em níveis muito baixos desde que ambos se mudaram para o Jardim Marília, periferia de Salto, havia três meses.

Ciro carrega o envelope para o quarto a fim de ler já deitado. Enquanto atravessa o corredor, ele o abre rasgando a lateral.

Há tempos não tinha notícias de Belinha.

A distância estabelecida pelas desavenças dela com sua mulher haviam se tornado uma barreira para a troca de informações.

Ciro adorava saber das novidades, mas se acostumara também com o isolamento depois de se casar.

A tia Belinha não suportava Mila por achá-la falsa. As duas chegaram a se atracar na rua dias depois do casamento.

 

Ciro se lembrava da briga enquanto seguia para o quarto. Fora um vexame tudo aquilo. Belinha rasgara o vestido de Mila.

Sua mulher havia ficado com um pedaço do traseiro exposto. Ao passo que a tia perdera a peruca. Até então ninguém sabia que ela usava uma.

Muito vaidosa, Belinha se mudara para Itu desde então.

Só aparecia em Salto durante as festas setembrinas e ainda assim de forma muito discreta.

A vida do casal no Marília também não era das melhores.

Fefé, o vizinho do lado, encrencara com Ciro, devido ao protesto de Ciro contra a construção da garagem dele.

O vizinho deixara aberturas de ventilação dando para a casa de Ciro.

Depois da discussão, Fefé tapou os buracos. Mas os dois ainda não se cumprimentam.

Homem de grande força física, Fefé jurou de público que se vingaria um dia.

 

Lentamente, Ciro se acomoda ao lado de Mila. Liga o abajur. Ele tenta esquecer todas aquelas confusões. Quer saber agora o que tia Belinha teria para contar.

Assim que se deite, volta-se para Mila.

Procura ver se não a acordara com sua chegada.

Ao fixar os olhos na mulher nota que o rosto dela está imóvel. Não como o de alguém que estivesse dormindo. Mila não parece respirar.

Há uma palidez absolutamente indisfarçável também. Ciro fica extremamente assustado.

Sacode a mulher para que desperte.

Mas ela permanece imóvel.

Ele ergue suas pálpebras com os dedos.

Os olhos estão revirados.

O rapaz observa os lábios semicerrados.

O corpo da mulher se retesara.

Os sinais são evidentes: Mila morreu.

 

O desespero toma conta de Ciro.

Imediatamente vem à sua mente a discussão que tivera na porta da casa à tarde.

Todo mundo havia visto.

O bate-boca fora porque um amigo do trabalho da mulher passara por lá.

Os dois conversavam animadamente quando Ciro chegou.

Mila se debruçara apoiando os cotovelos na porta do lado do passageiro do carro do rapaz.

Nesta posição, o amigo podia ver sem esforço parte dos seios dela.

Mila usava ainda uma blusa decotada.

O marido ficou irritadíssimo.

Depois da discussão aos altos brados, saiu para esfriar a cabeça.

 

Agora Ciro pensava que poderiam acusá-lo de tê-la matado.

Os dois formavam um casal jovem.

Ele com 22, ela com 21.

As crises de ciúme sempre eram ruidosas.

Fefé certamente seria o primeiro a condená-lo.

Ciro procura sinais de luta ou de algum ferimento que indiquem um assalto.

O corpo está quase intacto.

A morte ocorrera por asfixia.

Só o pescoço de Mila tem marcas de apertões.

Em assaltos, se usa revólver ou faca, ele pensa. Depois, não havia sinais de arrombamento.

Além da discussão, outra coisa o incriminaria: tinha uma amante.

Ela poderia ser descoberta facilmente em situações como essa.

Desde que conhecera Suzy, a telefonista da empresa onde trabalhava como controle de qualidade, não conseguia evitar os encontros extraconjugais.

A mulher, uma ruivinha com pouco mais de um metro de altura, 20 anos, bastava vê-lo para agarrá-lo.

Era fogosa demais.

