Por que se vota errado no Brasil?

10 de setembro de 2020

Por que se vota errado no Brasil?

Data de Publicação: 10 de setembro de 2020 10:49:00 Não se trata de o brasileiro não saber votar, mas de ser guiado pelas circunstâncias diferentes que o envolvem no Brasil.

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SEM TEMPO? ENTÃO VEJA O RESUMO

Muito se fala que o brasileiro não sabe votar ou que vota errado. Mas o que se faz no Brasil é a mesma coisa que ocorre fora daqui. A diferença de resultados se deve às circunstâncias que cercam a população.

 

 

Quando vemos que um governo legitimamente eleito pelo povo não vai bem, é comum fazermos a pergunta: por que se vota tão errado no Brasil? A dúvida incomoda tanto que já houve quem dissesse que o povo não sabe votar. Na verdade, não se trata nem de votar errado nem de não se saber votar, mas sim de se praticar um voto embasado nas circunstâncias, aliás como acontece em todo lugar.

A diferença do Brasil é que o entorno do cidadão aqui é muito distante do que se vê em outros países do mundo, onde se pratica o mesmo tipo de democracia daqui. Se os parâmetros são diversos, é natural que ocorram resultados também nessa linha. Apesar disso, é bom que se diga que outros países também colocam em cargos importantes lideranças que se reputa facilmente como inadequadas.

Tomem como exemplo de circunstâncias o que está acontecendo agora com a alta repentina de preços de produtos que compõem a cesta básica, como arroz, feijão e leite. Esses itens tiveram alta superior a 20% na média anual, mas elevações extraordinárias pontuais. O pacote de cinco quilos de arroz, por exemplo, subiu de R$ 15,00 no começo da pandemia para até R$ 40,00 agora.

Essa movimentação de preços afeta diretamente quem é mais pobre. Afinal, essas pessoas consomem mais alimentos e gastam mais do seu dinheiro com isso. As dificuldades gritam no bolso rapidamente. Só que o auxílio emergencial e as liberações de fundo de garantia deram a essas pessoas condições inigualáveis para enfrentar a alta dos preços, em que pese ser uma ação temporária apenas.

Não é à toa que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e em franca campanha pela reeleição foi ao nordeste três vezes em menos de um mês. Não só: enviou a Medida Provisória MP 998/2020 ao Congresso, com a qual pretende reduzir o impacto dos reajustes tarifários no norte e nordeste. Também relançou o programa Minha Casa Minha Vida com o nome de Casa Verde e Amarela.

Essas ações fazem com que a população mais pobre do país, que se concentra no norte e nordeste, passe a olhar o governo como salvador da pátria. Só para se ter uma ideia do impacto do auxílio emergencial pago pelo governo, o número de pessoas que ganhavam até meio salário mínimo caiu 28,7% no nordeste e 25,12% no norte. Já no sudeste a queda foi de apenas 9,67% e no sul de 9,32%.

O presidente quer tanto aumentar o teto de gastos para poder empregar mais dinheiro nessa assistência porque sabe que é aí que estão os números necessários para a sua reeleição. Especialistas calculam que após o fim do auxílio emergencial em janeiro de 2021, a renda dos 10% mais pobres caia 77% e dos 30% mais pobres a diminuição será de 44%. Por isso, ele já prepara o Renda Brasil.

O governo precisaria tomar medidas reais e não investir no assistencialismo populista como faz, sobretudo quando pede patriotismo aos supermercadistas, como se eles estivessem aumentando os preços por não gostarem do Brasil ou por estarem traindo o povo brasileiro, a exemplo do que já fez lá atrás o ex-presidente José Sarney quando pediu que a população ajudasse a fiscalizar supermercados.

A única providência anunciada até agora, além das bravatas de cobrar explicações dos supermercadistas, foi propor zerar a tarifa de importação de países de fora do Mercosul, principalmente de arroz, mas também de milho e soja, que virão na esteira da liberação. Hoje o imposto de importação de países de fora do bloco está em 12% para o arroz e de 8% para milho e soja. No bloco já é zero.

É preciso entender que o aumento dos preços de alimentos vem de pelo menos quatro fatores: o auxílio emergencial, a alta do dólar, que orienta os preços internos de produtos exportados e importados: o aumento na compra de alimentos pela China e uma elevação nos preços dos combustíveis. Combinados, esses fatores foram agravados pelo represamento da economia na pandemia.

Com o dólar alto, se torna mais interessante aos produtores locais exportarem e a China está refazendo seus estoques de segurança alimentar depois de ter enfrentado um período de encolhimento da sua economia. Essa demanda jogou os preços nas nuvens. Além disso, a alta dos combustíveis dificulta a logística de distribuição interna. Por fim, o auxílio emergencial aumentou o consumo.

O governo precisa equilibrar as ações com uma política que regule o mercado, aumentando a oferta de produtos que possam substituir aqueles que estão mais altos. Alimentos em geral são de ciclo curto. Portanto, é possível criar substitutos até que os preços baixem. Se insistir nas bravatas e assistencialismo, só conseguirá aumentar a inflação e ampliar o déficit da balança comercial.

 

 

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De segunda a sexta-feira tem um artigo novo neste espaço sobre política, economia ou negócios. 

 

Imagem da Galeria População mais pobre é a que mais sofre com a alta dos preços de alimentos
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