3 dicas para ter ideias e escrever histórias

2 de fevereiro de 2021

3 dicas para ter ideias e escrever histórias

Data de Publicação: 2 de fevereiro de 2021 20:44:00 Não existem tramas escondidas que vão ser um sucesso depois que o escritor as capturar, mas um jeito de ver diferente.

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O escritor precisa olhar tudo o que está ao seu redor. Ver pessoas que conhece, lugares onde visita, memórias de coisas que viveu. As ideias estão nos lugares mais improváveis e estes estão por toda parte.

 

 

A vida de escritor é como a de qualquer outro profissional. Se o encanador, não tiver ferramentas e alguns produtos, como veda rosca e cola, não conseguirá bons resultados.

Quem escreve precisa ter ideias que virem boas histórias.

Sem elas, não sairá da primeira linha e o sonho de publicar um romance morrerá antes mesmo de nascer.

Mas como ter ideias luminosas que atraiam o leitor e o façam seguir por sua trama até o final? Essa pergunta atormenta os novos escritores desde sempre e muitas vezes sem resposta.

O mestre Marcelino Freire, premiado com dois Jabutis, afirma que as ideias estão em todo lugar. O que falta aos novatos é ter olhos para enxergar onde elas estão escondidas.

Para ajudar quem está começando ou mesmo quem já produziu alguma coisa, mas ainda não se sente seguro para seguir nessa jornada de escritor, vou dar três dicas matadoras aqui, que, se praticadas, levarão o leitor a encontrar a mina das ideias.

Será como os velhos garimpeiros encontram o ouro.

A grande dica é procurar nos lugares mais improváveis.

Sim, é lá onde estão as melhores ideias.

Por exemplo, a sua infância.

Procure lembrar fatos pelos quais passou.

Aventuras de criança dão boas histórias. E não só histórias infantis. Você pode pegar uma exploração à casa da sua avó e transformá-la em uma bela história de suspense.

Quer ver?

Minha avó tinha um baú antiquíssimo, onde ela guardava recordações dos tempos de moça e do meu avô, que morreu cedo.

Eu e meus irmãos ficávamos muito intrigados com aquele baú, afinal ele era guardado embaixo da cama dela, uma cama antiga, de guardas altas de ferro e estrutura rangente.

Ah, e ele tinha chave.

Quando visitávamos minha avó, ela não conseguia dar conta de todos nós. À época éramos em quatro meninos e a casa dela era grande. Bastava que nos dividíssemos e ela se perdia.

Tinha o gato, o fogão de lenha, os pés de goiaba e o baú.

Cada um se interessava por uma das coisas.

Eu era o mais absorvido por saber o conteúdo do baú.

Um dia minha avó estava com visitas além de nós e se ocupou de passar um café e servir biscoitos.

Eu deixei o burburinho e me meti no quarto dela para explorar o tal baú. O quarto era escuro. Ela mantinha as cortinas fechadas. A luz era fraquinha. E os móveis também eram de tom escuro.

Ao entrar, me passou um certo receio por conta da escuridão, mas a curiosidade era maior e fui direto ao baú.

Deitei-me no chão para puxá-lo para fora da parte debaixo da cama. A sorte é que usava uma calça com suspensório, o que me protegeu do chão frio. O baú era pesado. Consegui com muito esforço arrastá-lo. Sempre transpirei muito naturalmente. Naquele dia, mais ainda pelo medo de ser pego na travessura.

Com o baú livre, precisava encontrar a chave.

Comecei a procurar por todo lado. Até que encontrei dentro de um porta-joias. Nem acreditava que estava diante do baú misterioso e com a chave na mão prestes a descobrir o segredo.

Abri a fechadura devagar.

Quando comecei a erguer a tampa, a luz apagou.

Ouvi passos vindo em direção ao quarto.

Eu tinha aberto o baú, mas não conseguira ver o que havia dentro e agora não daria mais tempo.

Os passos deviam ser da minha avó.

Se ela me pegasse lá, seria castigo na certa.

Minha avó costumava nos dar castigos doloridos, como ajoelhar no milho e repetir frases afirmando que não faríamos mais até a boca cansar e ficar doendo a língua.

Não queria passar por aquilo.

Escondi-me embaixo da cama e fiquei quietinho.

Ela entrou, acendeu a luz e viu o baú fora do lugar e aberto.

- Ué, o que esse baú está fazendo aqui?

Imediatamente, olhou para todos os lados à procura do intruso.

Sem sucesso.

Quando resolveu finalmente olhar embaixo da cama, a luz apagou de novo e me salvou de ser pego.

Minha avó desistiu da busca.

- Porcaria, preciso trocar essa luz, ela disse.

Em seguida, fechou o baú, trancou-o e o enfiou embaixo da cama de novo me prendendo entre o pé da cama e ele.

Na hora doeram as minhas pernas, mas fiquei mudo.