Não sossegava enquanto não marcavam um encontro.

 

No seu desespero, Ciro vê a tia Belinha como solução. Sempre que precisou dela, aquela parenta esteve a postos.

O afastamento ocorrera apenas por causa de Mila.

O único problema que via nela era a compulsão para a fofoca.

Belinha já o metera em várias enrascadas por isso. Mas ele não tinha saída agora.

Ela deveria ter uma idéia para ele se safar de ser acusado.

Não lhe ocorria nada ali.

Ao procurar o telefone da tia na gaveta do criado-mudo, Ciro encontra uma anotação estranha.

Escrito em papel de embrulho está o recado: “Mila, espero você para jantar. Amadeu”.

Apesar de o bilhete ter sido deixado bem na gaveta do seu criado-mudo, Ciro intui que a mulher também o traía.

Talvez fosse com aquele amigo do trabalho.

Ele tenta se lembrar do nome.

Não tem certeza, mas acha que era Amadeu.

Ciro fica enraivecido com a situação.

 

Enquanto pensa em respostas para suas dúvidas, alguém bate à porta da sala, que fica ao lado do quarto.

O rapaz hesita.

Afinal, ouve a voz da tia.

Só então corre para abrir.

Belinha entra apressada.

Não diz nada. 

Vai direto ao quarto, constata a morte, empalidece.

Ciro a segura antes que caia desmaiada.

A mulher desaba mesmo assim.

O rapaz vai buscar algo para despertá-la, ouve outra batida.

Desta vez tocam a porta com força repetidas vezes.

Ciro imagina que agora seja a polícia.

Alguém já deveria ter dado com a língua nos dentes.

Pensa em fugir pela janela ou pela porta dos fundos.

Depois conclui que seria inútil.

A casa já deveria estar cercada.

Haveria tiroteio.

Ele poderia morrer ou ser ferido.

Se fosse preso, teria uma chance de fugir da cadeia. A tia o ajudaria. A cabeça dele não para.

Ciro abre a porta.

Suzy entra da mesma forma apressada.

Ela repete os passos da tia de Ciro.

Quando dá de encontro com Belinha no quarto, a ruivinha também desmaia.

O rapaz fica mais atônito ainda.

O que faria minha amante em minha casa se não soubesse que minha mulher estaria morta?

 

Ele começa a achar que Suzy possa ter matado Mila.

Se ela veio visitar-me é porque sabia que não seria descoberta. Mas por que minha tia também viera?

Antes que pense em alguma resposta, Belinha acorda.

A tia pergunta se ele leu a sua carta. Ciro fica irritado com a pergunta.

- Como poderia com minha mulher morta sobre a cama?

Belinha insiste para que ele leia.

Depois sai da mesma forma como entrou.

Ciro entende cada vez menos.

Por que minha tia viria à minha casa se estava brigada com Mila?

Talvez soubesse da morte.

Talvez ela fosse a assassina.

Não, não poderia ser.

O rapaz está atordoado com a velocidade dos fatos.

Como Belinha insistira, ele apanha a carta para ler se esquecendo de Suzy.

Neste momento, Suzy acorda.

A amante nem bem se recupera, pede a Ciro que fujam rapidamente daquela casa.

Ele afirma que não pode.

Ela dá de ombros.

Encaminha-se com pressa para a porta, arrastando-o pelo braço.

Quando está próxima, alguém bate novamente.

Agora com toques cadenciados como que demonstrando calma.

Ao abrir, Ciro fica à frente de um homem com vastos bigodes pretos.

- Meu nome é Amadeu, ele diz.

Desta vez é Ciro quem desmaia.

 

Suzy carrega-o com a ajuda do homem para um sofá. Pouco depois, ele acorda onde fora levado, mas não vê ninguém.

O rapaz vai até o quarto.

Mila também não está lá.

Para onde teriam ido todos?, ele se pergunta.

Sem resposta aparente, ele se lembra da carta da tia.

Acha-a no chão.

