À beira da morte

27 de julho de 2021

À beira da morte

Data de Publicação: 27 de julho de 2021 12:37:00 PANDEMIA - O tempo se perde quando nada importa nem ninguém e é essa a situação que algumas pessoas enfrentaram na pandemia.

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A pandemia tirou o ânimo de muita gente e não foram poucos os que se deixaram no sofá.

 

 

O tempo se perdeu na escuridão.

A casa vazia, os móveis quietos, o silêncio cretino que estava em todo lugar.

Entrou como todas as outras vezes e se deitou no sofá com sapatos e tudo.

Vinha da balada, onde bebera muito e agora o que precisava era parar.

Deixar a cabeça enjoar de tanto rodar.

Sempre fora assim.

Quando acordava no dia seguinte, nem se lembrava de como entrara ou sequer de como chegara à casa e se perdera na escuridão.

Não importava, afinal estava em casa.

O seu porto seguro.

Ninguém o incomodava por isso.

Morava só e não era cobrado de nada.

Mas agora era diferente.

Desde quando fora decretado o isolamento social por causa da pandemia, não saíra mais: nem do portão passara.

Estava ali naquele mesmo sofá.

De sapato e tudo não, porque não saíra, mas de pijama e tudo como nunca estivera.

Não sabia mais há quantos dias estava ali.

O que seria dele?

Não conseguia pensar em mais nada.

Tinha de reagir.

Levantou-se e abriu a persiana.

Achou que fosse domingo, pois ninguém passava na rua e o sol era quente e monótono.

Talvez tivessem passado anos, pensou.

Ligou para um amigo:

- André? Que André?, perguntaram.

Era a gota d’água. Ninguém mais se lembrava dele. Ele talvez nem existisse.

Será?

Tomou os pulsos e se certificou de que estava vivo. Então não era verdade.

Começou a procurar remédios em uma gaveta da mesinha da sala.

Tinha muita coisa lá.

Foi tirando tudo e jogando no chão.

Parecia que estava assaltando a própria casa.

De repente, enxergou no meio dos papéis um documento: era sua identidade.

Tomou nas mãos e leu:

José Aparecido dos Santos.

Era isso, ele não o André.

 

 

Informação complementar

Toda terça-feira você encontrará uma crônica nova neste espaço.

Imagem da Galeria Desmaiou no sofá da sala e não sabia mais onde estava nem que horas eram
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