Ela saiu do quarto e eu fui tentar sair dali.

Só que não consegui: o baú enroscou no estrado da cama.

Eu já suava antes, agora então estava ensopado.

Como ia sair dali? E se dessem pela minha falta? Se procurassem e me encontrassem ali? Como explicar?

Foi quando um rato entrou por dentro da minha calça e começou a subir. Fiquei desesperado, mas não podia gritar. Comecei a me debater como louco. O esforço para me livrar o bicho acabou fazendo com que me soltasse. Finalmente sai debaixo da cama.

Estava todo sujo de pó.

O rosto preto mesmo.

Resolvi deixar o baú para outra hora.

Quando saí do quarto dei de cara com minha avó.

- O que você estava fazendo aí moleque?

- Eu?

- É, você.

- Eu, eu, eu estava caçando o rato.

- Rato? Que rato? Onde está ele?

Minha avó morria de medo de rato.

Aquela informação a distraiu completamente de mim.

Ela começou a olhar em todo lugar para tentar ver onde o tal rato se escondia e já havia se armado de uma vassoura.

De repente, o rato desceu da minha calça e correu sem direção.

Acabou indo na direção dela.

Minha avó pulou em cima de um móvel e começou a dar vassouradas no bicho e ele tentava fugir desesperado.

Mais que eu havia ficado embaixo da cama.

Quando ele veio na minha direção, dei um chute forte como se fosse fazer o gol da seleção de futebol.

O ratinho, filhote ainda, caiu morto a um metro dali.

Ao ver, minha avó me ergueu no colo e fez de mim um herói.

Veja uma simples lembrança de um baú da minha avó me rendeu todas essas linhas acima em uma história.

Eu poderia criar em cima disso muito mais.

Então, lição número um: foque na sua infância. Tem muita ideia lá que dá histórias de todos os tipos.

A segunda dica é a feira livre ou o mercado municipal ou ainda um centro de compras ou de grande visitação.

Esses locais reúnem pessoas de todos os tipos e ideias.

Preste atenção às conversas e aos tipos.

Acha que não dá?

Veja só.

Meus pais e dois de meus irmãos foram feirantes durante muito tempo em Salto e eu ia visitá-los lá depois de passar a morar fora.

Por que lá?

Porque era um lugar rico em personagens e histórias.

Um dia estava na barraca conversando com minha mãe e um homem parou para comprar um pacote de colorau.

Eles eram os únicos que vendiam especiarias na feira à época.

Achei estranho aquele homem.

Ele tinha uma cara de bravo, mas os seus gestos eram delicados.

Perguntei secretamente à minha mãe quem era.

Ela não sabia. Nunca o tinha visto por lá. Achou que fosse de fora.

Ele pagou, colocou o colorau na sacola e foi embora.

Resolvi segui-lo.

Disfarcei como se fosse um investigador.

O homem seguiu até sair da feira e se dirigiu a um carro parado atrás de uma árvore duas ruas para baixo.

Nada demais, pensei.

Ele entrou no carro, colocou a sacola no banco do passageiro e encostou a cabeça para descansar.

Fiquei observando.

De repente, ele tirou uma peruca e soltou os cabelos longos.

- Opa, o que era aquilo?

Fui até onde pudesse ver melhor e aí descobri o que era.

Tratava-se de uma mulher.

Não sei por que se disfarçou de homem, se alguém a estava seguindo, se não podia ser vista ali.

Alguma razão havia e era curioso ter descoberto o disfarce.

Basta olhar para os tipos, ouvir as conversas, soltar a imaginação e lá está uma ideia passeando perto de você na feira.

Normalmente, lugares com muita gente rendem boas ideias.

A terceira e última dica são os jornais.

Eu escrevi um romance “A última noite de Helena” a partir de uma notícia de jornal que me chamou a atenção.

O jornal Cruzeiro do Sul publicou uma nota curta sobre um acidente no qual havia um homem mais velho e uma menor de idade e esta dirigia o veículo, que caiu em uma ribanceira.

O que esse homem era dela não foi esclarecido de pronto.

Porque uma menor dirigia também não.

Mas a notícia ficou na minha cabeça.

Era curioso, diferente, estranho.

Comecei a imaginar razões para aquilo ter ocorrido.

O romance conta a história de uma menina rica que morre em um acidente com um homem que tentava fugir para não morrer.

A razão para eles estarem juntos é uma das chaves da trama.

Pronto, foram quase 300 páginas a partir de uma notícia que não tinha mais que três parágrafos, mas parágrafos intrigantes.

Fundamentalmente, o escritor precisa estar atento a tudo o que acontece ao seu redor, com as pessoas que conhece, nos lugares onde visita, nas memórias de coisas que viveu.

Escrever é percorrer caminhos antigos com objetivos novos.

 

 

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Imagem da Galeria Descobrir ideias que possam virar histórias é se abrir à imaginação
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