Quando vai ler, entra a polícia.

 

O delegado Nilo Benette quer um relato completo de tudo o que aconteceu antes da morte de Mila.

Ciro fica surpreso ao saber que o crime havia sido descoberto.

Ele anda de um lado para o outro com a carta na mão.

O rapaz conta nervosamente o que sabe.

Mas antes que termine, entra na sala o vizinho Fefé com o dedo em riste apontando para ele e demonstrando muito nervosismo:

- Foi ele, policial. Foi ele, eu vi tudo. É como lhe contei.

Fefé treme ao falar.

Ciro desiste de tentar explicar.

Tudo o que pensara que aconteceria estava realmente ocorrendo.

De nada adiantaria qualquer tentativa.

O melhor seria entregar-se para ver depois como fugir.

Ele caminha em direção ao delegado estendendo as mãos para ser algemado.

Benette retira as algemas da cinta.

Quando vai colocá-las, vê a carta.

Apanha-a.

Afasta-se.

O policial lê rapidamente o que diz.

Em seguida, vira-se para Fefé colocando as algemas nele.

Ciro não entende nada outra vez.

 

A porta se abre, outros dois policiais entram com Suzy também algemada.

- Pelo amor de Deus, o que está havendo aqui?, pergunta Ciro.

Benette entrega-lhe a carta.

- Descubra você mesmo enquanto vamos colocar esses malandros no camburão.

Os policiais saem com os presos.

Ciro senta-se para ler.

Sua tia o previne na carta que Mila integra uma quadrilha de traficantes de drogas.

Amadeu, o colega de trabalho dela trazia a droga no carro.

Depois ela a revendia.

O mesmo fazia Fefé na companhia de Suzy.

A ruivinha se aproximara dele (Ciro) para desviar sua atenção de Mila.

Enquanto se preocupasse em esconder o romance com ela, Ciro deixaria a mulher agir em paz.

Mas por que ela foi morta então?, ele se pergunta.

Na seqüência da carta, obtém a resposta.

Belinha conta que Suzy tramara a morte de Mila com a ajuda de Fefé.

Ela sentia ciúme da mulher.

Afeiçoara-se a ele (Ciro) com o tempo.

Então inventara para Fefé que Mila estaria ficando com parte da droga para misturar outras substâncias na que revendia.

Desta forma, ganharia mais com o que escondesse.

 

Belinha descobriu o caso porque se tornara amiga de Suzy em um cabeleireiro comum e exatamente por causa das fofocas de que gostava.

Quando Ciro termina de ler, o delegado Benette volta.

- Agora você entendeu?

- Estou começando delegado, começando. Tem coisas que ainda não se encaixam.

- Eu explico: o jantar mencionado no bilhete era a senha para a morte.

Sua mulher iria ao encontro do grupo para morrer.

O problema é que na hora de colocar o recado no criado-mudo, erraram de lado.

Mila não fora.

Então eles vieram para fazer o serviço aqui na sua casa mesmo.

Fefé queria incriminá-lo, mas Suzy pretendia fugir com você.

Fora para isso que ela viera à sua casa depois do crime.

- Por que minha tia não avisou vocês antes?

- Belinha tentou evitar tudo avisando a polícia, mas nós nos atrasamos. Não havia carro disponível, você entende? Aqui em Salto os recursos da polícia são mínimos. Quando ela veio à sua casa, achava que tudo já estivesse resolvido. Ao ver Mila morta, quase teve um ataque. Depois de acordar não falara nada, porque Suzy estava no quarto. Ela não queria ser descoberta sem proteção. Suzy também se assustara ao ver sua tia. Na mesma hora soube que seu plano havia sido descoberto.

- Se eu não tivesse saído, talvez Mila estivesse viva, resigna-se Ciro.

- Talvez, confirma o delegado. Mas, se estivesse, seria presa.

Amadeu foi pego depois.

 

 

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Imagem da Galeria Uma morta e muitas dúvidas: esse é o drama de Ciro
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